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Mãe de vítima diz ainda ser ameaçada
Deh Oliveira
Do Diário do Grande ABC
27/04/2009 | 07:01
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Em 27 de novembro um outro rapaz de 21 anos é assassinado no bairro Santa Terezinha. Thiago do Carmo Cardoso foi atingido em frente de casa, na Rua Rio Grande do Norte. O crime aconteceu por volta das 21h e mais uma vez o atirador usava touca ninja para não ser reconhecido. Os disparos atingiram a vítima no peito e na perna, segundo boletim de ocorrência registrado no 2º DP de Santo André. A irmã dele também estava na rua no momento da execução. Ao ouvir os tiros, outro irmão saiu de casa e tentou levá-lo para dentro.

Segundo relato da família, viaturas da Polícia Militar passaram pelo local pouco antes do crime. Após virarem a esquina, surgiu o homem encapuzado atirando. "Quando o irmão dele estava colocando ele para dentro, uma viatura apareceu", afirma a mãe da vítima, que na hora do crime disse estar na igreja.

O filho, segundo ela, ficara em casa fazendo a janta, pois a família esperava visita. Ele saiu à rua após ser chamado por Fabiano Oliveira, 26. O amigo percebeu a chegada do atirador, deixou a moto em que estava, correu e se jogou no Rio Tamanduateí para se proteger. Ele acabou atingido na perna e cinco meses depois seria morto em circunstâncias semelhantes.

SOCORRO NEGADO - Segundo a mãe de Thiago, mesmo ferido, o filho ainda estava consciente, pedindo ajuda. Ela foi informada, porém, que os policiais militares impediram que ele recebesse socorro, oferecido por uma mulher que passou de carro pelo local. ‘A lei aqui somos nós. Se puser a mão nele, leva bala', teria dito um policial. Segundo a mãe, ao perceber a aproximação de uma ambulância, os policiais o levaram. No boletim de ocorrência consta que a vítima foi levada para o CHM (Centro Hospitalar Municipal).

Depois da morte de Thiago, a mãe do rapaz afirma receber ameaças constantes. Com medo de represálias, seus dois filhos saíram da casa. "Eu não saio mais sozinha, é muita pressão, muita ameaça". Ela afirmou ter levado o caso à Corregedoria da Polícia Militar. O órgão não confirmou, e diz ter recebido apenas a denúncia da morte de Leandro.

Preso em 24 de fevereiro, Thiago ficou três meses na cadeia. Ele foi detido enquanto dirigia uma moto com a placa encoberta, seguindo um Mercedes-Benz Classe A roubado, segundo boletim de ocorrência. No carro havia cinco pessoas, entre elas o amigo que levou o tiro na perna no dia em que ele foi morto. A motocicleta estava registrada em nome do pai desse colega. Segundo a mãe, o filho foi julgado e inocentado. A mãe afirma que ele trabalhava como motorista e a ajudava nas despesas da casa.

Denúncias estão sendo investigadas, garante polícia

As denúncias sobre a suposta participação de policiais nos crimes estão sendo levadas em consideração, segundo o delegado da Delegacia de Homicídios de Santo André, Marco Aurélio Gonçalves. Ele afirma, porém, que nenhuma das acusações foi comprovada. No inquérito constam fotos de alguns policiais militares, mas que não foram reconhecidos pelas testemunhas.

Ele aponta algumas dificuldades em levantar provas e conseguir informações. Por medo de sofrer represálias ou falta de conhecimento, muitos moradores não fazem as denúncias à polícia. "A população tem de entender que há mecanismos para passar informação e não se expor", afirma.

Gonçalves explica que as informações podem ser passadas de forma anônima para o telefone da delegacia (4425-8050). Existe ainda a possibilidade de os nomes das testemunhas não serem revelados no inquérito policial. Outro problema que dificulta o trabalho policial, diz o delegado, é a associação de alguns moradores com criminosos.

CORREGEDORIA - A Polícia Militar informou que houve apenas uma denúncia a respeito da participação de policiais militares nas mortes, referente ao assassinato de Leandro Oslindo Ribeiro de Moura. Segundo a Polícia Militar, na época foi aberto um inquérito para apurar os fatos. A investigação foi considerada encerrada. A corporação informa que a coleta de provas não levou a quaisquer indícios de participação de policiais no caso. Por isso, nenhum policial militar foi afastado de suas funções.

Quanto às outras duas mortes, a Polícia Militar informou que não há elementos que indiquem a participação de integrantes da corporação nos assassinatos, descartando a necessidade de investigação.

Terceira execução também foi feita por homem mascarado

A execução de Fabiano Oliveira, 26 anos, conhecido como Folha, ocorreu a poucos metros de onde morrera Leandro. Ele também estava próximo à casa da namorada. As semelhanças não param por aí. O matador seguiu o mesmo roteiro e figurino: touca ninja para não ser reconhecido e tiro de misericórdia na cabeça. No momento da execução, por volta das 20h30 do dia 6, Fabiano estava acompanhado da irmã da namorada. A garota não ficou ferida.

A vítima não morava no bairro, mas no Jardim Elba, Zona Leste de São Paulo. No dia de sua morte, Fabiano jantou no início da noite, saiu e voltou para a residência, segundo sua mãe. Pouco tempo depois, ele voltou a sair. "Menos de meia hora depois, ligaram avisando que tinham matado ele", lembra.

Fabiano tinha diversas passagens pela polícia e estava em liberdade havia cinco meses. A pessoas próximas, ele relatou ter sido extorquido por policiais para não forjarem um flagrante e fazê-lo voltar para a cadeia. Certa vez, alegou ter pago R$ 1.000 para não ser preso.

A família de Fabiano, porém, prefere não tomar qualquer medida legal para esclarecer a morte. "Ele tem passagem, acha que vão ligar para isso? Quem fez isso, que Deus tenha misericórdia dele", sentencia a mãe.




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