Política Titulo Entrevista
‘Meu plano é ser o candidato do PSDB', afirma Dib
Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
06/06/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Ex-deputado federal e ex-prefeito de São Bernardo, William Dib afirma que não desistiu de concorrer novamente ao Executivo local e pelo PSDB, legenda que encaminhou a pré-candidatura majoritária do deputado estadual Orlando Morando, desafeto de Dib.

Em entrevista exclusiva ao Diário, Dib garante que vai até as últimas instâncias partidárias para buscar assumir o projeto do tucanato na corrida eleitoral porque, segundo ele, é o único capaz, dentro do PSDB, de fazer oposição ao governo de Luiz Marinho (PT) e ao candidato governista Tarcisio Secoli (PT). “Hoje me sinto responsável pelos destinos da cidade, com a minha participação e experiência, para mostrar caminhos para nossa cidade. Vou até o limite do tempo que me é dado para definir as minhas propostas”, assegura Dib, que terá de enfrentar o diretório municipal e a executiva estadual, que manifestaram que Morando é pré-candidato único da legenda em São Bernardo.

Dib diz ainda que, se não conseguir aval para tentar voltar ao comando da Prefeitura de São Bernardo, o caminho mais plausível é estar ao lado do deputado federal Alex Manente, pré-prefeiturável do PPS. “Ele fala que o Alex que apoiou o PT? O Alex foi adversário, disputou voto, criticou governo, os vereadores do partido dele fazem oposição”, avalia o ex-prefeito, citando a eleição de 2012, quando o popular-socialista disputou a gerência do Paço contra Marinho.

Confira a entrevista completa:

O sr. já definiu seu posicionamento na eleição? No PSDB, a direção municipal e a executiva estadual dizem que não há mais espaço para outra candidatura em São Bernardo e que o deputado estadual Orlando Morando é o único nome.
Estou no PSDB. Acredito no projeto do PSDB em nível estadual, com o governador Geraldo Alckmin, e no federal, no projeto de futura candidatura à Presidência da República daqui a dois anos e meio. O PSDB de São Bernardo passa dos limites em relação à legislação, até porque nunca fui convidado para decidir se serei o candidato. Em conversa há algum tempo com o então presidente estadual do partido (Pedro Tobias), ele disse que deveria me propor a disputar prévias. Precisaria abrir essa discussão se vai abrir prévias (no diretório municipal). Se não, é na convenção que vou decidir.

Caso não consiga aval para ser candidato a prefeito, o sr. apoiaria Morando na eleição?
Estou incomodado porque o atual detentor do diretório é o deputado estadual (Orlando Morando) e não tenho condições mínimas de apoiá-lo. Visto que eu me sinto traído. Se uma pessoa trai quem só o ajudou, imagino o que vai fazer com quem não o ajuda ou ajuda menos do que eu ajudei. A traição leva à desconfiança de que ele não cumprirá o que possa se comprometer de projeto para nossa cidade. A segunda coisa, que achei que iria passar com a idade, é que o intitulado líder do PSDB da nossa cidade e pré-candidato a prefeito continua com arrogância. Isso eu achei que iria passar, mas se aperfeiçoou. A arrogância faz com que as pessoas que reajam assim só pensem nelas. É um defeito grave para quem pretende governar uma cidade. Não podemos imaginar que São Bernardo fique à mercê disso. Hoje me sinto responsável pelos destinos da cidade, com a minha participação e experiência, para mostrar caminhos para nossa cidade. Vou até o limite do tempo que me é dado para definir as minhas propostas.

Por que o sr. não saiu do PSDB, mesmo depois de Morando ficar com a liderança da sigla?
Poderia ter saído do PSDB e não quis. Porque não acredito que o PSDB de São Bernardo possa enfrentar o atual governo. Não acredito que ele (Morando) tenha condições para isso. Até pela história dele nos últimos oito anos. É difícil acreditar que eles estarão em lados contrários. O PSDB nunca fez oposição ao governo de Luiz Marinho (PT). Nos últimos oito anos, desde que o Luiz Marinho ganhou a primeira eleição contra o candidato agora em questão (Morando), nunca se ouviu uma frase dele crítica ao governo. Muito pelo contrário. Na última eleição, ele participou do processo através de candidatura alternativa do PSC, do candidato que é funcionário do gabinete dele (Ademir Silvestre, hoje presidente do PHS, legenda aliada de Morando), para ajudar o Luiz Marinho a se reeleger. Teve atuação importante em Santo André ao lado dos aliados do Luiz Marinho. Não vejo nele a oposição necessária e competente ao que há de status quo. Teve um episódio estranho na política de São Bernardo. O Luiz Marinho teve a Câmara inteira à sua disposição e o PSDB elegeu o presidente da Câmara, tendo três vereadores, mostrando acordo (o tucano Hiroyuki Minami presidiu o Legislativo entre 2011 e 2012). Não é estranho? Eu acho muito estranho.

Para o sr., quem fez oposição na Câmara?
Os vereadores do PPS. Primeiramente porque o líder do PPS fez oposição e foi candidato na eleição passada (o deputado federal Alex Manente). Depois os vereadores. O presidente do partido, o Júlio (Julinho Fuzari), fez oposição. Não vi ninguém do PSDB fazer oposição. Não criou obstáculo a nenhum projeto. Como posso imaginar que esse grupo pode enfrentar a atual administração? Para mim isso não é verdadeiro. Por isso avalio o que vou fazer. Essa realidade do PSDB... não adianta falar que passou prazo. Onde está no regimento do partido? Cadê o edital de candidaturas? Foi tudo secreto? A executiva estadual desconhece isso.

Então o sr. oficialmente não descarta brigar pela candidatura no PSDB de São Bernardo?
Não descarto nada até o dia da convenção. Estou amparado no regimento. E tenho discurso de que eles não fizeram oposição. Só se for oposição oportunista, a outras candidaturas. Mas não oposição à candidatura do governo atual. O que se assiste hoje é isso.

A direção municipal diz que não há mais espaço para outra candidatura. Em qual setor o sr. vai recorrer?
Não tem recurso. Vou me apresentar no momento oportuno. O recurso é a verdade. Sobre a direção municipal estar com ele (Morando), vamos repetir a história, que, sem querer, o ajudou. O ex-presidente Admir Ferro (hoje no PTB) tinha todo controle do partido. O Orlando e eu tínhamos apenas um voto no PSDB, o dele e o meu. Era um partido heterogêneo e estava na mão do Admir Ferro. O Admir teve condições de montar nova chapa na convenção municipal. Mas três dias antes da convenção ele saiu do partido. Ele tinha toda chapa pronta para se eleger, e retirou 40 pessoas da chapa. Teve de haver intervenção da executiva estadual. Quem assumiu foi a turma de agora, que depois fez filiações. Não fui convidado (a discutir o futuro do partido). Isso mostra que não posso apoiá-lo. Não fui nem comunicado. Só vi no jornal. Eles têm dificuldade com a história deles, repito sempre a traição, e o problema da prepotência, da arrogância. Há oito anos a gente perdeu a eleição porque ele (Morando) achou que já tinha vencido. A prepotência era tão grande que ele descartou todo mundo, não precisava de aliados, porque estava na frente (nas pesquisas).

O grupo aliado de Morando diz que Alex apoiou o PT em 2008 e que, por isso, fica falho o argumento de ser oposição a Marinho. Como o sr. vê isso?
A língua portuguesa é rica nas interpretações, mas não pode ser imbecil nas interpretações. A gente sangrou para unir Orlando e Alex Manente em 2008. Não foi feita coligação por causa da arrogância e prepotência do Orlando, porque ele dizia que não precisava de ninguém. Eu conduzi todo processo e sentei com os dois. Não ocorreu a união por causa de uma única coisa: ele já tinha vencido a eleição, a arrogância estava neste ponto. No segundo turno, o Alex ficou sem saída. Só tinha dois candidatos. Como lá ele foi rejeitado... Só que ele rompeu durante o governo e fez oposição na reeleição do Marinho. Foi o único nome, junto com um vice do PSDB. E onde estava o agora líder do PSDB? Montava a candidatura do PSC. Não apoiou em nenhum momento a candidatura do Alex contra o PT. Ele disse, dois dias antes da eleição, que iria votar no Alex, mas não apoiou. Mostra de que lado ele está. Como que você acha que se deu aliança do prefeito (Carlos) Grana (PT, de Santo André) com o Paulinho Serra (PSDB, aliado de Morando)? Como você acha que o Paulinho Serra ganhou a Secretaria de Obras (no governo Grana)? Você acha normal que no lançamento da candidatura a deputado estadual do Orlando Morando o prefeito Grana, do PT, levante a mão dele? Como se deu a eleição do Minami para presidência da Câmara? Vocês publicaram a dificuldade de se fazer uma CPI. Alguém do PSDB assinou? Ele fala que o Alex que apoiou o PT. Mas o Alex foi adversário, disputou voto, criticou governo, os vereadores do partido dele fazem oposição. É da língua portuguesa que estamos tratando ou falamos de frases de efeito? Por que o Mauricio Soares, que rompeu com a gente por causa do Orlando Morando (em 2008), ficou oito anos no PT e agora está na campanha do Orlando Morando? Todos que estão no governo estão com Orlando Morando. Estamos brincando de achar que ele fala a verdade. Não pode achar que isso é normal.

Caso o PSDB não dê condições de prévias, o sr. apoiará o Alex?
Até porque ninguém em São Bernardo, em sã consciência, pode achar que estou do lado do PT. Nasci na oposição ao PT e vou morrer na oposição ao PT. Não tem outro caminho. Quando eles estavam no auge eu era oposição. Agora, que estão em baixa, sou oposição. Mas não tripudio. Temos de fazer da campanha motivo de paz e união, não de guerra. Mas não podemos admitir esse tipo de investida contra a história. Vai cair a ficha que ele (Morando) não pode disputar contra os aliados dele.

O sr. se arrepende de tê-lo indicado à sua sucessão?
Você não pode se arrepender do que fez porque achava que era o melhor para aquele momento. Não posso dizer que não fui avisado. Muitas pessoas me falaram que ele não tinha perfil. Eu errei. Mas ele não era a primeira alternativa. Era o Mauricio. Mas o Mauricio se encantou com a perspectiva de voltar ao PT. O Mauricio não aceitava o Orlando. Era a fome com a vontade de comer. Ele não aceitava o Orlando e não tínhamos alternativa. O Mauricio teve conversa, que ele chama de extremamente interessante, como agora ele teve, e na conversa interessante ele resolveu voltar ao PT. Ficamos sem alternativa. Como o Orlando seria vice, ele foi nosso candidato. Fizemos todo o empenho até começar a campanha quando ele resolveu destruir a minha imagem. Ele achava que eu gostaria de voltar. Como ele já tinha vencido a eleição, ele tinha raiva de pensar que eu queria voltar.

O sr. acha que reverte internamente a pré-candidatura de Morando?
Acho que todo mundo sabe a verdade sobre ele. A minha função é explicitar a verdade. A ficha vai cair. Cai a ficha da vergonha que é a relação promíscua do PT e do PSDB em São Bernardo. Não podemos imaginar que isso é normal. Você perde a eleição para o adversário e só o elogia nos oito anos? Alguma coisa está errada.




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