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Obesidade é alerta nas escolas
Por Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
30/04/2006 | 08:27
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A divulgação de um relatório surpreendente sobre obesidade infantil desperta os educadores brasileiros para a importância de se criar uma cultura alimentar saudável entre crianças e jovens. O estudo da Associação Internacional para Estudo da Obesidade revela o tamanho do problema: nos últimos 20 anos, o índice de obesidade infantil no país cresceu 240%. Nos Estados Unidos, o aumento no período foi de 66%. E as perspectivas não são animadoras. A entidade afirma que a proporção de jovens com excesso de peso vai dobrar em quatro anos.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), três em cada dez crianças brasileiras são obesas. Os riscos de doenças precoces preocupa pais e médicos e revoluciona os padrões adotados pelas cantinas escolares. Aos poucos, os gordurosos hambúrgueres dão lugar a opções menos calóricas, como salgados assados, sucos (no lugar de refrigerantes) e frutas.

Para a professora de ensino fundamental Rosimary Marsulo Fante, é preciso mostrar às crianças as vantagens de uma alimentação saudável. "Minha filha toma suco de beterraba desde pequena. Ela fazia cara feia, mas depois se acostumou e, agora, come de tudo, inclusive pepino, brócolis e repolho. O segredo é perseverar", conta.

Segundo especialistas, o trabalho de educação alimentar deve ser iniciado desde cedo. Para a presidente da Associação das Escolas Particulares da região, Oswana Fameli, é preciso criar uma consciência sobre o que deve ou não ser ingerido pelas crianças. "Essa questão não pode ser discutida apenas dentro dos muros escolares. Os pais devem participar do projeto e ajudar no controle alimentar", diz.

Nesse sentido, a cantina escolar deve ser, somente, uma opção. "O ideal é que as crianças consumam o lanche preparado pelos pais, em casa. Quando isso não é possível, aí, sim, a cantina deve ser acionada", ensina Oswana. Na prática, porém, o desafio de resistir às tentações é grande. O estudante Caio Nogueira, 10 anos, afirma que prefere comer hambúguer no recreio. "Não gosto de sanduíche natural, o gosto é ruim", reclama.

Para modificar a cultura dos fast-foods, nutricionistas e professores de Educação Física de algumas escolas da região apostam na elaboração de cardápios saudáveis e aulas de culinária para crianças a partir de 2 anos. De acordo com a diretora de escola Primi Passi Singular, Maria de Fátima Ria Tosi, o objetivo principal das atividades é o desenvolvimento de hábitos saudáveis. "Acreditamos que, ao preparar as receitas, as crianças se sentem estimuladas a aceitar alimentos antes rejeitados", explica a diretora.

As receitas escolhidas são simples e frias para evitar o uso do fogão. A professora Monalisa Ferreira explica que as crianças já aprenderam a fazer saladas e sorvete de frutas, além de pães e paçocas. "O melhor dessas aulas é que as crianças aprendem conceitos de Matemática, Ciências, História e Geografia. A culinária também desperta os cinco sentidos", completa.

A pequena Isadora de Almeida Machado, 6 anos, adora participar das aulas. "Quando chego em casa, conto pra minha mãe tudo o que aprendi a fazer aqui e, quando ela deixa, ajudo na cozinha", conta. O colega de classe, Gustavo Buganza, 6, é mais independente. "Sou quase um cozinheiro", declara.

Vilões – Os vilões da obesidade infantil, segundo especialistas, são a urbanização e a mudança brusca no estilo de vida das famílias brasileiras. "Com a correria do dia-a-dia, os pais deixaram de preparar os alimentos dos filhos, que acabam abusando de frituras e refrigerantes, entre outros produtos calóricos", diz a pediatra da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade), Ligia Zaboto.

As cantinas escolares também colaboram para o aumento de peso notado nas crianças. A venda de refrigerantes, por exemplo, deveria ser cortada, sem hesitação, acreditam os especialistas. "Um estudo americano garante que o consumo de uma lata por dia rende seis quilos a mais no final do ano", diz a pediatra.

A participação do governo é imprescindível para um melhor resultado da educação alimentar nos próximos 20 anos. "As autoridades precisam começar a praticar medidas educacionais nas escolas, palestras para a população e políticas efetivas de prevenção da obesidade. A criança tem muita dificuldade em perder peso. As chances de ela se tornar um adolescente obeso é de 80%", revela Ligia Zaboto.

Controlar o peso das crianças é um costume que precisa ser adotado. O cálculo do IMC (Índice de Massa Corpórea), feito por meio de uma fórmula simples (veja quadro acima), pode fazer a diferença entre uma vida saudável ou não.




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