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MPT dá 10 dias para Ford fazer novo comunicado

Firma deve se comprometer a minimizar impactos a S.Bernardo; reunião foi marcada por tensão

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
15/03/2019 | 00:05
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Nario Barbosa/DGABC


A segunda reunião para mediação de conflito acerca do fechamento de fábrica da Ford em São Bernardo, comandada pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) ontem, terminou sem acordo. O órgão deu prazo de dez dias para que a montadora emita novo comunicado se comprometendo a buscar novos compradores para a planta e a minimizar os efeitos à cidade.

Participaram da reunião os procuradores do Trabalho Sofia Vilela e Ricardo Ballarini, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), o presidente do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Wagner Santana, o Wagnão, e representantes dos setores jurídico, RH (Recursos Humanos) e relações governamentais da Ford. Depois de aproximadamente duas horas do início do encontro, os ânimos se exaltaram e o prefeito deixou o local.

Por meio de nota, a Prefeitura de São Bernardo afirmou que a cidade foi desrespeitada pela Ford Motor Company, e por isso o prefeito abandonou a audiência ontem. “Diante da injustificada recusa em apresentar o plano de desmobilização da empresa, inclusive não atendendo a requisição do próprio Ministério Público Federal do Trabalho, o prefeito de São Bernardo requereu ao Ministério Público Federal a expedição de recomendação contra a Ford para que ela apresente, oficialmente, o plano de desmobilização decorrente da decisão de encerramento das atividades da planta industrial na cidade”, informou.

RECUO - Anteriormente, o MPT recomendou que a empresa suspendesse o anúncio do fechamento. Com a reafirmação da empresa de que a saída do município é irreversível, foi pedido que a mesma divulgue novo posicionamento. “Entendemos que é importante que a empresa faça nota explicativa dizendo que, apesar do encerramento das atividades, ela reunirá esforços na tentativa de buscar possíveis compradores da planta, de maneira a viabilizar a manutenção dos postos de trabalho e minimizar os impactos para o município. Houve consenso entre o sindicato, o município e o Ministério Público mas, de pronto, a empresa não atendeu. Ela se comprometeu a levar a demanda e depois vai informar da decisão”, disse Ballarini.

De acordo com Wagnão, isso seria importante para tentar recuperar o ambiente de normalidade dentro da empresa e tranquilizar os trabalhadores. “Insistimos hoje (ontem) para a Ford suspender o comunicado, e não a decisão de fechamento, o que, para nós, está claro que não vai acontecer. Mas nós precisaríamos ter condições para retornar a trabalhar com o ambiente de normalidade. São dois aspectos: a nossa participação junto a negociações de um possível parceiro e, num segundo momento, definido isso, como se darão as relações de um processo de indenização da Ford”, disse o sindicalista. “Porque essas relações de trabalho terão que ser encerradas (mesmo que os operários sigam trabalhando para a nova empresa, mas não mais para a Ford) e envolverão PDV (Programa de Demissão Voluntária), indenização, plano médico e uma série de coisas”, assinalou.

O procurador do trabalho destacou que o anúncio de fechamento causou apreensão nos trabalhadores “que lidam com máquinas e criou uma situação de abalo psíquico que pode causar acidentes. E o município pode ser prejudicado em investimentos por conta deste anúncio”, avaliou.

Segundo Ballarini, após este prazo, serão estudados os próximos passos para os desdobramentos das conversas com a montadora. “A empresa se coloca sempre à disposição, mas concretamente ela não dá um passo para facilitar essas negociações com os trabalhadores e o município”, destacou.


Sindicato pede que Bolsonaro fale com Trump sobre a Ford

Representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC se reuniram com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e pediram que ele interceda para que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) inclua o fechamento da Ford em São Bernardo na pauta da reunião que terá com presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O pleito foi compartilhado com os trabalhadores em assembleia realizada ontem em frente à montadora.

“Maia assumiu o compromisso de conversar com o presidente. Também pedimos para que um representante dos trabalhadores pudesse integrar a delegação que vai aos Estados Unidos falar sobre as particularidades desse caso. Ele ficou de nos dar um retorno até sábado (amanhã)”, contou o coordenador do comitê sindical na Ford, José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba.

O sindicalista disse ter ressaltado que a Ford recebeu muito dinheiro do Estado em incentivos fiscais, cerca de R$ 7,5 bilhões, só nos últimos cinco anos. “O Estado tem a prática de dizer que não se mete com capital privado, mas dada a quantidade de dinheiro que a Ford recebeu no Ceará, com a Troller, e em Camaçari, na Bahia, podemos considerar que ela é uma empresa de capital misto. O governo tem sim de se envolver. Maia se comprometeu a analisar todo o histórico.”

Comissão sindical também conversou com o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris (PSDB), em reunião articulada pelo deputado estadual Teonílio Barba (PT), para pedir apoio na luta pelos empregos. De acordo com Alexandre Colombo, diretor executivo do sindicato, o presidente da Casa garantiu que “o Legislativo fará tudo o que for necessário, enquanto atuação do poder público. Se for necessária uma carta, eles farão, se for necessário chamar os executivos, eles farão. E se houve incentivos fiscais do Estado, os deputados vão cobrar”.

POSSE DE DEPUTADOS - Hoje, às 13h, os metalúrgicos farão ato em frente à assembleia, durante cerimônia de posse dos deputados. “O Estado é um dos interessados na nossa conversa. Vamos levar a nossa angústia e agonia para ver como os parlamentares podem contribuir para mitigar os efeitos da decisão da Ford”, afirmou o presidente da entidade Wagner Santana, o Wagnão. A paralisação na planta da região continua.  




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