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O mundo plano na Polícia

Se você torcer o pé nos Estados Unidos e for atendido em um eficiente hospital público, dependendo o horário em que isso acontecer, o diagnóstico

Wilson Marini
05/07/2010 | 00:00
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Se você torcer o pé nos Estados Unidos e for atendido em um eficiente hospital público, dependendo o horário em que isso acontecer, o diagnóstico do raio-x que orientará o médico de plantão será feito via internet na Índia por um profissional credenciado em rede.

Em seu livro "O Mundo é Plano" (Editora Objetiva), o jornalista norte-americano Thomas Friedman aborda a convergência de tecnologia. A obra se tornou referência para quem deseja compreender a globalização e os efeitos locais e regionais na vida das pessoas. O autor mostra com maestria como os avanços da comunicação conectam os indivíduos de forma inovadora e surpreendente.

O nivelamento do mundo reduziu as distâncias e fez com que as informações se propagassem de forma cada vez mais rápida e integrada. Isso obriga empresas, profissionais, comunidades e governos a se adaptar ao admirável mundo novo.

A ligação virtual de todos os mercados e pólos de conhecimento e de serviços é uma lei que tende a se tornar tão inexorável quanto a que rege na economia os princípios da oferta e da procura. E, obviamente, era previsível que um dia os benefícios dessa evolução tecnológica chegariam a serviços essenciais à população como a Segurança Pública.

Boletim digital

A introdução da informática, nos anos 1990, mudou pouco o padrão de atendimento nas delegacias. As informações continuaram sendo armazenadas em pastas, gavetas e prédios. Trocou-se a velha máquina de escrever manual por um teclado mais leve de computador. Agora, já é possível dizer que em breve a imagem do boletim de ocorrência datilografado por um escrivão será coisa do passado. O mundo plano, finalmente, chegou aos plantões policiais do interior paulista.

Mapa do crime

O velho BO (Boletim de Ocorrência) manual foi substituído pelo RDO (Registro Digital de Ocorrência). E os RDOs somados alimentam o sistema Infocrim (Informações Criminais) já utilizado no dia a dia por delegados e comandantes da Polícita Militar. A inovação começou a funcionar na Capital em 1999, se estendeu à Grande São Paulo em 2003 e nas maiores cidades do Interior em 2005.

De 2007 a 2010, o número de cidades com RDO e Infocrim saltou de 53 para 638 das 645 existentes no Estado. Juntos, RDO e Infocrim permitem a produção do chamado Mapa da Criminalidade, que indica os locais, dias e horários de maior incidência criminal, entre outras "pistas", permitindo maior eficiência no policiamento preventivo. O sistema é inspirado em modelo adotado nos anos 1990 em Nova York e copiado no mundo todo com redução dos números da criminalidade.

190 regional

Quem nunca recebeu uma ligação de operadora de telefonia celular em que o atendente revela por meio de seu sotaque que está no Nordeste? Baseada no conceito de call centers como esses, a Polícia Militar decidiu regionalizar o atendimento de emergências via 190. O objetivo é o de ganhar agilidade e controle, além de distribuição das viaturas de forma planejada. No Estado de São Paulo, a população faz 150 mil ligações por dia às centrais de polícia, que resultam no acionamento de 15 mil viaturas.

Nas novas centrais, o policial recebe a informação da ocorrência por telefone ou internet e despacha a viatura policial mais indicada e próxima. O Copom Online mostra em tempo real, na tela do computador, os recursos logísticos disponíveis: viaturas, helicópteros, embarcações e unidades policiais. E poderá atender também a Defesa Civil, Bombeiros e a Guarda Civil Municipal.

Centralizado

Por exemplo, uma única central já atende a uma população de mais de 800 mil pessoas em 54 municípios da região de Presidente Prudente. Antes do serviço ser centralizado, 22 dessas cidades possuíam a sua central e nas demais o atendimento era realizado na sede da unidade da Polícia Militar. A Secretaria da Segurança Pública calcula que um grupo de 20 pequenos centros do Copom, que atuavam com cinco policiais cada um (100 ao todo), possa funcionar centralizado em plataforma com apenas oito policiais e com isso o restante do efetivo pode ser liberado para o policiamento ostensivo.

Dilemas da transição

A polícia paulista vive os dilemas desse momento de transição. Trabalha ainda com estruturas e conceitos arcaicos, mas já tem à disposição alguns dos recursos modernos. Claro que a tecnologia em si não é boa ou ruim, pois tudo depende de como é empregada. Para a população, o importante é ter a sensação de que está protegida pelo Estado e que a criminalidade, medida por indicadores como as taxas de roubos e furtos ao patrimônio, estejam sob um nível aceitável e não se eleve. Essa é justamente a esperança das autoridades responsáveis pela gestão da segurança pública: que os avanços nas comunicações ajudem a prevenir e combater os crimes. Bem vindo ao século 21.




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