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Guardar dinheiro em casa é prejudicial
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
30/05/2010 | 07:03
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Dona Raimunda, 84 anos, é exemplo de disciplina financeira. Com suas economias, que ficam em lugar secreto na residência, ela pagou viagens de uma das filhas que mora no Nordeste e emprestou cerca de R$ 3.000 para o genro comprar uma moto no ano passado. Raimunda acha mais fácil guardar o dinheiro em casa, do que no banco.

A professora e cozinheira Ivone, moradora de São Bernardo, fez o mesmo. Com objetivo de pagar sua festa de aniversário de 60 anos, ela juntou dinheiro em uma carteirinha, em casa. "No começo, eu queria viajar para Porto Seguro, mas meu marido não teve tempo disponível e acabei desistindo. Então resolvi fazer a festa", conta.

Ao todo, Ivone juntou R$ 1.500 e preparou a comemoração no sábado, 17 de outubro do ano passado -, três dias depois do seu aniversário. Assim, ela conseguiu acomodar e entreter cerca de 50 parentes. "Foi muito difícil juntar (o valor). Você fica tentado a gastar", lembra, destacando, no entanto, que a economia valeu o esforço.

Segundo especialistas no assunto, mesmo demonstrando disciplina financeira invejável, Raimunda e Ivone não estão economicamente corretas. "Guardar poupança em casa é perigoso. A pessoa pode ser roubada ou, se há muita gente transitando pelo local, alguém pode pegar", avalia o professor de finanças George Ohanian, que ministra aulas no Insper. Também por motivo de segurança, os nomes completos dos entrevistados não serão divulgados.

O educador do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Cláudio Salvadori Dedecca acrescenta que "com o dinheiro no banco há mais segurança". O único transtorno para o poupador são as tarifas para manutenção de conta-corrente. Mas, ambos os profissionais, indicam a poupança. "É simples, fácil, não tem custo, não tem Imposto de Renda, é popular e todos os bancos têm", salienta Ohanian.

Depois da festa, Ivone entrou no caminho que os economistas apontam como correto. "Vou gastar sempre que quiser comprar alguma coisa", diz a cozinheira.

Psicologia - Para o economista e pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) André Braz, guardar dinheiro em casa e não confiar em contas poupanças ou investimentos "é uma questão psicológica". "Se a pessoa tem dificuldade em guardar, pode colocar o valor em poupança de um banco não utilize. Uma que não seja onde entra o salário. Depois, pegue o cartão desse fundo e coloque-o no cofre de casa, ao invés do dinheiro", orienta. Ele brinca que será mais difícil gastar o valor neste caso e o rendimento será maior com a aplicação.

Braz enfatiza que a inflação também vai comer o poder de compra das esconomias guardadas embaixo do colchão. Isso porque os preços sobem, e o dinheiro guardado em casa não.

Controle de gastos é única vantagem do fundo caseiro
Edson acumulou R$ 3,4 mil em moedas, de R$ 1 e R$ 0,50, no cofre de casa em dois anos. Quando foi trocar o dinheiro no banco, teve que pedir ajuda de um parente, pois o compartimento estava com, aproximadamente, 70 quilos. A economia rendeu a mobília da sala de jantar e de estar.

"Toda moeda que eu pegava, ia direto para o cofre. Quando viajei, se pagava com R$ 10 o pedágio que custava R$ 1, o troco de R$ 9 ia para lá", contou. Ele não terá o nome completo revelado por motivo de segurança.

Na opinião do professor do curso intensivo de pós-graduação em Finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Márcio Torres, com a medida, Edson teve maior controle sobre os gastos, que é uma das vantagens de guardar dinheiro em casa.

Torres destaca que o problema dos cofrinhos e colchões, é que eles não facilitam o acesso dos poupadores ao crédito na hora da necessidade, como conseguir um financiamento, por exemplo. "Muita gente tem conta em banco, e o custo é pequeno", destacou.




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