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‘Não estamos em crise e desesperados’, diz Celso Amorim
Caio dos Reis
Especial para o Diário
29/03/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O diplomata Celso Amorim, que foi ministro da Defesa no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), não vê o Brasil em crise econômica, embora números apontem o contrário – prova disso foi o PIB (Produto Interno Bruno) de 2014, de quase estagnação (0,1% de crescimento).

Em entrevista exclusiva ao Diário, Amorim diz que o País “não está desesperado” economicamente e que a indústria de defesa pode ser saída para o Grande ABC.

Ex-ministro de Relações Exteriores de Itamar Franco e de Luiz Inácio Lula da Silva, Amorim esteve na semana passada em São Bernardo para falar sobre o lançamento de seu livro Teerã, Ramala e Doha, na qual conta experiências diplomáticas pelas quais passou.

Confira entrevista completa:

No governo Lula, o Brasil tinha comércio exterior diversificado e reconhecidamente ativo. Com Dilma, essa política diminuiu. Como sr. avalia essa situação?
Eu não acho que isso esteja ocorrendo. Alguns países emergentes estão crescendo menos, então é natural que diminua um pouco (as relações comerciais). São flutuações, são três ou quatro anos que obviamente nos interessam porque estamos vivendo esse momento, mas não significa nada em termos históricos. A tendência geral nossa tem sido de diversificar o comércio e de ter cada vez mais importações para outros países emergentes. Um exemplo é a China, a nossa principal compradora. Agora, também é natural quando há uma oscilação, como ocorreu em alguns países da América do Sul, que caia um pouco (as relações financeiras), mas não considero essa diminuição como uma decisão política.

Como sr. viu a execução de Marco Archer Cardoso Moreira, brasileiro condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas?
Assim como o Brasil, sou pessoalmente contra a pena de morte e lamento profundamente o ocorrido.

Como sr. tem visto a alta do dólar nos últimos meses? Qual impacto no turismo e nas exportações?
É uma questão muito complexa. Outro dia, pela primeira vez eu li a proposta das Relações Internacionais, li que os empresários estão muito animados porque acreditam que vão exportar mais. Então considero como uma boa notícia.

Como sr. vê a crise econômica na Europa, em especial na Grécia, e de que forma isso impacta no Brasil?
A crise já impactou muito do que tinha que impactar. Agora estamos vendo um problema específico da Grécia e o processo de recuperação de outras economias, algo que vai demorar um tempo. Daí a importância na diversificação de parceiros. Mas eu acho que o grande impacto que tinha de ter já teve e foi a diminuição do comércio. Acredito que o Brasil tem um mercado interno muito forte, mas é claro que não está isento de efeitos que ocorrem fora da nossa região.

O Grande ABC tem como principal fonte de exportação a Argentina e tem economia solidificada na indústria automotiva. Evidentemente, tem sentido os reflexos da crise argentina e das montadoras. Há saída para a região?
O Brasil está muito razoável. Se olharmos para 20 ou 30 anos atrás e compararmos, estamos em uma situação muito melhor. A classe média cresceu, uma distribuição de renda que mudou, você vê os universitários hoje, são diferentes. O pensamento de antigamente estava muito limitado a certas classes sociais. Hoje em dia quase todo brasileiro ganha mais instrução e tem acesso à universidade, isso é um ganho para nós. Problemas não deixam de ocorrer e não são exclusivos do Brasil, você vê isso na Europa e nos Estados Unidos também. Não estamos em uma crise e desesperados. É claro que existem oscilações e você tem de ganhar competitividade em alguns aspectos, ter mais inovações que permitam a redução dos custos. Outro ponto importante é o elemento da indústria aeronáutica ingressando na região. A indústria de defesa é uma que pode ajudar na economia, porque ela depende da demanda pública e não da privada, além de ser uma fonte de criação de tecnologia.




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