Internacional Titulo
França e Rússia apoiam suspensão de patente de vacinas; Brasil avalia adesão
07/05/2021 | 08:00
Compartilhar notícia


Os ativistas comemoraram, as farmacêuticas reclamaram e muitos governos reavaliam o que fazer depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, declarou apoio à suspensão de patentes de vacinas contra a covid-19 para acelerar a imunização em países pobres. Ontem, França e Rússia seguiram a posição americana e defenderam a medida. O Brasil, que é contra, admitiu que pode mudar de opinião.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos Alberto de Franco França, disse ontem que o governo brasileiro não mudou de posição sobre a quebra de patentes na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas não descartou a hipótese.

"Ainda estamos tentando entender a mudança dos EUA sobre a quebra de patentes, mas a posição do Brasil não mudou", disse França, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. "Não tenho amor a nenhuma dessas posições. Mas nada impede que a posição (do Brasil) de hoje seja atualizada amanhã."

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse ontem ser contra a quebra de patentes. Durante depoimento à CPI da Covid, no Senado, ele disse temer que o Brasil não tenha condições de produzir as vacinas, mesmo com a suspensão dos direitos de propriedade intelectual.

"Como nosso programa está calcado em vacinas, como a da Pfizer e da Janssen, isso pode interferir negativamente no aporte de vacinas para o Programa Nacional de Imunização. Claro que isso é uma opinião inicial. Vi que Biden se manifestou. Isso carece de análise mais detida", afirmou Queiroga.

Em Paris, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou ser "totalmente a favor" de liberar patentes, mudando a posição francesa, que até então defendia que a medida desencorajaria a inovação e a pesquisa científica. Para Macron, a prioridade deve ser "a doação de doses" e a "produção de vacinas em colaboração com os países mais pobres".

O presidente russo, Vladimir Putin, também disse ser favorável à quebra de patentes. "Estamos ouvindo uma ideia que, em minha opinião, merece atenção: remover completamente as proteções de patentes das vacinas", disse Putin. "A Rússia, é claro, apoia essa abordagem."

O apoio de Biden à suspensão das patentes aumentou a pressão sobre governos europeus. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ontem que o bloco está "pronto para discutir" a proposta. "No curto prazo, porém, pedimos a todos os países produtores de vacinas que permitam as exportações e evitem medidas que interrompam as cadeias de abastecimento."

O maior obstáculo à medida vem da Alemanha. "A sugestão dos EUA tem implicações significativas para a produção de vacinas como um todo", disse Ulrike Demmer, porta-voz da chanceler Angela Merkel. "Os gargalos são a capacidade de produção e o alto padrão de qualidade, e não as patentes."

Segundo o ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, o problema da escassez de vacinas exige uma solução rápida que só será alcançada com o aumento da produção. "A discussão sobre a quebra de patentes deve demorar um tempo. No curto prazo, para as pessoas que esperam uma vacina agora, isso não ajudará. Por isso, devemos continuar priorizando o aumento da produção e a otimização das cadeias de distribuição."

O raciocínio do governo alemão é o mesmo dos laboratórios. De acordo com os fabricantes, as patentes não são um obstáculo para a produção de vacinas. A BioNTech e a alemã Curevac alegam que o problema está na matéria-prima para a produção e pedem o fim das restrições americanas para a exportações de insumos.

"A suspensão das patentes é a resposta mais simples, mas errada para um problema complexo", disse a Federação Internacional de Associações e Fabricantes Farmacêuticos. "A renúncia de patentes não aumentará a produção nem fornecerá soluções práticas necessárias para combater a crise sanitária global."

A indústria também argumenta que a flexibilização reduziria os incentivos que impulsionam as inovações. Mas ONGs, ativistas e organizações internacionais discordam. "A suspensão de patentes pode mudar o jogo para a África, desbloqueando milhões de doses e salvando inúmeras vidas", disse o chefe da OMS para a África, Matshidiso Moeti.

A ONG Médicos Sem Fronteiras também elogiou a ideia. "A MSF aplaude a decisão ousada dos EUA de apoiar a renúncia à propriedade intelectual das vacinas neste período de necessidade sem precedentes", afirmou Avril Benoit, diretora da MSF nos EUA. (Com agências internacionais)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;