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Chinaglia quer evitar debate público sobre PT
Por Sergio Kapustan
Do Diário do Grande ABC
05/06/2005 | 08:09
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Em tom de censura, o líder do presidente Lula na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), critica os 14 deputados federais petistas e o senador Eduardo Suplicy (SP), que assinaram o requerimento da CPI dos Correios no Congresso, contrariando a decisão do partido. "Como o PT é governo, alguns companheiros ainda não perceberam que aquilo que é debate interno, ao vir a público, atrapalha o nosso trabalho", afirma Chinaglia. A CPI foi proposta pela oposição (PFL e PSDB) para investigar um suposto esquema de propina que beneficiaria o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), aliado do presidente. A seguir, os principais trechos da entrevista de Chinaglia concedida ao Diário em que comenta a estratégia do governo para abafar a CPI na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara.

DIÁRIO - Os petistas que assinaram o requerimento da CPI dos Correios serão punidos?
ARLINDO CHIGNALIA - Não procede a informação de expulsão de filiados do partido que assinaram o requerimento da CPI. O assunto não está em discussão no PT. E mais: eu afirmo com absoluta segurança que não existe essa discussão na direção nacional. Para quem não sabe cabe à direção tomar essas decisões punitivas, portanto, não há o que se especular. A informação me surpreende a todo o momento porque não há indícios de que isso possa acontecer.

DIÁRIO - A crise da CPI chegou à base do PT. No ABC, militantes do partido afirmam que são cobrados pelos eleitores. Qual é a sua opinião?
CHIGNALIA - Como militante do PT afirmo que nós temos agora a chance histórica de trabalhar para o desenvolvimento do país. O nível de poder político que o PT alcançou ao eleger o presidente Lula, conseqüência de um trabalho anônimo de milhões de pessoas que lutam por justiça social e contra a corrupção, precisa ser avaliado. Os resultados, em dois anos e meio de governo, estão aparecendo. O governo vai muito bem na área social, na área econômica e na área internacional. Temos muitas coisas para mostrar.

DIÁRIO - A discussão da CPI divide o PT?
CHIGNALIA - A militância e simpatizantes do PT estão preocupados com a discussão da CPI. Por que? A razão é muito simples: o partido sempre defendeu a investigação, mas agora estamos contra. Eu afirmo que a posição do partido não mudou. O PT é favorável à investigação e a punição dos culpados. Mas nós estamos falando contra a CPI porque ela é um instrumento poderoso do Congresso Nacional, mas qual é o maior poder da investigação? É a quebra de sigilo fiscal, telefônico e bancário. A CPI tem o poder de convocar pessoas para depor, mas isso a PF (Polícia Federal) e o MP (Ministério Público) podem fazer. Aliás, o MP pode mais que a CPI. Quando a CPI encerrra os trabalhos ela divulga o relatório e envia os documentos ao MP, que continua a investigação e denuncia os culpados à Justiça. Ou seja, a investigação que a CPI realiza não é concluída.

DIÁRIO - Investigar denúncias de irregularidades na máquina pública não é uma bandeira histórica do PT?
CHIGNALIA - A denúncia é contra servidores dos Correios e nenhum é filiado ao PT (o denunciado é o deputado federal Roberto Jefferson, do PTB do Rio de Janeiro, que se beneficiara de um suposto esquema de propina). Ninguém ousou dizer que as indicações são do PT. Como líder do governo afirmo que nós estamos exigindo a apuração dos fatos. O governo não tem insegurança quanto ao seu papel de governo e muito menos a bancada do PT no Congresso Nacional.

DIÁRIO - O governo não mostra insegurança?
CHIGNALIA - O governo está fazendo a sua parte na investigação dos Correios. Os denunciados foram afastados dos cargos e a Polícia Federal e a Corregedoria Geral da União foram acionadas. Foram abertas investigações e sindicâncias internas. Estão sendo revistos mais 600 contratos e mais de 400 procedimentos administrativos dos Correios.

DIÁRIO - Uma pesquisa nacional mostrou que mais de 80% da população é favorável à CPI. Qual é a sua avaliação?
CHIGNALIA - Eu penso que a população é mais favorável à investigação e não a CPI. O PT está discutindo os mecanismos de investigação e o governo será avaliado ao final das investigações. Se o trabalho da PF foi bom ou não. Vou dar um exemplo. Numa ação conjunta dos ministérios do Meio Ambiente e da Justiça, a PF prendeu, na quinta-feira, várias pessoas (82) e decretou a prisão de outras tantas (127), acusadas de integrar um esquema de desmatamento e extração de madeira no Mato Grosso. Estamos provando que os policiais trabalham em sigilo e com estímulo do governo. Não se deixou pedra sobre pedra. Nós não colocamos freio na polícia,o que é uma segurança para a população. Aos poucos a população serenamente está refletindo sobre os fatos. O que ela quer é investigação e punição e não show.

DIÁRIO - Como o senhor avalia a retirada do nome do senador Eduardo Suplicy na chapa do diretório nacional (a eleição está marcada para 18 de setembro) liderada pelo presidente José Genoino. Não é uma retaliação?
CHIGNALIA - Eu não sou do campo político do senador no PT, mas posso explicar. O PT reúne pessoas de todos os Estados e busca a unidade de pensamento. Alguns, por exemplo, querem entrar na chapa e outros sair. Portanto, a saída de um deputado ou de um senador importante, como é o caso de Eduardo Suplicy, não tem relação com o Congresso Nacional e muito menos com o governo. A questão eleitoral não é assunto de governo. É um assunto do PT. Quem deve explicar o caso é o próprio Suplicy e as lideranças da chapa. É bom lembrar que esse assunto é de uma parte do PT e não do seu conjunto.




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