Sarney, que preside o Congresso e queria renovar seu mandato, se exaltou diante de Calheiros, que é líder do PMDB no Senado e aspirante à presidência do Congresso. Ao ser convocado a discutir a MP da reeleição com a bancada, Sarney disse a Calheiros que não era "moleque" para aceitar a manobra. O líder, por sua vez, disse que o veto não tinha motivação pessoal e alegou que "os acordos políticos têm de ser mantidos".
A reação enérgica de Sarney, conhecido por seu perfil pacífico e conciliador, surgiu após duas derrotas pessoais duras na proposta que libera a reeleição dos presidentes das duas Casas do Congresso. Na primeira delas, a Executiva decidiu por 12 votos a dois que o PMDB ficará contra a emenda. Na segunda, a Comissão Especial da Câmara que analisa a PEC não conseguiu avançar seus trabalhos nesta quarta-feira. O deputado Jáder Barbalho (PMDB-PA) pediu vistas do projeto, adiando a votação por duas sessões – fato que posterga o processo por pelo menos uma semana.
O placar verificado na eleição da Executiva – 12 votos contrários à pretensão de Sarney de ser reeleito e apenas dois a favor - foi definido no embalo da insatisfação dos peemedebistas contra o Planalto, que, segundo a nova direção, privilegia Sarney e ignora os pleitos do restante da bancada, especialmente a de senadores.
Mas o que mais irritou Sarney e provocou seu confronto público com Calheiros foi a articulação do líder com seus próprios liderados. "Isso é uma tentativa de golpe", bradou Sarney na reunião da bancada. "Não aceito isto... a menos que queiram me colocar fora do partido."
Informado da movimentação do líder, Sarney foi pessoalmente à reunião brecar o veto da bancada à reeleição.
O presidente do Congresso disse aos colegas que seria "uma desatenção" para com ele tratar de reeleição hoje, enquanto a proposta ainda está tramitando na Câmara. E quando Calheiros insistiu que pelo acordo firmado no ano passado a presidência do Senado deveria ficar com ele em 2005, pois abrira mão da disputa em 2003, foi prontamente contestado por Sarney: "eu não participei de acordo nenhum."
A irritação de Sarney era tanta que ele chegou a pôr o dedo na cara do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). "Na boa vocês podem até me levar, mas na porrada, não", bradou. Assustado com a reação de Sarney, que não tem o hábito de se alterar em reuniões da bancada, Suassuna repetiu a existência do acordo celebrado com o Palácio do Planalto. Dirigindo-se a Renan Calheiros, Sarney pediu, então, que ele cobrasse o cumprimento do acordo de quem o celebrou. "Não de mim, que não participei de nenhum acordo."
Apesar do clima de tensão, dirigentes do PMDB garantem que o recado da Executiva tem outro objetivo: deixar claro ao governo que o PMDB não aceita que Sarney seja tratado como o grande interlocutor do partido. "Isso foi para o Sarney perder a pose", disse um dirigente da legenda.
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