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Em casos recentes com técnico, juiz e gandula, STJD terá atenção com simulações
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30/04/2017 | 07:30
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"Fingir, fazer parecer real o que não o é". Esta definição está no dicionário Aurélio se você procurar por simulação. A palavra anda em moda no futebol brasileiro. O episódio com o técnico do Internacional, Antonio Carlos Zago, que encenou agressão no rosto ao ser atingido no ombro, em jogo contra o Caxias, pela semifinal do Campeonato Gaúcho, foi apenas mais um desta epidemia que toma os gramados.

Não há uma estatística de quantos casos foram julgados em 2017 pelos tribunais esportivos, mas o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Ronaldo Piacente, admitiu ao jornal O Estado de S.Paulo que está preocupado com o aumento do número de episódios. Ele pediu ao procurador-geral do STJD, Felipe Bevilacqua, mais atenção com as simulações.

Para Katia Rubio, psicóloga e professora da USP, tudo isso é reflexo de uma crise existente de valores no mundo. "Não dá para dizer que o que acontece no futebol está deslocado de um contexto maior. Essas simulações são um reflexo do que estamos vivendo no mundo. Vivemos uma enorme crise de valores, que inevitavelmente se reflete no futebol em cores mais acentuadas", afirmou. "Há uma banalização da corrupção, uma banalização da falta, porque todo mundo faz", completou.

Ela alerta que nem sequer o fato de as transmissões de TV terem diversas câmeras no campo inibe o infrator. "Quando você tem isso relacionado com uma formação moral falha não há uma análise de que aquilo é imoral. A pessoa não tem consciência que aquilo é um problema. Ela considera aquilo como uma coisa certa".

A impunidade também ajuda. Poucos casos vão à julgamento e as penas são brandas. A simulação se enquadra no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que fala em "assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva" e prevê no máximo seis jogos de punição.

ENCENAÇÃO HOLLYWOODIANA - Keiller, terceiro goleiro do elenco, foi o herói da classificação do Internacional na semifinal contra o Caixas ao defender dois pênaltis, mas o personagem principal da semifinal do Gaúchão foi o técnico Antonio Carlos Zago.

Em uma disputa de bola na bandeirinha de escanteio, próxima da área técnica onde estava o técnico, Elyeser, do Caxias, acertou com o braço o ombro de Antonio Carlos, que simulou ter sido atingido no rosto. Ele pediu até atendimento médico e permaneceu ao lado do campo segurando uma proteção perto do olho direito. Antes disso, se jogou a chão tão logo foi atingido.

A encenação, flagrada pela TV, fez com que ele fosse denunciado pelo TJD-RS por infringir o artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê até seis jogos de pena.

AGRESSÃO... SÓ QUE NÃO - As semifinais do Campeonato Paulista registraram dois casos de simulação. No primeiro jogo entre Ponte Preta e Palmeiras, em Campinas (SP), Zé Roberto tentou ludibriar o árbitro Marcelo Aparecido de Souza em lance com Fernando Bob ao "mentir" que foi atingindo por uma cotovelada no rosto. O golpe, que aconteceu, foi no peito. O ponte-pretano foi advertido com o cartão amarelo. Ao palmeirense, coube o papel ridículo de rolar no chão.

No segundo clássico entre Corinthians e São Paulo, no estádio Itaquerão, na capital paulista, o atacante paraguaio Romero fez o mesmo com o volante Thiago Mendes. As câmeras de TV deixaram claro que o corintiano não foi atingido no rosto como fez parecer.

GANDULA PERDE O EMPREGO - Corinthians e Universidad de Chile se enfrentavam no último dia 5, pelo jogo de ida da primeira fase da Copa Sul-Americana, no Itaquerão. A partida não era tão importante assim, mas o desejo de ajudar o time do coração custou caro a Ivan Régis Pinto. O gandula fantasiou uma agressão do zagueiro Gonzalo Jara, que tentava bater rapidamente o arremesso lateral. Ele desabou atrás da placa de publicidade.

O clube não sofreu punições, mas Ivan, que não voltou sequer para o segundo tempo daquele jogo, acabou demitido por causa da simulação. Ele trabalhava nas partidas do time havia oito anos, desde os tempos do estádio do Pacaembu, em São Paulo.

DESEQUILÍBRIO DO ÁRBITRO - Luis Fabiano nunca foi santo, mas no episódio com o árbitro Luiz Antonio Silva Santos ocupou o papel de vítima. No Vasco e Flamengo, de março, pela Taça Rio, em Brasília, o vascaíno chegou junto ao assoprador para reclamar do cartão amarelo recebido, mas não a ponto de provocar o desequilíbrio que foi visto na imagem. O juiz simulou um empurrão que o fez quatro ou mais passos para trás.

O atacante, que acabou expulso, disse que nunca viu algo parecido. Punido com quatro jogos, ele foi instruído pelo Vasco a não se pronunciar mais sobre o assunto. O árbitro está afastado, mas, segundo a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), por errar ao dar um pênalti para o Vasco, e não pela "fraude".




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