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Grande ABC tem um táxi
para cada 1.703 pessoas

Capital tem, em média, um carro para cada 336 passageiros;
especialistas cobram regulação do sistema de transporte

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
31/03/2013 | 07:00
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O Grande ABC tem um táxi para cada 1.703 habitantes. A proporção é baixa em comparação com a Capital, onde cada veículo atende, em média, 336 passageiros. Ao todo, 1.472 motoristas prestam esse serviço na região, com exceção de Rio Grande da Serra, que não informou os dados. O cálculo foi feito com base nas informações habitacionais do Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Especialistas ouvidos pelo Diário avaliam que a quantidade de taxistas é mais baixa no Grande ABC em razão da demanda reduzida. O crescimento da frota de automóveis particulares e o preço elevado cobrado pela corrida são fatores que afastam os usuários. Na região, a bandeirada - valor cobrado no início do trajeto - custa R$ 4.

Na bandeira 1, entre 6h e 20h, o quilômetro rodado sai a R$ 2,25. Na bandeira 2, a taxa é de R$ 2,70. Em ambos os horários, a hora parada vale R$ 23,70.

Na Capital, os problemas são os mesmos. No entanto, as características econômicas e culturais da cidade estimulam o uso do táxi. "Essa é uma atividade historicamente ligada ao turismo. Em São Paulo, o uso é mais intenso em função da grande quantidade de empresas, que são visitadas por pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo", diz o engenheiro de tráfego e transporte Horácio Figueira.

Outro fator que impulsiona o serviço na Capital, comenta Figueira, é a dificuldade para estacionar, principalmente no Centro e em outras regiões com grande circulação de pessoas, como Avenida Paulista, Vila Olímpia e Itaim Bibi. Nesses locais, o valor cobrado pela hora chega a quase R$ 20. A vida noturna da metrópole também faz com que muitos optem em voltar de táxi para casa.

Para o engenheiro, a redução no preço da corrida iria atrair passageiros e retomar a cultura do uso desse meio de transporte. "Com pouca demanda, os taxistas querem ganhar em uma corrida o valor que compense o tempo que ficaram parados."

Na opinião de Figueira, uma solução para baratear a tarifa é diminuir o luxo. "Não há necessidade, por exemplo, de utilizar veículos sofisticados, com ar condicionado e internet a bordo. Poderiam criar o táxi normal e o luxo. Quem quiser serviço de nível mais alto, que pague mais", sugere. O especialista faz um comparativo com o setor aéreo. Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os preços das passagens aéreas caíram 43% entre 2002 e 2011, enquanto a procura por passagens no mesmo período teve alta de quase 200%.

Usuários optam por veículos particulares, ônibus ou trem

Passageiros do Grande ABC optam por utilizar veículos particulares ou o transporte coletivo para se deslocarem pela região. O táxi é utilizado em último caso, como em emergências ou trajetos mais longos.

"Se vou para uma balada em São Paulo, prefiro esperar o dia amanhecer e voltar para casa de trem do que pagar caro pelo táxi", garante a promotora de vendas Sheila de Souza, 37 anos. A assessora jurídica Débora Lúcia de Lima, 28, também utiliza a ferrovia para ir da Capital a Santo André. Ao chegar na estação, opta por carona.

A auxiliar administrativa Alessandra Santos Silva, 25, usa o carro próprio como meio de transporte. Para ela, o principal problema dos táxis é a demora. "Se você precisar chamar de madrugada, vai levar muito tempo para chegar. É até perigoso ficar esperando", lamenta.

Mesmo com as reclamações, os taxistas se dizem satisfeitos com o mercado. "Ultimamente temos muito serviço. Às vezes falta até carro para atender todo mundo", relata Antônio Carlos Pires da Silva, 52.

O presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Grande ABC, Odemar Ferreira, é contra a criação de novas vagas. "Se colocarem mais carros, vai faltar serviço. Muitas vezes o povo vê o ponto vazio, mas é porque os táxis estão parados no trânsito", justifica. Ferreira avalia que a quantidade atual de profissionais é até elevada, se considerado o número de passageiros.

Consórcio estuda meios para reduzir tarifa

O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC estuda implantar ações que incentivem o uso do táxi na região. A coordenadora do Grupo de Trabalho de Mobilidade da entidade, Andrea Brisida, informa que os secretários municipais de transportes das sete cidades analisam meios para reduzir o valor da corrida. "Entre as soluções cogitadas estão a redução de taxas e impostos para taxistas", afirma. A desoneração diminuiria os gastos da categoria, possibilitando aliviar o taxímetro. Também são discutidas a aplicação de subsídios e a padronização visual dos carros.

A coordenadora informa que pretende levar a discussão ao Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, para que as ações sejam tomadas em conjunto com a Capital e as demais cidades da Grande São Paulo.

O objetivo é extinguir a taxa adicional de 50% cobrada quando o veículo cruza a divisa com outro município. "Isso é um absurdo. Esse é um serviço que tem caráter intermunicipal, mas está sob regulação dos municípios", comenta a arquiteta e urbanista Silvana Zioni, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) e especialista em mobilidade urbana.

"São Paulo tem uma diversidade cultural muito grande. Se a população do ABC frequenta bares na Capital, não é possível que o táxi seja municipal", acrescenta Silvana.

Para a professora, o uso do serviço também está associado à renda. Em São Caetano, por exemplo, existe um táxi para cada 466 habitantes. Em Mauá, a proporção é de um para 3.135 pessoas.

Segundo dados do Instituto de Pesquisas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), a cidade tem renda média familiar de R$ 4.303. Em Mauá, o orçamento médio das famílias é 44,06% mais baixo, chegando a R$ 2.407.




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