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Santo André tem seu circuito alternativo
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
01/03/2003 | 16:08
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Comprar um CD raro e um livro por uma pechincha, fazer uma tatuagem e aplicar um piercing, ver um show de graça no meio da rua fechada ao trânsito de carros, negociar uma bela guitarra, levar para casa uma bota de couro feita artesanalmente e, para relaxar, beber uma cerveja bem gelada para depois navegar na internet. O surgimento espontâneo de tantas atrações em um mesmo e pequeno espaço geográfico faz com que as imediações da esquina das ruas Dona Elisa Fláquer com Álvares de Azevedo, no Centro de Santo André, funcione como um autêntico circuito alternativo.

Às quintas e sextas-feiras, do final da tarde até a madrugada, e sábados, praticamente durante todo o dia, o local vira ponto de encontro sobretudo de jovens, o que não quer dizer que falte espaço para o “pessoal das antigas”. Aparecem por lá de roqueiros (entre os quais metaleiros a punks) aos regueiros, todos juntos, em paz.

O CD pode ser adquirido na loja Metal, há seis anos no endereço; a cerveja, no Black Horse Bar, tradicional botequim andreense instalado no local há mais de duas décadas; e a bota, na Esquina Sapataria. Esses são apenas exemplos dos estabelecimentos próximos à esquina que atendem a gostos alternativos.

Márcio Benites, body piercer de 22 anos mais conhecido como Sola, é um dos freqüentadores do local. “Trabalho no estúdio de tatuagem Tattoomania, na rua Cel. Oliveira Lima, perto daqui. Em vez de ir para casa assistir às bobagens da televisão, passo para trocar uma idéia com os amigos. Venho aqui há cinco anos e conheço todo mundo”.

“O pessoal costuma chamar essa esquina de curva”, afirma Sola. Ele explica que o termo pejorativo curva vem daquela espécie de ditado popular que diz que em curva de rio não pára coisa boa. “Mas não é por aí não. Se só parasse tranqueira, eu não estaria aqui”, afirma.

Nomes para designar a área que compreende as imediações da esquina não faltam. “Tem gente chamando de Baixo Santo André, numa relação com Baixo Gávea e Baixo Leblon, no Rio”, afirma Vanderlei Lopes de Faria, 42, produtor musical conhecido como Lela.

O vigilante escolar Jorge Alves de Lima, 41, “nascido e criado no rock”, é habitué do local. Ele foi entrevistado no Black Horse Bar: “Esse boteco, mesmo antes de ter esse nome, já era do rock, o que se repete desde quando comecei a freqüentar essa região, há mais de 20 anos. Aqui vem do jovem estudante ao professor e ao empresário. É um lugar de cultura mista”.

O estudante Eduardo Mourão Neto, 23, o Chokito, é outro dos roqueiros que batem cartão na esquina alternativa. “Conheço aqui há uns dez anos. Me encontro com amigos para depois sairmos para outros lugares. É um ponto de encontro”.

Família – Um dos representantes do reggae é o body piercer Renato Crespi, o Morango, 21 anos, integrante da banda N’Sikelê e que trabalha no estúdio de tatuagem e body piercing Klan Tattoo, outro dos locais próximos à esquina. Quando entrevistado, estava com a namorada Carla Rovere, 28, coordenadora de eventos.

“Aqui o que mais rola é rock e reggae. É uma espécie de família, todo mundo se conhece e se dá bem”, disse Crespi. Carla afirma que há seis anos freqüenta o local, “desde quando era gótica”.

Outra figura da Klan Tattoo que vira e mexe está na esquina é o grafiteiro e tatuador Puma. Ele, Feio e Bunito são responsáveis pela maioria dos grafites da rua Dona Elisa Fláquer. “O lance é deixar esse espaço mais bonito, utilizando o grafite”, diz Puma.

Em meio a roqueiros e regueiros não é difícil encontrar pessoas de visual comportado, mas que também fazem parte da “turma”. Como exemplo, a recepcionista Jaqueline Emília dos Santos, 17.

“Quando saio do trabalho e sigo para a faculdade passo por aqui. Então, paro em frente à Metal CDs para conversar com meus amigos. Estou de uniforme por causa do trabalho, mas curto um som. Gosto de heavy e gótico”, afirma Jaqueline.

“Hoje existe uma tolerância aqui. Antes, na época das brigas entre os Carecas do ABC e os metaleiros, eles sentiam medo uns dos outros. Agora, a nossa briga aqui é pela mesma causa: a liberdade. Não tem confusão por causa de rótulos”, diz o estudante Elver Pierre Carnavali, 21, integrante da banda de rock Slum.




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