Mesmo após o agravamento da crise no PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou longe dos holofotes e passou o dia de domingo descansando em seu apartamento, no Condomínio Residencial Hill House, em São Bernardo.

Como faz sempre que visita seu apartamento, o presidente manteve-se distante dos repórteres, um dia após a revelação de possível existência de caixa dois no PT, revelada pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Em entrevista no sábado, ao Jornal Nacional da TV Globo, Delúbio confirmou a versão do publicitário Marcos Valério, dizendo que as campanhas do PT e de sua base aliada foram financiadas com "dinheiro não-contabilizado" dos empréstimos. Na prática, isso significa que a Justiça Eleitoral não recebeu informações sobre os recursos.

Durante todo o fim de semana, populares que passaram em frente ao condomínio manifestaram hostilidade contra Lula, estimulada pela enxurrada de denúncias referentes a empréstimos milionários de R$ 40 milhões e ao chamado "mensalão". Motoristas passavam de carro e gritavam "Lula corrupto", "Lula ladrão", "onde está o dinheiro do mensalão?" e "eu confiei, mas agora eu não voto em você". Também houve manifestações de apoio, menos freqüentes.

Pela manhã, a única visita "visível" ao apartamento de Lula foi de Juno Rodrigues Silva, o Gijo, amigo e dono do restaurante que prepara a chuleta preferida do presidente. "Ele (Lula) tinha saído, estava na chácara na hora em que eu fui lá. Eu fui só para levar uns documentos para ele. Entreguei para a segurança", afirmou.

Gijo afirma que os amigos mais próximos de Lula se mobilizam para mostrar que "os verdadeiros fundadores do PT são aqueles que amassaram barro e enfrentaram a polícia". A declaração busca distinguir a "velha guarda" de São Bernardo das "personalidades" expostas à mídia nos últimos dias por causa das denúncias de corrupção. Ele defendeu a expulsão dos nomes que prejudicam governo e o PT, mas evitou citações específicas. "De todos os que estão na lista. Todos os que participaram da falcatrua", afirmou.

Pichadores deixaram mensagem com tom agressivo contra Lula no muro da escola pública em frente ao condomínio. Gijo afirma que a manifestação popular é natural. "Isso acontece. A população confiou nele e ele tem de dar a volta por cima. Tem de ser o líder da nação. Ele tem de dar a volta por cima mesmo, custe o que custar. Como ele mesmo diz, que corte na própria carne."

O ex-metalúrgico afirma que os documentos que foi levar a Lula são pedidos e queixas, contra a falta de investimentos nas escolas, na saúde e contra a paralisação no INSS (Instituto Nacional de Previdência Social). "O governo Lula tem investido em vários setores de São Bernardo e isso não é divulgado."

Agenda - No final da tarde, Lula embarcou para Brasília, onde irá cumprir uma agenda apertada nesta segunda-feira. O presidente terá uma série de audiências com o secretário Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e com o presidente da Câmara, deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE).

Na terça-feira, o presidente volta a São Paulo, onde participará à tarde, em Taubaté, da inauguração da ampliação da fábrica da LG Eletronics e do 50º aniversário da Alstom. À noite, participará da abertura da 37ªFeira Internacional de Calçados, na capital.