Setecidades Titulo Lá no meu bairro...
Idosos têm aula de arte moderna
Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
30/06/2015 | 07:00
Compartilhar notícia


No bairro Campestre, em Santo André, a arte moderna faz parte do cotidiano de cerca de 60 idosos que vivem na Clínica Riviera. A responsável é a artista plástica andreense Rosângela Brabo, 53 anos, que ministra as oficinas no local há seis meses.

Após inúmeras exposições e mostras em mais de 20 anos de carreira, ela afirmou que está redescobrindo o seu trabalho artístico agora. Atualmente, não manifesta desejo de trabalhar com outra coisa. “Acho que descobri a minha verdadeira vocação, que é ensinar a arte para os idosos. Atendo a todos individualmente, cada um com a sua particularidade, mas eles têm tanto a me repassar que vivo em aprendizado diário”, disse.

Os últimos trabalhos de Rosângela foram expostos no Rio de Janeiro, onde ela morava. Quando voltou para a cidade natal, logo recebeu o convite para o desafio. “Parece algo muito diferente, ensinar arte moderna a idosos. Mas achei extremamente gratificante a iniciativa das donas da clínica.”

As proprietárias Alessandra Muneura, 42, e Sylvia de Souza Wenzel, 46, já tinham contratado profissionais para dar aula de teclado, jardinagem e musicoterapia aos internos. Elas viram em Rosângela mais uma oportunidade de trazer melhora em doenças como o Alzheimer e o mal de Parkinson.

“Temos aulas de Educação Física, atividades de memória, entre outras. Todas as oficinas proporcionam melhora perceptível na qualidade de vida na terceira idade. Muitos familiares que vêm aqui visitar os pais, mães e avós percebem que há mudança significativa. Temos todo o cuidado para que eles se sintam à vontade no seu ambiente e aprendam constantemente coisas novas”, disse Sylvia.

Uma das idosas, que tem mal de Parkinson, é um dos exemplos de superação citados por Rosângela. No começo do ano ela não conseguia segurar o lápis de cor e pintar os desenhos. Seis meses depois, escolhe as cores, faz a pintura e até mesmo decorações com glitter.

Na festa junina do local, na sexta-feira, todas as bandeirinhas foram confeccionadas pelos idosos. Eles também realizaram atividades em estêncil, confecção de máscaras de Carnaval e pintura em quadros. Em cada um deles é possível ver características diferentes.

Para dar atendimento individual, Rosângela conta com a ajuda de dois ajudantes, Giulia Moretti e Felipe Brabo. “É uma equipe. Só assim conseguimos entender a necessidade de cada um e ver o que eles transferem para a arte. São muitas lembranças e isso faz com que cada trabalho seja diferente do outro”, explicou.

Mesmo após as aulas semanais, os contatos com a arte estão presentes no dia a dia dos idosos. Eles pedem os trabalhos para mostrar para aos parentes e muitos os deixam pendurados nas paredes dos quartos. Os demais permanecem guardados no baú de arte.

Para a professora, que mostra orgulho por seu trabalho, todos são artistas por natureza. Questionada sobre possível mudança de emprego, ela afirmou que não sai de onde está. “Não consigo mais viver sem eles. Todo esse trabalho que faço aqui é extremamente inspirador e mudou o olhar que tenho sobre mim e as outras pessoas. Eles me ensinaram valores que levarei para a vida inteira como lições.”

Casa de Bruxa leva misticismo ao bairro

A Casa de Bruxa funciona há 19 anos em Santo André e está presente no bairro Campestre há três. O espaço promove cursos de astrologia, terapia ocupacional, bruxaria natural, entre outros.

Sua fundadora é Tânia Gori, 47 anos. Ela era proprietária de uma loja no Shopping ABC que vendia objetos como gnomos e baralhos de tarô. Porém, a maioria dos clientes começou a se interessar pelos ensinamentos dela.

“Quando me dei conta, dentro da loja, que era bem pequena, tinha mais de 40 pessoas. Elas não queriam comprar nada, mas aprender como ler as cartas e também sobre ervas, entre outras coisas. Começaram a me cobrar para criar um espaço de ensino”, lembra.

Foi assim que nasceu a instituição, que atualmente oferece 180 cursos a mais de 800 alunos. Nas quase duas décadas desde a fundação, 22 mil pessoas já passaram por algum tipo de formação. Os cursos são divididos em dois tipos: qualificação na área terapêutica e conhecimento na área metafísica.

“O nome Casa de Bruxa é justamente para que todos se sintam acolhidos. Não é a casa da bruxa, porque não é a minha casa, é a de todo mundo que procura ensinamentos”, disse Tânia.

Ela também fundou a Convenção de Bruxas e Magos, que acontece há 13 anos em Paranapiacaba. Segundo Tânia, o encontro é mais uma forma de desmistificar qualquer tipo de preconceito. “Nunca tivemos nenhum problema em relação a isso aqui na cidade. Mas, mesmo assim, queremos mostrar que a bruxa não é aquela que tem verruga no nariz, a malvada das histórias. Bruxas são pessoas que buscam na natureza o equilíbrio dos quatro elementos. A magia tem muita coisa boa.”

Prova disso é o trabalho social com duas instituições do Grande ABC. A casa ajuda com mantimentos um asilo em São Caetano e também faz doações mensais que beneficiam 60 crianças carentes de Ribeirão Pires.

Tânia deixa claro que a bruxaria não é religião, mas sim filosofia de vida. “Na bruxaria natural, a pessoa vai aprender a usar as ervas e a natureza a seu favor. A religião não vai influenciar em nada nisso”, afirmou.

Bar é ponto de encontro de moradores

A esquina onde fica o Well’s Bar é o ponto de encontro entre os moradores do bairro Campestre. O local já existe há 50 anos e é sede oficial da roda de conversa de quem mora por lá.

Há dez anos o bar é administrado por José Pascoal, 53 anos, que comprou o estabelecimento dos herdeiros de seu Manuel. “Aqui era uma mercearia e bar, muito tradicional entre os vizinhos. Como fui muito bem acolhido, resolvi manter tudo como recebi”, disse ele.

Os mantimentos da mercearia continuam no local, assim como toda a mobília. No entanto, Pascoal garante que o carro-chefe é o bar, sendo a tradicional cervejinha acompanhada de torresmo o petisco mais pedido, que custa R$ 2,50.

“O clássico mesmo é a comida de botequim, que fica aqui exposta. O pessoal gosta muito do torresmo e do pastel. A clientela é bem fiel. É um pessoal mais de idade, que já frequenta aqui há muitos anos”, afirmou.

Indo na contramão da modernidade, o proprietário não instalou sistema de cartão no bar. É só dinheiro. Mas teve de ceder e colocar o wi-fi com senha à mostra no balcão. “Nem sei mexer nisso, mas o mundo está mudando tanto que tem gente que vem aqui tomar uma e ficar mexendo no celular. Fui obrigado a colocar isso”, disse bem-humorado. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;