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Para William Dib, gestão Luiz Marinho é inoperante
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
27/04/2009 | 07:00
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O ex-prefeito de São Bernardo William Dib (PSB) não poupou críticas à atual gestão de Luiz Marinho (PT). Distante do Paço há quase quatro meses, o socialista classificou a administração petista de "inoperante". Sem mencionar o nome de Marinho, o qual tratou apenas como "ele", Dib concentrou sua análise no fato de o chefe do Executivo não conseguir aprovar na Câmara os três projetos de reforma administrativa. "Ele acredita que ninguém tenha a capacidade de ler esses projetos, de analisar. Ele acredita na ignorância das pessoas", afirmou o ex-prefeito, ao ressaltar que as proposituras são inconstitucionais. William Dib, que atualmente realiza trabalho partidário para consolidar sua candidatura a deputado federal no ano que vem - montou escritório político na Vila Dusi -, comentou ainda a atuação dos vereadores de oposição (seus aliados do PSB, PMDB e PSDB), a saída dos parlamentares do DEM de seu grupo e confirmou a ajuda ao bloco oposicionista.

DIÁRIO - Como o sr. avalia os quatro primeiros meses do governo Luiz Marinho?
WILLIAM DIB -
Vejo com tristeza. Vejo um governo inoperante. As grandes propostas do governo sequer chegaram ao papel. E ele se esconde atrás de uma irrealidade inconcebível para quem conhece a administração pública, para quem conhece leis, que são três projetos de mudança de gestão. E nem discutimos o mérito ainda. Ele acredita que ninguém tenha a capacidade de ler esses projetos, de analisar. Ele acredita na ignorância das pessoas. Acho isso constrangedor para uma cidade como São Bernardo, que tem uma cultura política conceituada nacionalmente. E a partir do fracasso dos projetos faz um panfleto pressionando os vereadores a votarem (a favor), isso causa constrangimento aos vereadores. Os projetos são inconstitucionais, têm pareceres contrários do setor jurídico da própria Casa e de outras entidades. Eles falam que isso é balela, que a oposição fala isso porque perdeu a eleição. Os vereadores que estão lá venceram a eleição e por isso têm direito ao voto. Se hoje ele não tem a maioria absoluta, é porque o resultado da eleição foi esse.

DIÁRIO - Quais os pontos que o sr. avalia serem mais graves nos projetos de reforma administrativa?
DIB -
O mais grave é quando eles falam que a Saúde só melhora com (a aprovação dos) projetos, acreditando que ninguém lê os projetos. Eu desafio alguém ler e mostrar um parágrafo, um item, que melhora a Saúde. Ele tem de recontratar os médicos que está perdendo diuturnamente. Já perdeu mais de 70 médicos, fora outros profissionais da área. A reposição tem de ser automática. Se saiu, no dia seguinte o secretário manda contratar. Isso não depende do projeto, que não prevê a abertura de uma vaga para médico, só para cabo eleitoral. Por que cabo eleitoral? Porque quem propõe criar cargo de chefia mas sem especificar suas funções e sem pedir qualificação, descrever a função, é porque quer uma pessoa despreparada. Se quisesse alguém preparado colocaria a denominação dos cargos. Estamos pedindo o mínimo.

DIÁRIO - Alguns programas estão parados e houve intervenções em alguns equipamentos públicos criados nas gestões do sr. Isso é para apagar as marcas de sua administração?
DIB -
Ele fechou as Emips (Escolas Municipais de Iniciação Profissional) sem explicação. E não fui eu quem criou. Eu criei o Turma Cidadã. E por raiva política deixou de contratar 1.000 jovens para o primeiro emprego, fazer a capacitação desse pessoal. Mesmo sem formalizar as novas Pastas que quer criar, ele já tem secretário de Cultura, de Turismo, de Administração. Os caras têm até cartão, estão trabalhando. E não consegue fazer a Emip funcionar? Ele quer melhorar a segurança da cidade assim? Tirou a Guarda Municipal da porta das escolas e colocou na frente do Paço. Para proteger que bem? O maior patrimônio são as pessoas, gente, nossas crianças. E isso não está nos projetos. E pra jogar a população contra nós fechou prontos socorros rotineiramente, nunca foi fechado pronto-socorro por falta de profissional, nunca. Veja se não é demagogia criar o programa de internação domiciliar, em que houve contratação, e não contratar para UBS (Unidade Básica de Saúde). Não dá pra viver de subterfúgios. Falar para aprovar o projeto que irá melhorar a cidade. Isso é desculpa. Quando a responsabilidade é sua e você põe a culpa nos outros é antiético, é leviano. Assuma. Eles falam que eu perdi a eleição, mas eu não fui candidato. Se precisar de ajuda eu estou disposto a ajudar. E bato palma se eles acertarem. Do jeito que está não tem discussão, está feio.

DIÁRIO - Como o sr. avalia a relação do Executivo com a Câmara?
DIB -
Acho que o papel que os vereadores de oposição estão desempenhando é fantástico. É preciso ter ideia do que eles estão passando. Temos de tirar o chapéu para essa moçada. Eles estão nos defendendo. Agora estão com raiva porque não têm a maioria? Eles foram eleitos pela população e estão lá.

DIÁRIO - O sr. está colaborando com a oposição?
DIB -
Dentro das minhas limitações, sim. Em técnica legislativa eles dão um banho em mim, os vereadores mais velhos têm mais conhecimento de Câmara do que eu. Agora, sobre administração pública eu conheço os objetos, o porquê dos projetos, onde eles podem alcançar... isso tenho ajudado porque eles são meus amigos, acima de aliados políticos. Tenho compromisso com essa cidade. Não sou alienado. Agora, o que fazer na sessão da Câmara, processos jurídicos, essas coisas eles sabem muito mais do que eu.

DIÁRIO - Após o resultado das eleições do ano passado, o sr. acreditava que teria 12 vereadores na base de oposição. A mudança de lado dos parlamentares do DEM (Ramon Ramos e Fábio Landi)?
DIB -
É coisa de Brasil, da democracia brasileira. Não tenho raiva, não tenho ódio. A vida é assim. A gente tem que levar a vida como ela é, e não como a gente gostaria que fosse. E depois eles têm de dar satisfação para os eleitores deles. Acho que o político brasileiro não só tem de fazer as coisas legais, que são obrigação. Mais que isso, têm de fazer as coisas moralmente corretas. A lei nos permite coisas eticamente incorretas. A lei é dúbia, mas moral ou eticamente, não há dúvidas.

DIÁRIO - A inclinação do presidente da Câmara, Otávio Manente (PPS), para mudar o regimento interno para poder votar normalmente é uma manobra para facilitar a aprovação dos projetos do Executivo?
DIB
- Não sei se em algum lugar que vive processo democrático ocorreu isso. Não sei como ele quer propor, o que quer fazer. Coloco sempre em dúvida a legitimidade das coisas. Não sei se é legal, mas insisto que não é moral e não é ético.

DIÁRIO - No início da gestão, o prefeito Luiz Marinho participou de muito eventos de grande apelo popular. Isso também faz parte do cotidiano do administrador público ou o sr. avalia de outra forma?
DIB
- Quando não se consegue fazer da mídia um processo administrativo normal, você tem de arranjar meios diferentes. Isso é uma técnica bastante utilizada. Quando não consegue fazer nada, você vai ao evento do José, do João, para aparecer. Já que você não faz, os outros fazem e você aparece.

DIÁRIO - Depois de quatro meses fora da Prefeitura, o sr. continua com atividades políticas efetivas?
DIB -
Estou ajudando o PSB na região, em São Paulo, agregando valor nas políticas nacionais. Tenho conseguido reunir os amigos com relativo sucesso e isso me conforta. Na prática, estou trabalhando para construir um PSB mais forte para as eleições de 2010. Ando pouco na rua, mas quando faço sou recebido de maneira calorosa, isso satisfaz.

DIÁRIO - A candidatura a deputado federal é uma realidade?
DIB -
Coloquei meu nome à disposição do presidente do partido. O PSB acha que é uma condição natural e no momento correto, de fechamento de chapa, de coligações, a decisão será tomada. Se eu puder disputar eu vou. Hoje sou pré-pré-candidato.

DIÁRIO - Caso a candidatura prospere, qual será a relação com Edinho Montemor, potencial pleiteante do PSB para o mesmo cargo?
DIB
- Isso é um problema dele, não meu. Ele está dentro da administração e nós somos oposição. É impossível imaginar uma relação assim. Ele que escolheu. É legal, a lei permite. Mas é moral?




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