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Elas são maioria no
emprego com graduação

Observatório Econômico: mulheres representam
51% dos trabalhadores com Ensino Superior

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
08/03/2014 | 07:21
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Nario Barbosa/DGABC


Faz diferença no mercado de trabalho da região cursar Ensino Superior ou ter esse nível de escolaridade completo. Principalmente para as mulheres, conforme pesquisa exclusiva do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo. Em janeiro, a maioria dos empregados com carteira assinada e graduação incompleta ou completa, nas sete cidades, era de mulheres.

Esse cenário reflete a mudança que o mercado vem sofrendo nas últimas décadas, de que não há diferença de gênero na força de trabalho. Também mostra a intensificação da busca feminina por melhor qualificação, com o objetivo de atingir remunerações maiores.

Considerando todos os funcionários das empresas da região com registro em carteira que completaram alguma graduação, total de 123.732 pessoas, as mulheres garantem o maior efetivo, com 51,37% do universo, ou 63.559 trabalhadoras. Os homens são 48,63%. O estudo aponta ainda que, dos 37.998 trabalhadores registrados com Ensino Superior incompleto, 50,42% são mulheres. Por outro lado, o grupo masculino, com 18.839 empregados, representa fatia de 49,58%.

“É uma das maneiras que elas têm para chegar a melhores remunerações no trabalho. A graduação acaba se tornando mecanismo eficiente para essa busca”, explica o coordenador do Observatório Econômico da Metodista, Sandro Maskio.

A caça às melhores remunerações, de certa forma, também é vista dentro das próprias instituições de ensino, destaca o coordenador do curso de Gestão de Recursos Humanos da Metodista, Rafael Chiuzi, que também é consultor sênior da Formare Associados. “Há uma predominância das mulheres no Ensino Superior.”

Essa hegemonia, no entanto, não existia anos atrás. E, muitas das aventureiras a encararem um curso superior, principalmente naquelas áreas vistas como exclusivamente masculinos, acabaram se dando bem no mercado de trabalho. É o caso da supervisora de engenharia de freios de caminhões da Ford Brasil, Silvia Lombriller, 43 anos. Hoje, ela comanda grupo de 15 funcionários, sendo apenas uma mulher. E garante nunca ter sentido preconceito profissional por parte dos colegas.

Mas, no começo, Silvia enfrentou talvez a maior barreira. Com aptidão para criar e construir coisas, e fazer cálculos, lembra a supervisora, desde pequena ela almejava estudar engenharia. Em evento ímpar proporcionado em seu colégio, quando cursava o 3º ano do Ensino Médio, foi apresentada ao mundo da aeronáutica. E não teve dúvida. Pensou em ingressar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). “Na época, fui barrada. Como era atrelada à escola militar, era exclusiva para homens”, conta. Seu futuro, entretanto, estava planejado. Ingressou em Engenharia Aeronáutica na USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos. “Minha turma tinha 70 alunos. Comigo, éramos apenas três meninas”, brinca. Estudou, se aproximou do mercado automobilístico no fim do curso e, com aplicações de conceitos aeronáuticos no segmento das quatro rodas, fez mestrado e doutorado em sistema de freios para veículos comerciais. Hoje, conta com alegria, não se arrepender de ter enfrentado uma carreira que era vista como masculina. “Você precisa sim achar a essência do que faz. E não apenas pensar no retorno financeiro.”


Indústria da transformação faz diferença no número de postos

O Grande ABC reunia, no fim de janeiro, 810.656 trabalhadores com carteira assinada. Desse total, 40,87%, ou 331.351, são mulheres. A maioria, 479.305, é de homens. E a indústria da transformação é a principal responsável pela grande diferença de 147.954 profissionais. Apenas no setor há um contraste de 123.940 empregados, sendo 182.439 do sexo masculino e, 58.499, do feminino.

As informações são de levantamento do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo concedido com exclusividade à equipe do Diário. Para chegar aos resultados, foram utilizados dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), atualizadas com informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), ambos bancos de registros do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

A indústria da transformação é responsável por 29,72% da força de trabalho da região. Dentre os 240.938 funcionários dessas empresas instaladas nas sete cidades, apenas 24,28% são mulheres, o equivalente a 58.499 postos. Por outro lado, os homens ocupam 182.439 posições, o mesmo que 75,72%.

“Nas linhas de produção ainda é muito mais forte a presença masculina. Essa diferença também é vista nos cursos para a mão de obra qualificada que atendem a indústria, como os técnicos e os de engenharia”, destaca o coordenador do Observatório Econômico da Metodista, Sandro Maskio.

O coordenador do curso de Gestão de Recursos Humanos da Metodista e também consultor sênior da Formare Associados, Rafael Chiuzi, lembra ainda que, muitos dos empregados da indústria, do chão de fábrica, concluem cursos superiores em outras áreas, por exemplo, e não deixam as fábricas. E, desta maneira, com bagagem histórica, existem menos oportunidades para as mulheres ingressarem nessas áreas.

No geral, trabalho feminino avança

O mercado de trabalho em geral, considerando os empregos formais e informais, tem se mostrado acolhedor às profissionais. Em 2013, 54,1% das mulheres com dez anos ou mais estavam trabalhando ou em busca de emprego. Esse percentual, em 2012, era de 53,6%.

As informações, conforme publicou o Diário na edição de ontem, são da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) Grande ABC especial para o Dia Internacional das Mulheres, iniciativa da Fundação Seade em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

A metodologia dessa pesquisa é diferente da utilizada pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo. Faz parte da estatística amostra de 600 entrevistas em domicílios da região, com cerca de 2.500 trabalhadores com e sem registro em carteira, e que podem ou não atuar dentro do Grande ABC.

Em relação aos mercados de trabalho internacionais, o Grande ABC apresentou destaque. Em Portugal, por exemplo, 56,5% das mulheres em idade ativa estavam ocupadas ou em busca de um emprego. Na Alemanha, eram 53% no ano passado.

A Espanha tinha 51,6% delas incluídas no mercado de trabalho. Na França, eram 51,1% e, na Itália, 37,9%.

Por outro lado, a situação deles saiu da esteira das mulheres. O percentual de homens com idade ativa que tinham algum tipo de trabalho remunerado ou que estavam a procura de um, em 2013, era de 69,9%, o que significa recuo em relação ao ano anterior. Em 2012, eram 70%.

RECORDE - Segundo a PED Grande ABC referente às médias de anos cheios, a taxa de desemprego das mulheres em 2013 atingiu o menor patamar da série histórica iniciada em 1998.

O percentual foi de 11,1%, tendo em vista que começou com 24,8%. Fruto de maior distribuição das representantes do sexo feminino em postos antes vistos apenas como masculinos.
 




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