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Recém-eleito, Nobre defende a reflexão
Luciele Velluto
Do Diário do Grande ABC
27/04/2008 | 07:06
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Filho de metalúrgico, com 29 anos na profissão e 22 dedicados a organização sindical, o ajustador mecânico do setor de protótipos da Mercedes-Benz Sérgio Aparecido Nobre será o próximo presidente do principal sindicato da região: o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Aos 43 anos de idade, o dirigente tem a missão de continuar o trabalho realizado até então por José Lopez Feijóo e já planeja expandir as ações do sindicato além dos muros das fábricas. E coloca como um desafio propor ás lideranças da região a reflexão sobre o momento atual da economia do Grande ABC e o futuro das sete cidades.

Nobre será o representante de 95 mil trabalhadores divididos pelas cidades de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. E líder de um dos sindicatos mais influentes do País.

No entanto, o dirigente não quer apenas pensar grande e pretende voltar a atenção da entidade também para os trabalhadores da micro e pequenas empresas, nas quais a organização sindical ainda é muito limita ou quase inexistente.

A data da posse está marcada para o dia 19 de julho.

DIÁRIO – Quando começou a sua atuação no movimento sindical?
SÉRGIO NOBRE – Comecei na Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da Mercedes-Benz logo após 1986, quando entrei na empresa. E daí fui para outros cargos até chegar a diretoria do sindicato em 2002. Fui coordenador regional de Diadema por três anos e agora ocupo o cargo de secretário de organização.

DIÁRIO – A atuação na secretaria de organização vai facilitar o trabalho como presidente?
NOBRE – Essa experiência me possibilitou conhecer bem os funcionários e a estrutura do sindicato, muito importante para quem comanda. E também conhecer a categoria. Sei como é a realidade de fábrica grande e de fábrica pequena, experiência que adquiri quando estava como coordenador. Isso te dá um diferencial.

DIÁRIO – Quais serão os desafios da sua gestão? O seu mandato começa em um período bom para a economia do Grande ABC.
NOBRE – Acho que são três desafios: defesa dos direitos dos trabalhadores no local de trabalho, reposição salarial e aumento real – que é sagrado – e expandir as ações do sindicato fora das fábricas. Eu acho que estamos vivendo um momento bom, mas temos que tirar todos os entraves do caminho para que essa fase continue. Melhorar a competitividade da região, a qualificação do trabalhador, trazer investimentos. Essas coisas precisam ser feitas e agora. Sabemos que o capitalismo é cíclico, oscila em momentos de desenvolvimento econômico e de crise. E não temos que esperar a crise chegar. Temos que olhar o que vai ser do Grande ABC em 2020 e o que queremos.

DIÁRIO – O sindicato pretende atuar não só nas fábricas.
NOBRE – O sindicato tem uma função importante na região. E o trabalhador vive em seu bairro. Não adianta ter boas condições no local de trabalho e ir para casa onde ele não tem saneamento básico e não tem escola. O sindicato tem que atuar nessa área também. A violência por exemplo, já foi inibidor de investimento no Grande ABC no passado. E se a região, se não receber investimento, morre.

DIÁRIO – E porque a faculdade de Relações Internacionais?
NOBRE – A nossa categoria é formada na sua maioria por multinacionais, com estratégia global. O investimento não é decidido no Brasil, e sim em outros países. E as relações internacionais são fundamentais.

DIÁRIO – Como você vê a divisão que ocorreu nas eleições para o comitê da Volks?
NOBRE – A história mostra que toda vez que o trabalhador se divide, quem ganha com isso é a empresa. O sindicato só existe em ambiente de unidade e os trabalhadores da VW precisam entender isso. Quando converso com os trabalhadores, o sindicato é uma unanimidade dentro da fábrica. Acho que o problema está nas relações pessoais que precisam estar abaixo do interesse dos trabalhadores.

DIÁRIO – Mas o movimento sindical está em fase de divisão, como as novas centrais criadas em 2007.
NOBRE – Acho que cabe três ou quatro grandes centrais no País. As pessoas pensam diferente e não vejo isso como uma coisa ruim. Desde que em bandeiras comuns atuem junto, como o que está acontecendo agora no caso da redução da jornada e da convenção 158 da OIT. Na verdade, o sonho da minha vida é que os trabalhadores possam ter a liberdade de escolher a sua central. Não tem sentido ele escolher seu governador, presidente e não escolher seu dirigente, para qual entidade quer contribuir.



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