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Se a moral não existe, tudo é permitido

Se o caro leitor está pensando que o Congresso não faz nada para acabar com os escândalos, engana-se

Carlos Brickmann
12/04/2009 | 00:00
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Se o caro leitor está pensando que o Congresso não faz nada para acabar com os escândalos, engana-se: os nobres parlamentares já estão em ação.

Há problemas, claro: descobrir que Arnaldo Jardim, do PPS paulista, em cujo apartamento foi fundada a Frente Parlamentar Anticorrupção, também pagava a empregada doméstica com dinheiro público, não contribui para melhorar a imagem do Congresso. Descobrir que tanto Jardim quanto Alberto Fraga, do DEM de Brasília, outro que pagava a empregada com dinheiro do gabinete, pensam ter resolvido o problema ético demitindo as moças e prometendo não fazer mais isso, também não ajuda. Descobrir que Luciana Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique, continua como funcionária do senador Heráclito Fortes (DEM do Piauí), apesar de não aparecer por lá, não melhora a imagem da Casa.

Há mais, muito mais: as múltiplas passagens aéreas, as diretorias, os apartamentos funcionais cedidos a terceiros, os celulares emprestados para que ligações internacionais sejam pagas pelos cofres públicos, as despesas com combustíveis tão altas que não dá para crer, tudo faz mal à imagem do Congresso.

Mas o Congresso reage. Desde quarta-feira, não há nenhuma atividade parlamentar (logo, não há escândalos). De agora em diante, pedidos de informação feitos por jornalistas se transformam em processos formais, com firma reconhecida, que serão atendidos, se possível, em cinco dias. Os escândalos podem continuar. Mas será mais difícil revelá-los à opinião pública - a que paga a conta.

FILHO DO PADRE
A paraguaia Viviana Rosalith Carrillo, 26 anos, entrou com ação de investigação de paternidade contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que foi bispo católico até 2008, quando o Vaticano o liberou. Viviana Carrillo tem um filho de dois anos e pediu exame de DNA. Segundo diz, com apoio de testemunhas, tinha "uma vida de casal" com o então bispo. Os indícios são fortes. Parece que Lugo tirou a batina mais cedo do que se imaginava.

COMO ELES PENSAM
Frase do antigo diretor-geral da Polícia Civil de Brasília, Laerte Bessa, referindo-se às acusações de irregularidades nas investigações do delegado Protógenes Queiroz: "A autoridade policial durante uma investigação tem de cometer arbitrariedades, do contrário não consegue nada". Curioso: o tempo passou, mas a justificativa usada na ditadura militar para torturar os presos era a mesma.

NOSSO E DELES
Uma coisa curiosa entre os políticos é que, embora alguns se apropriem de dinheiro público para enriquecer, um grupo muito maior não rouba para aumentar seu patrimônio: apenas (apenas?) usa o dinheiro público como se fosse seu. Todas as comodidades e facilidades oferecidas pelo Tesouro para uso exclusivo em serviço são consideradas benefícios, para uso irrestrito e habitual, como se fizessem parte integrante dos vencimentos mensais. Eles - e seus colegas - não se consideram corruptos.

O BANCO DO CARA
A decisão de substituir o presidente do Banco do Brasil para forçar a baixa dos juros não se esgota em si mesma. Não é questão de discutir se a medida é ou não correta: o problema é que o Banco do Brasil é uma empresa de capital aberto, com papéis cotados em Bolsa e acionistas privados - entre eles alguns fundos de pensão de empresas estatais, que têm a obrigação de garantir aos associados um rendimento mínimo. Qualquer destes acionistas pode recorrer à Comissão de Valores Mobiliários contra a decisão que derrubou o valor de suas ações.

O FUMO NA MIRA
Dizem que tanto brasileiros quanto suíços gostam de jogar lixo na rua, mas que os suíços não jogam porque lá tem polícia. A lei antifumo aprovada pela Assembleia paulista, que praticamente proíbe fumar em lugares públicos, exceto as ruas, só vai funcionar se houver repressão - até porque o milionário lobby dos fabricantes de câncer promete reagir. Em São Paulo, já existe uma lei que proíbe fumar em shopping centers. Não é cumprida. E a Lei Seca, que proíbe dirigir veículos depois de beber, só funcionou enquanto houve fiscalização.

SUPERANDO-SE A CADA DIA
O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi já beliscou mulheres na rua, disse que só conseguiria combater o estupro se tivesse um policial para cada moça bonita, negou-se a ir a reuniões internacionais porque os representantes das grandes potências receberiam as atenções da imprensa. Mas agora se superou: diante do terremoto de L'Aquila, que matou centenas de pessoas e deixou milhares desabrigadas, brincou com a desgraça alheia, dizendo que os acampamentos de emergência deveriam ser encarados "como um camping de fim de semana". Explicou: "As pessoas têm assistência, calor humano, refeições quentes, cuidados médicos e remédios". Povo ingrato: como é que não está feliz com o terremoto? Só falta uma coisa para que Berlusconi atinja o máximo de suas possibilidades: naturalizar-se brasileiro. Na política, em Brasília, iria sentir-se em casa.




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