Setecidades Titulo Invisibilidade
Tema da redação surpreende no primeiro dia de Enem

Candidatos escreveram sobre invisibilidade e registro civil; especialistas aprovaram assunto

Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
22/11/2021 | 08:15
Compartilhar notícia
Celso Luiz/ DGABC


Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil. Este foi o tema escolhido para a redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2021, que teve início ontem. O assunto surpreendeu candidatos e especialistas. Neste primeiro dia, além da redação, os inscritos responderam também questões de linguagens e ciências humanas.

O assunto foi divulgado na tarde de ontem, pelo da Educação, Milton Ribeiro, pouco depois do início do exame (às 13h30). A proposta de redação foi acompanhada de textos de apoio aos candidatos, assim como em todas as edições anteriores.

Na Fundação Santo André, o estudante Leonardo Fagundes, 17 anos, comentou que não achou “comum” o tema escolhido para esta edição, mas que foi possível desenvolver o texto com ajuda do material de apoio que contêm na prova. Leonardo optou em abordar a situação dos refugiados diante do registro civil. “Achei que o tema fosse mais voltado para algo de política, até pelas eleições do ano que vem”, comenta o vestibulando, que quer cursar eletroeletrônica.

Letícia Honorato, 17, gostou do tema, apesar de relatar que não estava tão preparada para escrever sobre o assunto. “Eu procurei falar sobre as garantias que o registro civil traz a uma pessoa”, disse. Esta foi a segunda vez que a Letícia prestou o exame nacional.

Preocupado com seu desempenho, Leonardo Ulisses, 16, aprovou o tema escolhido, apesar do nervosismo por prestar pela primeira vez a prova. “Eu já cheguei nervoso, com todas as dúvidas possíveis, então, eu tentei escrever, de uma forma geral, a importância do registro”, contou.

Diferentemente de Leonardo, Gilson Alves, 43, presta a prova do Enem desde 2002, e comentou que a redação foi o que mais aprovou da prova. “Achei poucas questões de geografia e de atualidade. A redação foi a parte em que mais gostei desse ano”, avaliou. “Tentei desenvolver um texto que falasse desse problema da invisibilidade, voltado para as questões mais econômicas”, completou.

INCERTEZA

Esta edição do Enem foi realizada em meio ao receio de estudantes com a possibilidade de encontrarem um exame bem diferente do que esperavam. O motivo: a polêmica ocorrida na semana passada após servidores do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) denunciarem ao programa Fantástico, da TV Globo, uma suposta interferência do governo federal no conteúdo da prova.

As primeiras impressões sobre a prova após a polêmica, não foram essas. Segundo os candidatos, existiram questões políticas, mas nada que surpreendesse. No exame ainda, racismo e escravidão, por exemplo, foram assuntos abordados.

Especialista em Enem, o educador Mateus Prado avaliou que, por mais que o tema não seja tão debatido, é de extrema relevância, já que são cerca de 3 milhões de pessoas sem registro civil no Brasil. “Este número pode ter aumentado na pandemia, já que muitos lugares que tinham cartórios em maternidades foram fechados por conta da Covid. A maior parte dessas pessoas sem registro são vulneráveis”, comentou. “A própria redação deixou claro de que a prova não é a cara do governo”, completou Mateus Prado.

A segunda parte do exame acontece no domingo e trará 45 questões de matemática e 45 questões de ciências da natureza, segmento que envolve biologia, física e química. O gabarito será divulgado no dia 1º de dezembro, no site do Inep.
No Grande ABC, 31.395 estudantes realizaram a inscrição para a prova impressa e 2.313 para o exame digital.

Inep revela 26% de abstenção;ministro nega interferência

O primeiro dia de provas do Enem, ontem, teve 26% de abstenção, informaram ontem dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo exame. Compareceram à prova 2,3 milhões de candidatos apenas. Em edições anteriores, o Enem recebia o dobro de candidatos. “Mais importante não é o número de inscritos, mas o número de quem veio realmente fazer a prova”, disse o ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Ele rebateu as críticas de que as ausências têm relação com falhas do MEC em melhorar o ensino em meio à pandemia. Entre os jovens que desistiram de fazer a prova estão aqueles que não se sentiam preparados. “Foi um número significativo porque sem o Enem uma série de outros passos da educação brasileira sofreria atraso que poderia prejudicar mais ainda os jovens que querem acender ao ensino superior”, disse Ribeiro. “São pessoas que resolveram enfrentar todas as dificuldades.”

O ministro disse ainda que o conteúdo da prova visto neste domingo mostrou que não “tem cabimento” denúncias sobre interferência no Enem. Caíram no teste questões sobre luta de classes, racismo, desigualdade de gênero e temática indígena.
Tentaram politizar a prova, não houve nenhuma interferência. Talvez, se tivesse interferência, poderia ser que algumas perguntas nem estivessem ali. Não houve qualquer interferência e escolha de perguntas”, afirmou o ministro.
Depois, tentou se explicar: “Quis salientar que, se dependesse de uma visão radical, de que o governo é radical, existem questões que tocam alguns temas que numa visão mais conservadora são mais caros ao nosso governo”, complementou Milton Ribeiro.
O Enem foi realizado em meio à crise de servidores no Inep. Servidores afirmam que houve pressão para a troca de questões da prova.

COMPARATIVO

Segundo o Inep, a abstenção foi de 52% no ano passado, quando já havia pandemia. Em 2019, foi de 22%, e em 2018 de 24,7%. Nos anos anteriores, 2017 e 2016, foi superior a 30%, mesmo sem pandemia, o que foi destacado por Milton Ribeiro, que ainda minimizou o baixo número de inscritos este ano.(das Agências) 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;