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Sinfônica de Santo André faz boa estréia em 2001
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
12/04/2001 | 00:03
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  Uma noite de gala, com música e artes plásticas, proporcionaram um raro prazer ao bom público que compareceu terça no Teatro Municipal de Santo André. A mostra de gravuras de mestre Luiz Sacilotto no saguão já justifica várias visitas, mas havia outro acontecimento: a Orquestra Sinfônica de Santo André abriu sua temporada 2001 com um programa ao mesmo tempo diversificado e festivo.

A diversificação ficou por conta da participação da mezzo-soprano Céline Imbert, que na primeira parte interpretou quatro canções brasileiras, e na segunda, o formidável ciclo de canções Noites de Verão, de Berlioz. Já a parte festiva ficou por conta do encerramento com o Bolero de Ravel.

A Suíte Antiga, de um de nossos mais talentosos compositores, o cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), abriu o programa. Obra calcada no barroco, não é mais do que um bem-sucedido exercício de composição.

Muito desiguais as quatro canções assinadas por brasileiros. A Ave Maria de Carlos Gomes, em italiano, pouco tem de nacional; respira, apesar do tema religioso, um clima operístico indisfarçável. Na seqüência, foram executadas duas canções de Lorenzo Fernandez, um excelente melodista, e uma de Francisco Mignone.

Bela a Toada para Você com versos de Mário de Andrade, e Alma Adorada, onde Mignone transporta alguns dos truques que o tornaram conhecido na música decididamente popular com o pseudônimo de Chico Bororó.

Berlioz, evidentemente, foi a estrela da noite. Céline, que não pôde ser classificada maravilhosa nas canções brasileiras (vibrato um pouco excessivo na voz), foi muito melhor no ciclo de seis canções. Impressionante como a refinada orquestração de Berlioz jamais encobriu a voz poderosa de Céline (ao contrário da primeira parte). Notáveis igualmente o empenho da cantora e da orquestra.

Curioso mesmo foi Céline tirar e pôr óculos de leitura. Nas primeiras canções, colocava os óculos para ler a partitura e os tirava depois da interpretação, quando a platéia aplaudia. Na que sabia de cor, cantou sem óculos e soltou-se muito mais.

Até o século XIX, os músicos liam suas partes normalmente em público; a figura do artista genial que tocava tudo de cor só surgiu no romantismo, a partir de Liszt, quando o clima do concerto tinha aquela porção de magia e de sobrenatural cercando o artista. Agora, esquisito é misturar as coisas, ora seguindo a partitura, ora de cor. Ainda mais pondo e tirando óculos.




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