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Após escândalo, ministro do Esporte quer medidas rápidas para modernizar futebol
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31/05/2015 | 06:45
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O governo federal quer aproveitar a crise no futebol para esvaziar a CBF. Em entrevista exclusiva, o ministro do Esporte, George Hilton (PRB), defendeu a criação de uma Liga para administrar o Campeonato Brasileiro, deixando a entidade apenas com a seleção brasileira, e a aprovação da MP do Futebol, que impõe contrapartidas criticadas pela CBF e por clubes. "Temos que dar uma resposta ao povo brasileiro de que queremos um novo momento para o futebol".

Agência Estado - Qual a sua ideia para o Campeonato Brasileiro?

George Hilton - Talvez seja o grande momento de a gente discutir a organização dos clubes de futebol no Brasil como acontece no restante do mundo. Você tem a Liga que administra os campeonatos nacionais e o órgão, que é a confederação, cuidando só da seleção daquele país. Ou seja, você teria o Campeonato Brasileiro sendo organizado por uma Liga e a CBF ficaria exclusivamente com a seleção.

AE - Já conversou isso com a CBF?

George Hilton - Tenho defendido isso nas minhas idas aí pelo País. Claro que a CBF resiste, mas, se você pegar os países na Europa, vai ver que quem organiza os campeonatos nacionais é a Liga.

AE - Quais as vantagens?

George Hilton - Vai ter muito mais capilaridade no Campeonato Nacional porque os clubes passarão a ter muito mais protagonismo na realização do campeonato e a CBF vai ter toda uma dedicação não só à Copa do Mundo, à Copa América, Copa das Confederações. A maioria dos clubes defende este modelo.

AE - Esta descentralização diminui as chances de corrupção?

George Hilton - Não porque você vê que os clubes têm hoje todo o ônus, todo o planejamento do campeonato recai sobre eles. É a eles que é definido o repasse dos direitos de imagem, eles que têm que administrar a questão que envolve os estádios. A CBF apenas se coloca como a dona do processo, mas quem trabalha o tempo todo na efetivação já são os clubes. A Liga vai ter um papel fundamental.

AE - A MP do Futebol tem sido criticada por dirigentes, que a consideram intervencionista. Como o governo lida com essa crítica? É possível alguma mudança?

George Hilton - Os clubes já começam a sinalizar a real necessidade de aderirem ao financiamento e nós vemos na MP o grande momento de depurar o futebol no Brasil em vista de todos esses fatos que estão aparecendo. E o Brasil dá um passo fundamental na modernização e na recuperação do futebol como um grande patrimônio da humanidade.

AE - As prisões e denúncias envolvendo dirigentes da Fifa e da CBF facilitam a aprovação da MP?

George Hilton - Demonstram que realmente estamos no caminho certo. Acertamos com a MP do futebol. Esse clima todo que constrange o mundo e de certa forma nos envergonha, é uma demonstração clara de que o Congresso Nacional, que tem agora grande responsabilidade de aprovação deste texto, deve dar uma resposta à sociedade.

AE - A bancada da bola é muito forte no Congresso, principalmente na Câmara. O governo conseguirá levar a medida adiante? Como estão as negociações?

George Hilton - Se fizermos uma reflexão do texto da MP, veremos que ela tem muito a contribuir, principalmente levando em conta que esta bancada que defende os interesses do futebol sabe que o momento exige mudanças claras e bem definidas.

AE - A resistência de clubes e CBF à MP os coloca sob suspeita?

George Hilton - Levando em conta que a situação dos clubes no Brasil é muito ruim, difícil financeiramente, penso eu que essas possíveis resistências que alguns declaram serão suprimidas. O objetivo nosso é que não haja mais um refinanciamento, que os clubes, a partir daí, com a economia que será gerada por imposição dessas contrapartidas, consigam colocar suas contas em dia e o futebol consiga sobreviver.

AE - Até que o ponto o senhor entende que o negócio do futebol é criminoso no país?

George Hilton - O futebol não é algo criminoso, mas a gestão que vem acompanhada de práticas ilícitas tem que estar sob atuação da Justiça. Quanto ao Poder Legislativo, é prerrogativa deles instalar essas comissões de inquérito. A gente respeita.

AE - O governo identifica indícios de compra de votos para a realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 ou de algum outro tipo de ato de corrupção?

George Hilton - Não. O ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo) anunciou que a Polícia Federal vai fazer as investigações. Portanto, vamos aguardar do desenrolar dessas investigações.

AE - A postura do governo em relação à CBF mudou consideravelmente entre o governo Lula e o governo Dilma. O que levou a este distanciamento?

George Hilton - Não há distanciamento. Existe o respeito entre as partes. A CBF, hoje, o órgão maior do futebol no Brasil, nós respeitamos as instituições. Porém, as instituições não estão acima da lei.

AE - O senhor confia na CBF?

George Hilton - Eu respeito as instituições, mas entendo que todas elas, inclusive as públicas, têm que ser modelo de gestão, de transparência, de ética e do bom uso dos recursos auferidos.

AE - Falta uma política de boa governança à CBF?

George Hilton - Diria que a CBF hoje tem grande oportunidade de demonstrar para todos nós que não.

AE - O senhor já conversou com Marco Polo Del Nero desde que o escândalo estourou ou pretende conversar?

George Hilton - Não. Vamos, naturalmente, acompanhar passo a passo os fatos. Mas as portas do ministério estão abertas não só para a CBF, mas para todas as entidades ligadas ao esporte. Esta casa é a casa do esporte.

AE - O governo brasileiro pedirá a extradição de José Maria Marin?

George Hilton - Não sei. Tem que ser uma postura do Ministério da Justiça. Essa conversa eu não tive.

AE - Neste contexto de corrupção, o que esperar dos Jogos Olímpicos no Brasil?

George Hilton - A relação entre o Comitê Olímpico Internacional (COI), Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o governo brasileiro tem se dado de forma muito transparente. Os eventos que acontecerão no próximo ano estarão dentro da normalidade e serão um sucesso.

AE - O que o governo está fazendo para se prevenir?

George Hilton - O governo tem os órgãos de controle que atuam em consonância com os ministérios, com o Estado do Rio de Janeiro, com a prefeitura (do Rio), com a Autoridade Olímpica, que sempre nos atualiza sobre a gestão destes recursos.




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