Política Titulo São Bernardo
'Transição de Marinho foi falha e desonesta’

Em entrevista ao Diário, o tucano listou série de dificuldades financeiras e administrativas que encontrou na Prefeitura ao assumir o cargo, em janeiro

Humberto Domiciano
do Diário do Grande ABC
24/07/2017 | 07:23
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André Henriques/DGABC


Concluir obras inacabadas, cortar gastos e estimular investimentos estão na lista de prioridades do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), adotadas no primeiro semestre de sua gestão. Em entrevista ao Diário, o tucano listou série de dificuldades financeiras e administrativas que encontrou na Prefeitura ao assumir o cargo, em janeiro. Na visão de Morando, as informações passadas pela gestão anterior não refletiram a real situação do município. “Chegamos no dia 1º de janeiro e as informações eram todas falhas e desonestas.”

Entre os problemas a serem resolvidos, segundo o chefe do Executivo, estão o destino do Museu do Trabalhador, com a transformação do espaço em uma Fábrica de Cultura, a retomada de intervenções urbanas, como o Corredor Leste-Oeste e projeto Centro Seco, além da obtenção de empréstimos internacionais. “Nossa prioridade é terminar as obras que já tiveram início”, reconheceu.

Por outro lado, o prefeito acredita que se a economia nacional mostrar sinais de melhora, com aumento do PIB, “a cidade terá reação imediata”.

O tucano deve enviar em breve projeto de lei para criar estímulos econômicos para empresas que desejam estabelecer sede em São Bernardo. A iniciativa deve contemplar as áreas de serviços, indústria e comércio.

Outro ponto comemorado por Orlando Morando foi a redução das filas de exames e de consultas na rede municipal de saúde, com o programa Saúde Prioridade e a implantação de programas como o Educar Mais, que deve chegar até o fim de 2017 com dez escolas municipais oferecendo ensino em tempo integral.

O político também destacou a relação com a iniciativa privada e afirmou a intenção de manter, ao longo do mandato contato direto e constante com montadoras sediadas no município, sindicatos e empresários. “A Prefeitura precisa ser um elemento facilitador dos negócios”, definiu Morando.

Qual o balanço dos seis primeiros meses de governo?

Chegamos no dia 1º de janeiro e as informações da transição eram todas falhas e desonestas. A maior prova disso foram os restos a pagar, que o próprio ex-prefeito (Luiz Marinho, PT) falou que eram de R$ 100 milhões e foram de R$ 200 milhões. Com base nisso, começamos a apurar os contratos e ainda estou profundamente impressionado com o desrespeito com o dinheiro público da gestão anterior. Em todos aspectos, desde os modelos contratuais, nas concessões e nas nomeações nos cargos em comissão. A cidade tinha obras abandonadas, 70 mil pessoas esperando por atendimento na Saúde, fornecedor sem receber. O que vem marcando o início da nossa gestão é austeridade e o respeito com o dinheiro público. Tanto que nos 100 primeiros dias de governo apresentamos economia de R$ 102 milhões e seguimos neste formato, renegociando contratos, buscando medidas de mais qualidade com custos menores.

Quais os principais programas neste começo de gestão?

Nossa maior marca são os programas que já estão sendo sucesso. O Saúde Prioridade, que conseguiu zerar a fila na Saúde, obrigando a Prefeitura a atender os pacientes, com 26 mil exames e 44 mil consultas. Em 95 dias zeramos, credenciando rede privada juntamente com rede pública. A nossa meta é lançar em agosto o Saúde Prioridade Cirurgia, para dinamizar o processo de pessoas que estão aguardando, já que há consulta, exame e diagnóstico. Tenho certeza que essas 71 mil pessoas que estavam na fila e mais 5.000 que entraram na rede sabem que o programa é consistente, vitorioso e será mantido nos quatro anos de governo. Lançamos também o Educar Mais, cinco escolas já possuem, em agosto serão mais cinco e chegaremos a dez escolas em tempo integral.

A Lei Parede Limpa acabou tendo destaque neste primeiro semestre. Qual a análise do sr. sobre o projeto?

É um dos programas que têm percepção total na cidade. Zeladoria é vista por todos e recentemente tivemos uma ação com o prefeito da Capital, João Doria (PSDB), na qual 300 próprios públicos foram pintados, tudo feito com voluntários da administração e moradores. Estamos ao mesmo tempo combatendo os pichadores, tivemos mais de 60 prisões e temos convicção de que estamos deixando a cidade com uma cara melhor. Além disso, fizemos o programa A Casa é Minha, no qual já entregamos 306 escrituras e a meta é chegar a 1.000 escrituras em 2017. O programa Praça Parque também é importante, no qual estamos implantando playgrounds, academia ao ar livre, espaço pet, o fechamento e o controle feito pelos moradores. Outra iniciativa foi o Emprego Cidadão, que pela primeira vez damos oportunidade de trabalho para moradores de rua na iniciativa privada. Já foram 30 colaboradores, mas representa mais de 10% da população de rua da cidade.

O que ainda pode ser feito em 2017 no cenário atual?

Vamos seguir com austeridade, cortando desperdício sem precarizar a cidade. Infelizmente, se reduz a capacidade de investimento em obras de infraestrutura. A não ser o que estava contratado com dinheiro do governo federal, não tem obra nova. Temos sim ações novas. Estamos esperando que a nosso trabalho fomente a volta do crescimento da cidade. Tudo depende da macroeconomia e temos de fazer a lição de casa. Percebemos a consolidação de dois carros da Volks, a Scania voltando a contratar, a Atento também anunciou novas vagas. Percebemos que se o governo federal não atrapalhar, a lição de casa a gente faz.

Nesta questão das obras, como fica o Centro Seco, que tem ritmo lento?

Contratamos o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e a conclusão deles nos dará a auditoria completa do que foi pago e executado. A conclusão é de 180 dias, e a expectativa é voltar em dezembro com força total.

O que se pode esperar para o futuro da cidade mesmo diante de cenário de crise econômica nacional?

Estamos focados em garantir empréstimo internacional para terminar todas as obras. Vou semanalmente a Brasília para viabilizar isso. Uma parte irá suportar o Centro Seco também. O que posso garantir é que entregarei uma cidade melhor do que encontrei. Tanto na conclusão de obras, quanto na zeladoria e ainda nas finanças públicas. As ações atuais, mesmo sem investimentos, já mostram mais eficiência na máquina.

O sr. falou que herdou uma situação financeira desarranjada. Como as contas públicas estão agora?

Temos um semestre pela frente e vivo da realidade, mas sempre com otimismo. Mas com o quadro que atravessamos ainda vamos virar o ano com deficit grande, entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões.

De qual forma pode se amenizar isso?

Temos todos os fornecedores em dia, algo que conseguimos com negociações, parcelamentos, quitamos com desconto. Foi uma questão duríssima e nosso governo tem credibilidade para pedir prazo. Mas é um grande desafio, só que não vou herdar as dívidas atuais e conseguiremos programar outros investimentos.

Qual a análise faz sobre o Museu do Trabalhador?

Primeiramente, (registro) nosso total apoio à Justiça na apuração dos fatos. Estive com a procuradora e com o juiz federal e deixei claro que a administração está à disposição para oferecer qualquer informação sobre este caso ou qualquer outro que esteja na Justiça. Explanei nosso desejo, assim que tivermos a liberação judicial, de transformar (o local) em uma Fábrica de Cultura.

Como estão as conversas com Sindserv a respeito da campanha salarial?

Temos diálogo constante. Foi levada uma proposta em junho e, recentemente, tiveram um problema interno, com destituição de integrantes. Assim que tiver a recomposição da diretoria vamos buscar a melhor solução. É possível que não seja aquilo que esperamos dar aos servidores, até pela condição econômica, mas o respeito será constante da nossa administração.

O sr. realizou reunião com integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Como serão as conversas com o grupo?

Tenho me reunido sistematicamente com o setor produtivo da cidade, com ao menos uma ou duas agendas com empresários toda semana. A Prefeitura precisa ser um elemento facilitador e queremos manter esse mesmo diálogo com o sindicato, são pontes que se complementam. É preciso ter sinergia entre o poder público. o setor produtivo e sindicatos. Aquilo que for demanda do sindicato vamos tentar atender.

Quais temas foram debatidos?

A pauta que permeou a conversa foi o setor automotivo e os créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) retidos. Se a montadora compra a peça com 18% (de alíquota) e vende a 12%, gera crédito de 6%. Levei a pauta do Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) e queremos essa liberação devolvida para o setor de ferramentaria da região, o que gera investimentos altos e aquece a economia local, trazendo novos postos de trabalho. É o mesmo pedido do sindicato. Disposição comum. Conversei com o governador (Geraldo Alckmin, PSDB) e iremos ampliar a discussão. Não depende da gente, até porque o governo vive crise também, mas teremos empenho para tentar a mudança.

Como fica a questão do lixo e do contrato com a SBC Valorização de Resíduos?

Fizemos acordo bilateral, amigável e é um fato superado. Gostaria de destacar o empenho das duas partes para colaborar com as finanças do município. A forma da nova licitação será montada ainda.

A questão da Volkswagen chamou a atenção por garantir a produção de dois novos veículos no município. Esse procedimento se repetirá com outras montadoras?

Já estive em todas elas. Na Ford, na Mercedes-Benz e na Scania. E teremos diálogo permanente. A venda de carros, ônibus e caminhões depende basicamente de crédito. Com inflação estabilizada e juros em queda, o próximo passo é ter melhora na economia nacional. Acredito que se tivermos PIB positivo no ano que vem, a cidade terá reação imediata. 




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