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Região tem 1.020 pessoas à espera de transplantes

Estimativa é do Ipes, que atua no Grande ABC;
no Estado são 14.373 na fila, e maioria espera rim

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
26/03/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Atualmente, 1.020 pessoas esperam por transplante de órgão no Grande ABC. A estimativa é do Ipes (Instituto Paulista de Educação e Saúde), que atua na região e afirma que a tendência é que esse número cresça ainda mais. Conforme a fundadora Wilma Maria Rosa, muitos pacientes morrem antes mesmo de saber que esperam pelo procedimento. “São, em média, 60 dias para entrar na fila. Isso porque é o período que os médicos querem investigar mais até se chegar no diagnóstico definitivo”, explicou.

Por duas semanas, o Diário tentou obter dados oficiais a respeito do assunto. Prefeituras afirmaram não possuir a informação. O governo estadual alegou que o número não está separado por cidade – no Estado são 14.373 pacientes aguardando por um órgão, a maioria, rim (12.530). Já o Ministério da Saúde, que tinha repassado as informações regionais anteriormente, em dezembro de 2015 (quando eram 957 pessoas nas sete cidades), informou não ter mais o controle municipal.

Para mudar este cenário de incertezas e falta de dados, o Ipes pretende entregar no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC pedido para a criação de um portal da transparência na região. “Precisamos saber quantos pacientes estão nesta situação, número de óbitos, média mensal de quantas pessoas entram na fila. Passou da hora de um sistema assim”, disse Wilma.

Na região há poucos serviços direcionados à captação de órgãos. São Caetano, Diadema e Rio Grande da Serra não se posicionaram. Em Santo André, o procedimento é realizado no Hospital Estadual Mario Covas e no CHM (Centro Hospitalar Municipal).

O Hospital Doutor Radamés Nardini é o responsável pela realização em Mauá. A Prefeitura informou que entre 2015 e 2016 a média foi de apenas duas captações de órgão por ano. “Quem realiza as cirurgias de remoção são as equipes do Instituto Dante Pazzanese, de São Paulo, que, após notificação do hospital, traz profissionais e aparelhagem para realizarem, além do procedimento, sorologia e exames complementares que atestem a inatividade neurológica do paciente. Os órgãos mais doados são córneas, rins e fígados”, informou, em nota.

Em São Bernardo também não há equipe cadastrada para captação, e quem realiza o procedimento são hospitais autorizados a transplantar. “O Hospital Anchieta fornece o centro cirúrgico para a retirada de órgãos de pacientes em território municipal, porém, a equipe que realiza a retirada é a do hospital habilitado para o transplante”, disse em nota.

Para Wilma, a estrutura na região é insuficiente. Ela defende a criação de OPO (Organização de Procura de Órgãos), com equipe disponível 24 horas para realizar a captação. O custo foi estimado em R$ 20 mil, em 2010, e a implantação pode ser feita em hospitais referências da região. “Só depende de boa vontade. Muitos empresários podem investir.”

O caminho para quem pretende ser doador é deixar a família e os entes mais próximos avisados do desejo. Em caso de morte, a liberação dos órgãos é realizada mediante autorização da família.

Irmãs se preparam para cirurgia de rim

Mais do que o sobrenome, as irmãs Saes se preparam para compartilhar, no dia 30, um dos órgãos vitais para a sobrevivência, o rim. Não foi preciso nem mesmo que a professora Cristina Aparecida, 50 anos, fizesse o pedido. Diante do quadro de piora de sua doença renal, de origem genética e associada à hipertensão, a moradora de São Caetano precisou remover os considerados filtros do organismo há pouco mais de um mês. A irmã mais nova, Alessandra, 44, 100% compatível, não pensou duas vezes para ser a doadora.

“Ela (irmã) diz que foi o maior presente que poderia oferecer. Demorou para cair a ficha de que eu estava recebendo nova oportunidade de viver”, emociona-se Cristina. A professora descobriu o problema renal aos 43 anos, por acaso.

Exames apontaram que, na época, ela tinha apenas 30% das funções renais. “Comecei o tratamento, mas, apesar de os médicos garantirem que a doença não evoluiria, piorei. Em 2015 comecei a ficar debilitada, estava com apenas 6% dos rins funcionando”, lembra.

A partir da necessidade de colocação de fístula no braço, acesso via cateter para a realização de hemodiálise, Cristina precisou readaptar suas funções no trabalho como professora da Educação Infantil e passou a integrar quadro no setor administrativo da unidade de ensino.

Apesar da diálise ser feita quatro horas por dia, três vezes por semana, para remoção de substâncias tóxicas do organismo, o quadro dela é delicado. “Não vejo a hora de passar essa fase de tristeza. Só mesmo quando a gente está nessa situação passa a dar valor às pequenas coisas, como tomar um copo de água, não ter restrições para comer”, destaca ao explicar que pacientes sem os rins não podem ingerir líquido em quantidade elevada.

Cristina ressalta ainda a tranquilidade de não precisar, como a maior parte da população, ingressar na fila de espera por transplante. Apenas no Estado, 12.530 pessoas aguardam um rim. “Vejo esse sofrimento diariamente entre os meus colegas de diálise. Infelizmente, muita gente ainda se nega a fazer a doação. Tem casos de espera de até quatro anos pelo órgão, sem falar nas mortes”, observa.

Em 2016, 725 pessoas foram a óbito na espera por transplante em São Paulo. “É importante que as pessoas foquem na prevenção, nem todo mundo sabe que pressão alta não é somente questão de cardiologista, mas também de nefrologista”, completa a professora.  (Natália Fernandjes)




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