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PM diz ter feito disparos durante perseguição que matou garoto

No boletim de ocorrência, agente afirma que revidou tiro dado por um jovem do grupo

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
07/11/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Em depoimento prestado à Polícia Civil, o cabo da Polícia Militar presente na perseguição que culminou, no domingo, na morte do adolescente Luan Gabriel Nogueira de Souza, 14 anos, afirmou ter efetuado três disparos de uma pistola ponto 40 em direção a grupo de jovens que estava reunido em um viela no Parque João Ramalho, em Santo André. A informação que consta no BO (Boletim de Ocorrência) foi confirmada pelo delegado titular do 2º DP (Vila Camilópolis), José Itamar Martins da Silva.

Segundo o agente policial, os disparos teriam sido efetuados após um rapaz, de aparentemente 20 anos, atirar contra os militares durante perseguição a indivíduos responsáveis por furto de duas motocicletas no pátio municipal de veículos de Santo André. O jovem responsável pelo disparo e o revólver calibre 38 não tinham sido localizados até ontem.

Durante o tiroteio, Luan,que naquele momento passava no local a caminho da mercearia, onde compraria bolacha, foi atingido por um tiro na cabeça. A Polícia Civil diz ainda investigar de onde teria saído o disparo.

“Iremos chamar os presentes no local do incidente para colher o depoimento de cada um. A pistola do cabo envolvido também foi apreendida e passará por perícia”, destaca o delegado José Itamar.

Dois jovens que estavam no local do crime e que chegaram a ser encaminhados para a Polícia Civil devem prestar novos depoimentos nos próximos dias. A reconstituição da perseguição também não é descartada pela Polícia Civil. “Caso seja necessário para sanar qualquer dúvida, iremos fazer”, disse o delegado responsável pelo caso.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Militar instaurou inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do fato. Procurada ontem pelo Diário, a corporação não informou se o cabo envolvido no ocorrido foi suspenso até o término da investigação.

Para o coordenador da comissão da criança e do adolescente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Ariel de Castro Alves, a morte do jovem Luan é “resultado de uma ação desastrosa dos policiais” durante a perseguição. “Eles já entram nessas comunidades periféricas atirando”, acusou.

Parentes e amigos de Luan, que no domingo realizaram protesto em frente ao local do crime, aos gritos de “queremos justiça”, prometem realizar nos próximos dias outra manifestação e um baixo-assinado com o objetivo de que o caso seja esclarecido. “Nem deixaram a mãe do garoto reconhecer ele no dia do crime. Isso é um absurdo. Não é porque moramos em uma favela que precisamos ser tratados assim”, disse uma das moradoras, que pediu para não ser identificada.

O corpo de Luan foi velado ontem no Cemitério do Curuçá, em Santo André. No local, a comoção tomou conta de todos. “Ele era um garoto supertímido. Você nunca ouvia falar mal dele. Pelo contrário. Ele sempre estava disposto a ajudar o próximo”, disse Solange Macedo, 38, vizinha do garoto. O sepultamento do adolescente acontecerá hoje, às 9h15. também no Curuçá.

 

Irmão pede que crime não caia no esquecimento de autoridades

“Só desejo que as autoridades não esqueçam de fazer Justiça pelo meu irmão. Vou lutar até o fim por isso”. A declaração do jovem Lucas Nogueira de Souza, 23 anos, irmão mais velho de Luan Gabriel Nogueira de Souza, retrata de maneira clara o sentimento de cerca de 150 pessoas presentes ontem no velório do adolescente, morto no domingo.

Considerado o menino prodígio da família, Luan era tido como um filho pelo seu irmão. “Sempre me preocupava em ver ele estudando e conquistando suas coisas. Da minha família, ele era a pessoa mais próxima de mim. É muito difícil ver que ele foi morto dessa maneira, sendo inocente”, desabafou o jovem, que não se conteve durante a despedida do irmão.

“Ele tinha acabado de comemorar seu aniversário, mês passado. Fez festa com os amigos. Ele tinha tudo para ter um futuro brilhante, mas no fim das contas morreu no mesmo mês em que meu pai faleceu, há cinco anos. Estamos tirando meu pai da cova para enterrar meu irmão”.




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