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Bolsa Família não contempla 25% dos núcleos pobres da região

Pelo menos 23.031 grupos familiares que teriam direito ao benefício são ‘esquecidos’ pelos gestores

Por Daniel Macário
07/01/2018 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 Já se passaram mais de três anos desde que a dona de casa Fernanda Fabrícia Silva dos Santos, 32 anos, tentou pela primeira vez se cadastrar no programa Bolsa Família. De lá para cá, foram pelo menos duas negativas para o recebimento do benefício e um histórico de dificuldades enfrentadas para sustentar os cinco filhos, com idades que variam entre 1 e 12 anos. “Meu marido e eu estamos desempregados. Acaba que todo dia é uma luta para conseguir dinheiro para colocar pão e leite na mesa.”

Embora se enquadre no perfil da população que tem o direito de receber o benefício, Fernanda, moradora do Jardim Oratório, em Mauá, integra grupo de 23.031 famílias do Grande ABC que ainda não foram localizadas e cadastradas no Bolsa Família.

Os números são parte de levantamento feito pelo Diário com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social. Na pesquisa, foi constatado que 25% dos 98.006 grupos classificados em extrema pobreza na região – que têm renda mensal de até R$ 85 por pessoa – estão excluídas do programa social criado em 2003 pelo governo federal com o propósito de transferir renda à população em situação de alta vulnerabilidade em todo o País.

Em um único cômodo, separado entre quarto e cozinha, onde ela divide espaço com o marido e os cinco filhos, Fernanda diz ainda acreditar na inclusão do seu nome para o recebimento do Bolsa Família. No entanto, números de cobertura do programa social mostram que essa realidade ainda está longe de contemplar toda a região. Em Mauá, onde ela reside, por exemplo, somente 36,96% das famílias que se encaixam no perfil são atendidos pelo benefício (veja índice por cidade abaixo). Apesar de reconhecer o baixo índice do município, a Prefeitura de Mauá diz estar trabalhando na “procura pelas pessoas que necessitam do benefício”.

“Sei que é difícil, mas nossa situação está tão delicada que busco ter fé neste processo. Do jeito que está, infelizmente, não temos mais condições de viver”, diz Fernanda ao se referir à renda diária da família, que varia entre R$ 5 e R$ 10, provenientes do bico de catador de reciclagem feito por seu marido.

Na região, outros três municípios possuem cobertura social insuficiente, conforme levantamento da União: São Bernardo, São Caetano e Ribeirão Pires.

“É claro para todos o quanto o Bolsa Família já ajudou milhares de famílias a saírem da pobreza, mas é preciso que municípios reconheçam que, com a crise, essa busca ativa por famílias em condições de vulnerabilidade precisa ser intensificada. Trata-se de trabalho a ser feito praticamente todos os dias e que não pode ser deixado de lado”, avalia o economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia Ricardo Balistiero.

Segundo os municípios, este trabalho tem sido efetuado regularmente. Em São Bernardo, por exemplo, o cadastro é realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania, por meio dos Cras (Centros de Referência de Assistência Social) existentes na cidade, por meio de busca ativa.

Ribeirão Pires, por sua vez, disse estar articulando ações com a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social) para elevar a cobertura do programa na cidade. O trabalho também tem sido executado em São Caetano. Em Santo André, único município que tem cobertura total do benefício na região, a Prefeitura destaca trabalho integrado entre as secretarias. Os demais municípios da região, assim como o Ministério do Desenvolvimento Social, não retornaram aos contatos até o fechamento desta edição.

Sem o benefício, 32 mil estariam em alta vulnerabilidade
Levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social aponta presença de 32.285 famílias incluídas no Bolsa na região que, sem o programa, estariam em condição de extrema pobreza e vulnerabilidade. O índice representa 43% dos 74.975 núcleos contemplados pelo benefício hoje.

Para especialista, o índice reflete o avanço social proporcionado pelo programa do governo federal. “O Bolsa Família, sem sobra de dúvidas, nos últimos anos foi o que mais conseguiu reverter a desigualdade social existente em território nacional. Por mais que as algumas pessoas julguem, dizendo que famílias se acomodaram com o benefício, é preciso deixar evidente o resultado que trouxe para nossa economia”, destaca o economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

Moradora no Morro do Tucano, em Mauá, a dona de casa Jaqueline Rodrigues, 38 anos, é uma das beneficiárias que se encaixa no perfil. “Recebo R$ 118 por mês e confesso que sem esse dinheiro não teria condições de colocar nenhuma comida dentro de casa”, afirma.

Embora avalie que o valor concedido pelo governo federal poderia ser maior, Jaqueline diz ter visto mudanças na rotina da família com o programa social. “Minha vida é dividida em dois momentos. Antes do Bolsa Família, sem percepção nenhuma do futuro, e agora, que consigo pensar no amanhã com mais tranquilidade”, diz ela, mãe de quatro filhos, entre 1 e 19 anos.

A situação se repete na casa da vizinha, a também dona de casa Patricia Vicente Dias, 26. “Desde quando me cadastrei consigo ter dinheiro para, pelo menos, dar o mínimo para meus filhos. Ainda vivo situação bem distante da que eu almejo, mas já foi um avanço e tanto para minha família”, destaca.




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