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Rali dos Sertões muda rotina de cidades
Por Eduardo Merli
Enviado a Bom Jesus da Lapa-BA
31/07/2002 | 00:34
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A caravana do Rali dos Sertões transforma a rotina de cada cidade do interior brasileiro pela qual passa. Basta uma moto mostrar seu colorido na chegada que uma multidão de olhares faz um verdadeiro interrogatório silencioso.

O pedreiro José Rodrigues, na chegada da Mitsubishi de Guilherme Spinelli e Alberto Zoffnan, um dos líderes da competição, em Pirenópolis, ficava de boca aberta. “Nunca vi um bicho desses. É de quem?”. Em Janaúba, Minas Gerais, dezenas de pessoas se amontoavam em torno dos helicópteros da organização que tentavam pousar na praia do Copo Sujo. Eles tentavam tocá-los, mas foram impedidos pela segurança. “Nunca tinha visto um helicóptero desse jeito, só na novela”, disse a dona de casa Maria Guilhermina Rodrigues.

Para os participantes do rali, toda essa curiosidade popular nada mais é do que um sinal dos vários Brasis existentes no Brasil: um cheio de glamour e rico, outro simplório e pobre. “Há lugares em que passamos onde as pessoas têm fome e não sabem nem o que é um carro”, disse Valério Valente, piloto de carro, nascido em Ribeirão Pires. “Dói no coração”, disse Nicolai Uzzun, piloto de carros de São Bernardo.

Em uma conversa com os demais invasores das estradas dos sertões, descobre-se histórias impressionantes. Uma delas foi contada pelo jornalista Décio Vioto, da revista Auto Esporte. Em 2000, ele cobria os Sertões em uma cidade próxima a Quixadá: “Fui a um bar local e consumi uns R$ 25 em mercadorias. Quando fui pagar, o dono dos estabelecimento começou a chorar. Fiquei preocupado e perguntei o por quê daquilo, se estava lhe pagando. Ele me respondeu que com a minha ajuda poderia pagar dois meses atrasados de aluguel do bar. Ele mostrou até a filha dele e disse para levá-la para passear. O aluguel daquele bar era de R$ 10 por mês e ele não conseguia pagar. Fui embora pensando até onde as pessoas vivem e chegam nesse país”.

Dificuldades – Pensar que somente os pilotos têm vida dura no Rali dos Sertões é uma grande bobagem. Equipes de apoio, de jornalismo, transporte e limpeza encaram dificuldades igual ou piores a dos competidores para fazer do evento um sucesso. Logo às 4h da manhã, todos os grupos já estão preparados para começar o dia de provas e os trabalhos só se encerram muito tempo depois de o último veículo chegar à cidade destino (20h).

Durante a corrida, não há tempo a perder. Os motoristas se deslocam o dia todo e a noite também. Saem do ponto de partida no meio da madrugada para levar jornalistas, técnicos, mecânicos e muitas vezes não almoçam nem jantam. “Desde o começo do rali já rodei mais de 2,5 mil km “, disse Silvio Nakamura.

Perder a noção do tempo é comum entre os jornalistas, que se envolvem de 16 a 20 horas por dia com a prova. “Acordo de madrugada, passo o dia me deslocando entre as trilhas com o motorista, chego a noite na cidade destino, faço a matéria e ainda vou para as reuniões que definem o dia seguinte. Não dá tempo muitas vezes para conhecer a cidade que passamos”, disse o repórter Thiago Pereira.




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