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Cresce busca para tratar saúde mental

Caps na região dão atenção psicossocial; cidades detectaram maior demanda com a pandemia

Arthur Gandini
Do Diário do Grande ABC
10/10/2021 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


Cidades da região detectaram aumento da procura por tratamento da saúde mental em seus Caps (Centros de Atenção Psicossocial). Os locais oferecem atendimento de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas ocupacionais. São a porta de entrada para o SUS (Sistema Único de Saúde). As pessoas são acolhidas, tratadas ou encaminhadas para outros equipamentos como as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Cada centro possui um público específicos voltado para jovens, adultos ou dependentes químicos. 

Segundo as prefeituras, ao todo há 29 Caps na região. São cinco centros em Santo André; dez em São Bernardo; dois em São Caetano; cinco em Diadema; três em Mauá; três em Ribeirão Pires; e um em Rio Grande da Serra.

A administração andreense afirma não ter dados específicos sobre o aumento do número de atendimentos, mas relata ter percebido “uma demanda importante nos últimos meses em relação aos estados de ansiedade, depressão e luto”. São Caetano diz ter havido crescimento de 50% na quantidade de triagens realizada com novos pacientes de janeiro a outubro deste ano, no comparativo com o mesmo período de 2019. Já Ribeirão Pires prevê que será registrado aumento de 60,7% de atendimento nos Caps no fim de 2021, em comparação com o período pré-pandemia. Rio Grande da Serra afirma que houve aumento de 5% nos acolhimentos realizados entre maio e outubro de 2021. Diadema, por sua vez, diz que não é possível confirmar o aumento da demanda já que, no ano passado, atendimentos à saúde mental eram compartilhados entre os Caps e as UBSs. São Bernardo e Mauá não forneceram as estatísticas sobre os acolhimentos.

É comemorado hoje o Dia Mundial da Saúde Mental e especialistas afirmam que o tratamento psicossocial se tornou mais necessário com a pandemia, mas que ainda é menosprezado. “O tema encontra um estigma social importante, associado à loucura. É comum que serviços como o Caps por vezes sejam invisíveis socialmente”, afirma Glauber Mendonça Moreira, professor de psicologia da Universidade Metodista de São Paulo.

Roberto Debski, psicólogo e médico clínico geral, ressalta que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física. “Devemos cuidar do nosso emocional para termos uma base de resiliência para lidar com as questões práticas da vida sem adoecermos”, defende.

Já Fabiana Cristina Souza, professora de psicologia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) lembra que o tema está interligado a questões socioeconômicas. “Não é possível ter saúde mental sem ter renda, emprego, educação e acesso aos serviços de saúde. É preciso garantir condições para que as pessoas não adoeçam mentalmente”, observa.

Familiares de usuários dos serviços criticam atendimento

O Diário ouviu moradores da região sobre a qualidade do serviço prestado pelos Caps. A designer de sobrancelha Elaine Geraldo, 57 anos, sofre de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e elogia o tratamento do Caps III de Mauá, no bairro Matriz. “A gente é bem recebido. (Há) Um ótimo médico e os profissionais são gabaritados a lidar o problema”, afirma. 

Já a dona de casa Sandra Seloti, 54, afirma que vive longe do filho devido ao mau atendimento no Caps II Infantil em Santo André, na Vila Guiomar. O jovem Nicolas Pereira, 12, sofre de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e de TOD (Transtorno Desafiador de Oposição). Ele agrediu a mãe em meio a surtos e, sem condições de ser cuidado por ela, mudou-se para morar com o pai em Sorocaba. 

Sandra afirma que ao pedir que o Caps de Santo André acolhesse o filho ao longo do dia, teria ouvido de funcionários que o local não era creche. O centro também sofre com a falta de psicólogos. “O Nicolas já foi atendido por farmacêutico”, conta.

A técnica de enfermagem Laura Fernandes, 23, também reclama que o Caps III do bairro Vila Vitória, em Santo André, recusou-se em manter por mais tempo internado o seu irmão Eduardo Fernandes, 20, que sofre de autismo e esquizofrenia. 

Outra reclamação é o fato de que apenas os Caps na modalidade infantil teriam tratamento especializado para pessoas com autismo. Ana Paula Brasil, presidente do projeto Conecta PCD em Santo André, diz que as pessoas com essa comorbidade ficam desamparadas ao completarem 18 anos. Ela elogia hoje o atendimento nos centros, mas afirma que deveriam receber mais investimentos.

Em nota, a Prefeitura de Santo André destacou “que está em andamento o programa Qualisaúde, voltado à qualificação física das unidades que compõem a rede municipal de saúde e ao atendimento humanizado. Até o momento, 34 unidades foram reformadas, revitalizadas ou construídas e o projeto contemplará toda a rede”. “ Todos os profissionais que compõem a equipe são aptos para o atendimento multidisciplinar, incluindo acolhimento, avaliação e todo o cuidado às pessoas em sofrimento psíquico, independentemente do diagnóstico”, completou a nota.




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