Economia Titulo Atividade econômica
Flexibilização incerta aflige o Grande ABC

Demora na definição do futuro da quarentena diminui chances de recuperação da economia

Por Flavia Kurotori
Diário do Grande ABC
03/06/2020 | 23:50
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Celso Luiz/DGABC


A incerteza relacionada à flexibilização da quarentena no Grande ABC deixa representantes de diversos setores da economia aflitos. A princípio, havia expectativa que o relaxamento poderia iniciar em 11 de maio, depois, em 1º de junho e, agora, há possibilidade de que isto só ocorra a partir do dia 15. O veredito deve ser divulgado em uma semana.

“Os índices mostrados pelo próprio Lauro (Michels, PV, prefeito de Diadema) indicam que a região poderia estar na zona amarela (atualmente, o Grande ABC está classificado na zona vermelha, a mais crítica). Então, realmente não estamos entendendo a situação”, afirmou Anuar Dequech Júnior, diretos do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema. Ainda que a questão sanitária seja primordial, ele avalia que os números mostram que a fase mais crítica já passou.

Norberto Perrella, diretor do Ciesp de Santo André, que também é responsável por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, observou que muitas pessoas já quebraram a quarentena por necessidade. “Se a atividade econômica está voltando com revelia, é melhor voltar com reabertura controlada, como todos os cuidados necessários para evitar a contaminação”, assinalou. Para o dirigente, o relaxamento deveria ter ocorrido há pelo menos 15 dias. “A situação do comércio e da indústria está bem crítica.”

Na avaliação de Dequech Júnior, quanto antes a reabertura ocorrer, mais cedo o “novo normal” será atingido. “Não será como antes, teremos uma readaptação total, mas estamos em situação extremamente grave. Foi lançada série de medidas para manutenção de empregos, mas o impacto real depende de quando e como será a reabertura, além de como estará a demanda até lá”, detalhou. O empresário lembrou que o faturamento das indústrias da região caiu até 70% em alguns casos.

Segundo Jefferson José da Conceição, coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano), a flexibilização faz parte do processo, porém, o movimento em ‘W’, ou seja, onde o fechamento e abertura de comércios vão e voltam, é negativo para a economia. “Este movimento gera mais incerteza e, com isso, a retomada do investimento será mais lenta”, avaliou.

“Os parâmetros de segurança da área médica devem ser determinantes neste momento, porém, deveria ter série de medidas governamentais, como empréstimos a juros zero e com carência de 12 meses, para que as empresas sigam se mantendo e pagando os funcionários, para que eles possam ficar em casa com a mesma renda”, afirmou Conceição. O especialista defende, ainda, outras ações da esfera pública, como o controle do preço dos alimentos e suporte para que informais e autônomos não tenham queda de renda.

Além disso, o docente considera que a “descoordenação do processo” entre várias esferas do governo torna o cenário ainda mais preocupante. “A orientação não fica clara”, disse. Conforme o Diário publicou no início de maio, caso a quarentena se prolongue por quatro meses – até julho –, o PIB (Produto Interno Bruto) regional pode perder R$ 8,9 bilhões, segundo estimativa do Conjuscs.

Comércio regional anseia por reabertura

Segundo estimativa da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), as perdas para o comércio regional devem alcançar 30%. Além das vendas do dia a dia, o setor perdeu três das principais datas do ano: Páscoa, Dia das Mães e, agora, o Dia dos Namorados.

Mesmo com a restrição de funcionamento de comércios não essenciais, o Diário tem acompanhado que estabelecimentos não autorizados mantêm atividades, como na Avenida Dom Pedro de Alcântara, na Vila São Pedro, em São Bernardo, e na Avenida Lico Maia, no bairro Serraria, em Diadema.

“A postergação da flexibilização impacta bastante o comércio, que vem sofrendo elevadas perdas financeiras por causa do fechamento desde o início da quarentena. Muitos empresários estão ansiosos pela breve definição”, assinalou Pedro Cia Júnior, presidente da entidade.

Mesma opinião é compartilhada pelo presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura. “A situação fica cada vez pior. Havia expectativa de que o anúncio de reabertura seria a partir de amanhã (hoje). E quanto mais demora, mais grave fica a situação”.

Luís Augusto Ildefonso, diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), mencionou que 15% das lojas estavam fechadas ou em processo de fechamento em maio. “De 60% a 70% dos lojistas são pequenos empresários, que, com o volume baixo de vendas, são os que mais sofrem.”

Por outro lado, os sindicalistas representantes dos trabalhadores da região são contra a flexibilização da quarentena. Wagner Santana, o Wagnão, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, defende que relaxamento não deve ser feito até que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomende, pois a contaminação está crescendo diariamente.

“Ha muito tempo o lockdown deveria ter sido adotado. Defendemos a medida para salvar vidas”, disse Belmiro Moreira, presidente dos bancários do Grande ABC. FK


 




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