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Paulista vence o Palmeiras nos pênaltis e vai à final
Por Fernão Silveira
Do Diário OnLine
04/04/2004 | 19:21
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Numa tarde histórica em Araras, cidade que tem um dos piores times de São Paulo, o Paulista desbancou o Palmeiras e garantiu vaga na final do Campeonato estadual. Após um eletrizante empate por 3 a 3 no tempo normal, com direito a gol aos 49 do 2º tempo, a equipe de Jundiaí venceu por 4 a 3 na decisão por pênaltis. E a torcida palmeirense viu 'São Marcos' superado por um novo 'santo' do futebol: o jovem goleiro Márcio, que fez duas defesas nas penalidades – além das inúmeras intervenções em toda a fase mata-mata do estadual.

O campeonato de 2004, ano em que a capital completou 450 anos, verá uma final inédita. O Paulista terá pela frente o São Caetano, que no sábado eliminou o favorito Santos com uma goleada histórica (4 a 0). Os 'grandes' de São Paulo não ficavam fora da decisão desde 1990, quando o Bragantino bateu o Novorizontino e levou a taça.

Depois do empate por 1 a 1 no Palestra Itália, há oito dias, Paulista e Palmeiras protagonizaram um dos melhores jogos do Campeonato até aqui – senão o melhor. Os dois times proporcionaram um duelo aberto e repleto de opções, marcado pela emoção e pelo equilíbrio do primeiro ao último minuto.

O jogo no estádio Hermínio Ometto foi ainda melhor porque o Paulista assumiu uma postura mais ofensiva e atacou o Palmeiras, que mostrou sua raça peculiar para reagir em circunstâncias totalmente adversas. Mesmo longe de casa, pois foi punido com a perda de três mandos do estádio Dr.Jaime Cintra (Jundiaí), o Paulista confirmou o status de time revelação do campeonato.

O Palmeiras criou a primeira chance do jogo, logo aos 3, num chute de Magrão que saiu à direita de Márcio. Mas o Paulista não se abateu e balançou a rede em seguida, após uma falta em Aílton na intermediária. Galego bateu forte, a barreira abriu e a bola quicou a poucos metros do goleiro Marcos, encobrindo-o. Ajoelhado, olhando para o 'morrinho artilheiro', o camisa 1 palmeirense se arrependeu amargamente dos elogios que fizera ao "bom" gramado do Hermínio Ometto antes da partida.

Pedrinho, aos 13, num chute cruzado dentro da área, quase deixou tudo igual. Dois minutos depois, porém, o Palmeiras sofreu mais um revés. Numa jogada bem articulada pela direita, o lateral Lucas recebeu livre e cruzou com precisão na área. O atacante João Paulo subiu sozinho entre os dois zagueiros palmeirenses e cabeceou com categoria no contrapé de Marcos, que nada pôde fazer.

Assustado com a vantagem do rival, o alviverde apertou ainda mais a pressão e voltou a tropeçar nas finalizações. Aos 18, Pedrinho soltou um petardo da intermediária e Márcio defendeu no susto. Magrão, aos 20, invadiu a área pela direita e colocou rente à trave. O Paulista deu o troco em seguida e Canindé incomodou Marcos em dois chutes perigosos da intermediária.

O técnico Jair Picerni percebeu a carência do meio-campo palmeirense, que era apoiado unicamente em Pedrinho, e mexeu logo aos 22: Diego Souza deu lugar a Élson. A qualidade dos passes melhorou e o time passou a dominar o Paulista. Aos 24, Munõz cabeceou à queima-roupa em cruzamento de Baiano e exigiu linda defesa de Márcio. O colombiano voltou a desperdiçar grande chance aos 32, ao chutar por cima do gol após lançamento preciso de Pedrinho.

O Palmeiras se aproximava cada vez mais do gol. Só faltava acertar nas finalizações. Vágner Love, até então apagado na partida, mostrou suas qualidades de artilheiro e desafogou o Verdão ainda antes do intervalo, aos 40. Baiano lançou na área e o camisa 9 bateu de sem-pulo, colocando por cima de Márcio. Foi o 12º gol de Vágner Love na competição.

No começo do segundo tempo, o time da capital manteve a pressão e abusou dos cruzamentos na área, explorando tanto Lúcio (pela esquerda) quanto Baiano (pela direita). Se já estava difícil nas condições normais, o Palmeiras viu seu drama aumentar aos 17 minutos. Correia recebeu o segundo cartão amarelo, após falta violenta em Canindé, e foi mais cedo para o vestiário.

Mesmo em desvantagem numérica, o Palmeiras não perdeu a ofensividade. Picerni tentou colocar o time ainda mais para frente, trocando o lateral Baiano pelo meio-campista Rafael Marques.

Aos 23, Pedrinho soltou nova bomba da intermediária e exigiu outra defesa difícil do goleiro Márcio. Aos 28, Vágner pegou a sobra na pequena área em cobrança de escanteio e chutou por cima do gol. Aos 30, Munõz escapou em velocidade pela direita e cruzou baixo na grande área. A bola passou por todo mundo, inclusive por Lúcio, que chegou atrasado e não conseguiu finalizar para o gol aberto.

Escancarado na retaguarda, o Palmeiras sofreu o terceiro gol num contra-ataque letal do Paulista. Canindé recebeu nas costas da defesa e carregou até a entrada da área, de onde finalizou para o gol. Lúcio cortou de carrinho e a bola sobrou para Davi, que havia acabado de entrar no jogo (em lugar de Izaías). O camisa 18 bateu rasteiro no canto direito de Marcos e ampliou para 3 a 1.

O Palmeiras ganhou fôlego novo aos 38. Munõz invadiu a área nas costas da defesa do Paulista e foi derrubado pelo goleiro Márcio, que recebeu cartão amarelo pela falta. Élson bateu o pênalti no canto esquerdo, com categoria, e diminuiu para 3 a 2.

O jogo ganhou tons dramáticos em seus minutos finais. Os ânimos se acirraram dos dois lados, com reclamações ostensivas e entradas duras. Já nos acréscimos, Marcos partiu para a agressão contra Fábio Mello e o tempo fechou na defesa palmeirense. O árbitro Cléber Wellington Abade esperou a confusão amainar e deu cartão vermelho para Davi e Magrão – escolhidos no meio do bolo.

Vágner Love ainda teve uma chance aos 47, mas Márcio defendeu bem. Na seqüência, Asprilla fez falta boba em Rafael Marques na entrada da área e criou a última chance para o Palmeiras se salvar. Pedrinho cobrou com perfeição e acertou o ângulo esquerdo de Márcio, fazendo um golaço digno de coroar sua grande atuação neste domingo. O árbitro encerrou o jogo logo depois do empate, despertando revolta em todo o time do Paulista.

"Primeiro foi o mando de campo, agora aqui!? Tem de vencer dentro do campo. Só por que é time pequeno, pô?", desabafou o técnico Zetti, que reclamou ainda do fato de o juiz ter expulsado Magrão em lugar de Marcos na hora da confusão.

Se o tempo normal já foi dramático, o desempate na marca da cal foi contra-indicado para cardíacos. A série transcorreu sem erros até a quinta cobrança. Pedrinho, Muñoz e Vágner Love haviam convertido para o Palmeiras, enquanto Danilo e Amaral tinham marcado para o Paulista. Canindé partiu para deixar tudo igual e acertou o travessão de Marcos, mantendo a vantagem do Palmeiras (3 x 2).

Mesmo diante do revés, a estrela do Paulista estava longe de ser apagada. Élson cobrou para o Palmeiras e Márcio fez sua primeira defesa na série. Lucas teve a chance de empatar tudo, mas Marcos foi bem e também impediu o gol: ainda 3 x 2. Na seqüência, quando o lateral Lúcio cobrou, Márcio praticou outro 'milagre' e manteve o Paulista na briga. Galego balançou a rede na última cobrança da série e igualou tudo em 3 a 3.

A série de alternadas foi aberta com o zagueiro Nem, que chutou por cima do gol. Asprilla, carregado de responsabilidade, se redimiu da falta que permitiu o empate em 3 a 3 e colocou o Paulista na final.

Classificados à decisão, os jogadores do Paulista correram às arquibancadas para celebrar com a torcida de Jundiaí. O público retribuiu o carinho dos seus heróis com gritos de "Justiça! Justiça!"

A final inédita do Paulistão será disputada nos dois próximos domingos (dias 11 e 18). Os mandos das partidas serão decididos pela Federação Paulista de Futebol (FPF), que deve escolher o estádio do Pacaembu (São Paulo) para os dois duelos.




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