Cultura & Lazer Titulo
Protagonistas de si mesmas
Por Thiago Mariano
15/06/2010 | 07:01
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Em Santo André, no fim de semana, três atrizes subiram em dois diferentes palcos. Christiane Torloni, no Teatro Municipal, com A Loba de Ray-Ban e Georgette Fadel e Isabel Teixeira, no Sesc Santo André, com Rainha - Duas Atrizes em Busca de Um Coração.

Em comum, nesses dois metalinguísticos palcos, que fizeram a ponte entre o teatro e o real, o real e o teatro, ad infinitum, estavam outras 1.000 mulheres reinterpretadas e reinventadas pelas três.

Entre Medeias, Mary Stuarts, Elizabeths I, Christiane, Georgette e Isabel, estavam representadas Marias, Joanas e Suelens. Todas com uma busca comum: pertencer a si mesmas.

Christiane não brilhou sozinha. Trouxe à luz Leonardo Franco e Maria Maya, seus respectivos marido e amante. A loba, uma grande atriz de teatro em crise de solidão, estava enfrentando um grande outro problema: a meia-idade.

No embate contra a amante e o ex-marido, vira e mexe a questão da idade era suscitada. E o que era a base do discurso para derrubar a veterana e apaixonada atriz abandonada pelos dois, foi subvertido.

O norte de Júlia, personagem de Christiane, era a paixão. E continuou a ser o seu guia. Mesmo sem ter Paulo (Leonardo Franco) ou Fernanda (Maria Maya) para amar, ela continuou apaixonada pelo ofício e pela decisão de ser protagonista não apenas nos palcos, mas na sua própria vida.

As rainhas que entraram no palco do Sesc Santo André marcam outra subversão. Já na porta de entrada do teatro, tudo começa com o jogo entre duas atrizes que deveriam estar no palco na pele de Mary Stuart e Elizabeth I, as duas rainhas que disputaram a coroa da Inglaterra no século 16.

Um deleite para quem gosta do jogo cênico, das transposições de histórias, personagens e da fusão do real e do ficcional.

De atrizes, as duas passaram para mulheres e rainhas, indo e voltando nas metamorfoses. Entre a costura, estava o clássico texto de Schiller, Mary Stuart, e estavam também os textos criados pelas próprias atrizes em processo feito junto com a diretora Cibele Forjaz.

O que era uma disputa histórica, virou a guerra entre duas atrizes, para ver quem brilhava mais, e picuinha entre duas mulheres, sobre coisas banais do universo feminino.

Foram duas provas de que o teatro, usando pouco ou muito em cena, padronizado ou não, só pode ser mensurado através de dois elementos: o texto e o ator. E que só o olhar de grandes artistas é capaz de engendrar milhares de outros mundos onde só se vê o senso comum.




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