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Lima Duarte: a lenda viva da TV brasileira
Por Roberta Brasil
Da TV Press
10/04/2004 | 16:22
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É impossível enumerar as cinco novelas mais importantes da teledramaturgia brasileira sem que nenhuma da lista tenha Lima Duarte nos créditos. Mais do que ator – ele também dirigiu O Direito de Nascer, Beto Rockfeller e O Bofe –, Lima é um homem de televisão. Quando Assis Chateaubriand cortou a fita de inauguração da TV Tupi, em 1950, ele estava lá. Quando foi ao ar, naquele mesmo dia, o primeiro teleteatro, Lima também estava presente. E, em 1951, seu nome figurou nos créditos de Sua Vida Me Pertence, a primeira telenovela da América Latina. “O melhor é que era escrita, dirigida e interpretada por brasileiros. Tinha o primeiro beijo, o primeiro amor, a primeira mocinha. E eu fui o primeiro bandido”, lembra.

Desde então, Lima contabiliza 55 personagens em novelas e minisséries. Muitos deles, como Zeca Diabo, Salviano Lisboa, Sinhozinho Malta e Sassá Mutema, entraram para a galeria de tipos inesquecíveis da teledramaturgia nacional. Em Da Cor do Pecado, novela das sete da Globo, Lima acrescenta mais um tipo a sua vasta coleção. O milionário Afonso Lambertini, que recupera o amor à vida ao conviver com o neto bastardo do filho, supostamente morto. Para o ator, o personagem é único. E, quando a novela acabar, será mais um amigo a lhe fazer companhia. “De vez em quando, eles vêm me dar conselho ou me atazanar o juízo”, conta, aos risos, o ator de 74 anos.

Pergunta – Após 55 novelas, existe algum personagem novo para você?
Lima Duarte – Todos são velhos e, ao mesmo tempo, todos são novos para mim. É engraçado como, de uns anos para cá, tudo que eu faço está associado ao tempo que tenho de trabalho. Mas meus personagens não envelhecem nunca. O Afonso deve ser o décimo personagem igual: um homem poderoso e rejeitado pelo filho. Mas ele é único. Eu nem penso em tentar fazê-lo diferente de outro. Penso em fazê-lo bem feito.

Pergunta – Então, as emoções são a base de um personagem?
Lima – As emoções e a psicologia. Não acredito, por exemplo, num personagem que é gago só porque isso o torna charmosinho, como é tão comum hoje em dia. A gagueira tem de ser um dado da psicologia dele.

Pergunta – A sua história de vida ajuda na composição?
Lima – A bagagem pessoal sempre serve de estofo para o artista. E isso eu tenho de sobra. Quer ouvir uma bela história? Sou de uma família muito pobre. Meu pai era boiadeiro. Um homem muito sábio, que falava pouco, mas acertava sempre. E, dos 6 aos 10 anos, meu único brinquedo era um aviãozinho de madeira. Ele sumia sempre no meio do ano. Então, no Natal, eu ganhava um aviãozinho igual, só que de outra cor. Aí eu brincava e ficava feliz. Durante cinco, seis anos, eu ganhei o mesmo aviãozinho que meu pai consertava, pintava e Papai Noel trazia. E era assim o nosso Natal. Mas não era triste, não! Era lindo, alegre! Aquele avião me levou para infinitos horizontes. Por isso, eu não quis fazer um pai vilão.

Pergunta – Dos seus personagens, você consegue eleger um predileto?
Lima – Gosto demais do Sassá Mutema, de O Salvador da Pátria, mesmo com todos os problemas que a novela enfrentou. A idéia era fazer um personagem que fosse a síntese do povo brasileiro. Mas estávamos em 1989, ano de eleição, e começaram a dizer que o Sassá era o Lula. Então resolveram mudar e a novela se perdeu. O Sassá chegaria à presidência da República, mas terminou senador, corrompido pelo poder. E olha a grande ironia daquela época: ficaram com medo de eleger o Lula e botaram a faixa no Fernando Collor!

Pergunta – Como você analisaria as telenovelas de hoje?
Lima – Estou vendo que o processo de produção de novelas envelheceu. Não pode mais custar tão caro. Não falo em cortar salários, mas em otimizar a produção. Aquele espírito de “vamos fazer, vamos criar” dos primeiros tempos da televisão ficou para trás. Quando fazíamos Sua Vida Me Pertence, nós não tínhamos estúdio. Montávamos um jegue. Mas com ele íamos até a galáxia! Hoje, eu estou montado numa Ferrari e não chego nem a Jacarepaguá.




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