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Me senti uma heroína, afirma mãe de vítimas
Daniel Tossato
Do Diário OnLine
16/06/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


“Só pensei que precisava tirar meus filhos debaixo dos escombros. Por isso, comecei a cavar com as próprias mãos”. É dessa forma que Vera Lúcia de Lima Jesus, 37 anos, relatou o desespero de ver dois dos seus quatro filhos soterrados por laje da Igreja Assembleia de Deus Madureira – campo do Taboão, em Diadema, na tarde de ontem.

Com o instinto materno à flor da pele, Vera conseguiu salvar o pequeno Fernando, 2, mas precisou aguardar a chegada dos bombeiros para ver o filho Davi, 5, ser removido do local com vida. “Continuei a revirar o entulho e a chamar pelo Davi”, falou a mãe, que contou com o auxílio de vizinhos e conhecidos. O garoto mais velho passou a noite em observação no Quarteirão da Saúde devido a pancada na cabeça. Fernando já está em casa.

Vera disse que participava de “campanha de oração” dentro da unidade quando tudo cedeu. Ela não ouviu qualquer barulho ou notou algo diferente dentro da igreja antes do acidente. “Foi tudo muito rápido. Só consegui pensar nos meus filhos.”

“Ela foi uma leoa. Não mediu esforços para salvar as crianças”, disse Wilton Doia, 31, tio das crianças. Vera também reconhece sua ação como grandiosa. A mãe relatou que sentiu força sobre-humana durante o resgate dos filhos. “São nessas horas que uma mãe se torna uma heroína. E hoje (ontem) eu fui uma.”


LIVRAMENTO

Para a dona de casa Samara Pereira Alves, 32, ter saído com vida do episódio é um “livramento de Deus”. A obreira da unidade afirmou que a tragédia poderia ter sido ainda pior, tendo em vista o número de fiéis que frequentam o espaço aos fins de semana – em média 300 pessoas. “Estava no palco fazendo orações e ouvi o estalo. Quando percebi, a fumaça já havia tomado conta do salão. Fui me guiando pela parede até a saída”, revelou aliviada, enquanto acompanhava a operação de resgate dos colegas de igreja.

O filho de Samara, Willian Wallace Alves Santos, 13, estava na cantina da igreja com o amigo Adão Lucas, 18, espaço localizado ao lado do salão onde ocorreu o desabamento. Os jovens revelaram ter sido “uma das piores cenas já vivenciadas”. Ele lembrou que a mãe o encaminhou para o café cerca de dez minutos antes do desmoronamento da laje. “Escutei o barulho e já vi a fumaça subir. Lembrei da minha mãe na hora e, quando fui ao encontro dela, ela estava saindo pela porta”, emocionou-se.

Fiél soterrado foi à unidade pedir por emprego e por saúde da mãe

Anderson Peres Thiago, 23 anos, frequentava a Igreja Assembleia de Deus Madureira – campo do Taboão, em Diadema, desde a infância. O segurança desempregado é uma das vítimas soterradas que ainda não haviam sido resgatadas até o fechamento desta edição.

Conforme o irmão, Maick Peres Thiago, 21, Anderson estava no culto em busca de novo emprego e também de ajuda em relação à saúde da mãe. “A gente estava achando essa obra estranha”, confessou o morador do bairro Eldorado, abalado, enquanto acompanhava o resgate.
Outras duas pessoas que seguiam atentas à movimentação do Corpo de Bombeiros eram o porteiro Danilo Santos, 19, e o estudante Gabriel Souza da Silva, 17. Ambos foram os primeiros a prestar socorro às vítimas após o desabamento da laje. “Estávamos na casa da frente quando escutamos o barulho e saímos correndo para ajudar a socorrer as crianças que estavam brincando na varanda”, lembrou Danilo.

A dupla recebeu o apoio da vizinha, a dona de casa Rosenir José Ribeiro, 40, que assistia à televisão no momento do acidente. “O estrondo foi tão grande que minha casa tremeu. Saí correndo em direção à rua e escutei pedidos de socorro. Vi a moça na calçada que foi atingida pelos escombros e fui ajudar os meninos, que já estavam tirando pedras de cima das crianças”, detalhou eufórica.

A equipe do Diário teve dificuldade de conversar com os familiares das vítimas e também com os fiéis que saíram do acidente sem ferimentos, porque todos foram orientados por representantes da Igreja a não dar entrevista. 




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