Setecidades Titulo Vila São Pedro
Reintegração de posse em São Bernardo
é marcada por tumulto

Ação da Prefeitura na Vila São Pedro revoltou moradores, que se dizem desamparados; gases de pimenta e lacrimogêneo invadiram escola vizinha

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
21/10/2021 | 00:01
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André Henriques/ DGABC


A Prefeitura de São Bernardo deu sequência ontem ao processo de desapropriação de residências construídas nas margens do Córrego Saracantan, na Rua dos Vianas, na Vila São Pedro. A ação tinha como alvo casas de pessoas que moravam no local há 50 anos. 

Municípes protestaram contra a desapropriação e tentaram impedir o trabalho de duas retroescavadeiras. O clima ficou tenso, houve princípio de tumulto e os agentes da GCM (Guarda Civil Municipal) utilizaram gás de pimenta e gás lacrimogêneo para conter os manifestantes. Um homem foi conduzido para a delegacia após jogar pedras no maquinário e foi liberado na sequência. 

Conforme a moradora, militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e auxiliar de serviços gerais Joana Darc, 49 anos, os moradores foram despejados sem qualquer tipo de amparo. “Eles (Prefeitura) alegam que estão dando todo apoio para as famílias, mas isso é mentira. O pessoal está sendo despejado sem nenhuma ajuda, sem saber para onde ir”, reclamou Joana. De acordo com a munícipe, a administração deu prazo de 48 horas para os moradores saírem do local. 

Liliane Alves da Silva, que mora no local desde quando nasceu, há 36 anos, relata o desespero de não saber para onde ir após a ação de desapropriação. A autônoma disse que no local em que ela vivia, moravam mais mais dez famílias e que a maioria não tem a quem recorrer na cidade. “Não tenho para onde ir. Nesse momento, eu não sei o que vou fazer. É difícil ver a casa em que vivi minha vida toda ser demolida assim, em questão de minutos”, declarou a moradora, visivelmente emocionada. 

A Prefeitura de São Berrnardo, sob comando do prefeito Orlando Morando (PSDB), alegou que as moradias estavam instaladas irregularmente em terreno municipal e em área de risco, às margens do córrego. “O local recebe atualmente obras de canalização e melhorias viárias. Segundo relatório elaborado pela Defesa Civil do município, o córrego possui vazão insuficiente para drenagem, podendo ocasionar inundações no período de fortes chuvas, colocando em risco os munícipes que lá se encontram”, declarou a administração, por meio de nota.

Ainda conforme a Prefeitura, os moradores já haviam sido notificados há um ano e devem ser inseridos no Programa Renda Abrigo, que disponibiliza auxílio-pecuniário temporário, até que unidades habitacionais definitivas possam ser ofertadas. “Isso porque as famílias remanescentes recusaram oferta da Prefeitura para moradia no conjunto Novo Jardim Regina, entregue em dezembro de 2019”, informou o Paço de São Bernardo. 

GÁS INVADE ESCOLA

Alunos e profissionais que estavam na Emeb (Escola Municipal de Educação Básica) Maria Therezinha Besana, que fica bem próximo ao local da desapropriação, acabaram passado mal com os efeitos dos gases lacrimogêneo e de pimenta que foram lançados pela GCM durante a retomada da posse. 

O Diário teve acesso a vídeos que mostram os alunos fora da escola, chorando e assustados. A vereadora Ana Nice (PT) confirmou a situação e afirmou que ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foram enviadas à escola para atender professores e as crianças. Integrantes do Conselho Tutelar foram até o local para averiguar o que ocorreu e pretendem representar a GCM ao MP (Ministério Público) por maus tratos contra as crianças e abuso de autoridade. 

A Prefeitura de São Bernardo confirmou que algumas crianças realmente passaram mal devido aos efeitos relacionados ao gás lacrimogêneo e ao gás de pimenta que foram lançados pela GCM durante ação.




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