Setecidades Titulo Violência
OAB estuda entrar com ação contra menor que matou gata

Para entidade, jovem tinha consciência de que não seria punida ao atirar animal do 14º andar

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
07/09/2014 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O vídeo de uma adolescente de 13 anos atirando uma gata pela janela do 14º andar de um prédio despertou ondas de protesto nas redes sociais. A jovem que gravou as imagens e as divulgou no dia 19 de agosto é moradora de Diadema. A Comissão de Proteção e Defesa Animal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo, junto à Promotoria de Diadema, tentará impor à garota e à família ação de reparação civil.

Segundo a presidente da comissão, Antilia Reis, no momento estão sendo recolhidas provas de que a jovem sabia o que estava fazendo. “O que me chocou foi ver que ela tinha pleno conhecimento do que acontecia e, mais ainda, que sabia que não seria punida porque é menor de idade. Diante disso, estamos reunindo todos os áudios e postagens dela em redes sociais para que sejam utilizados como prova na ação”, explicou.

Segundo Antilia, esta é a primeira vez que medida do tipo é feita contra uma menor por causa da morte de um animal. “Entendemos que a garota responde por dano moral coletivo. Isso porque ela jogou o animal e todo mundo que assistiu ao vídeo ficou chocado.”

Além disso, ativistas também pedem que um outro gato de propriedade da família seja entregue às autoridades. Conforme relata a líder Jane Santos, o grupo entende que ele também corre risco de vida. “Ficamos sabendo e, como em outros casos, nos organizamos para ir até o local. A mãe não quis conversar com a gente, chegamos até a chamar a polícia, mas não houve acordo.”

Conforme esclarece Antilia, nenhum dos processos determina pena de reclusão para a menor, já que isso não é previsto em lei. “Ela é inimputável, ou seja, não responde pelos atos. Ela vai ser ouvida pelo juiz da Vara da Infância e Juventude e poderá receber uma pena socioeducativa. Na ação que estamos tentando mover contra ela está prevista multa com um valor a ser pago em dinheiro, que será estipulado pelo juiz”, esclareceu a advogada.

REPERCUSSÃO

Após filmar o ato e postar o vídeo nas redes sociais, a jovem chegou a brincar com o fato, escrevendo frases como “vocês não sabem o que eu passo” e “adeus”. Durante a gravação, ela também fala “vai, Alice! Tchau”, mas não chega a registrar o momento em que a gata atinge o chão.

A equipe do Diário esteve no prédio onde mora a família, mas foi informada pelo porteiro de que não havia ninguém em casa. Além disso, também tentou entrar em contato por meio do telefone da jovem, que caiu diretamente na caixa postal.

O comerciante Gilvan Dias Souza, 57 anos, tem uma loja vizinha ao edifício em que a adolescente reside e diz que a conhecia de vista. Ele, que tem um cachorro, disse que a cena realmente é difícil, mas reconhece que a garota está passando por momento difícil. “Não podemos julgar o que aconteceu. Com certeza ela deve ter algum problema para ter feito isso, e não cabe a nós condená-la.”

A vendedora Maiara de Oliveira, 19, disse que pessoas chegaram a ameaçar a menina. “Na semana passada vimos gente chamando-a de assassina. O que ela fez é muito triste, mas é um momento difícil também para a família.”

Especialistas explicam reações agressivas na internet

Usuários do Facebook criaram grupo em que a atitude da menina que atirou uma gata do 14º andar de um prédio é condenada e ameaças são feitas à adolescente. Até sexta-feira, 6.500 usuários haviam curtido a página, que foi retirada do ar ontem.

O administrador da página adota tom pacífico para comentar o caso. “Trata-se de uma criança que tomou atitude extremamente errada para chamar atenção. Porém, machucá-la não fará com que a gatinha Alice volte à vida. O máximo que podemos fazer, é torcer para que ela se arrependa.” Entretanto, a maioria dos usuários chegou a publicar ofensas e ameaças.

Segundo o professor de Psicologia da Universidade Mackenzie Fabiano Fonseca da Silva, as pessoas costumam desenvolver esse tipo de comportamento quando em grupo. “Estamos em uma sociedade em que se ofende sem ter clareza do significado. Exemplo é a torcedora do Grêmio que ofendeu o goleiro Aranha, do Santos, por se sentir protegida pela multidão, mas foi filmada falando aquilo. É quase o mesmo caso dessa moça.”

A psicóloga e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC Maria Regina Domingues de Azevedo explicou que a rede social agrava esse tipo de situação. “As pessoas se sentem protegidas atrás do computador. Só que não nos cabe julgar nem punir. Precisamos entender o que a levou a cometer esse ato. O que há por trás disso e por que ela sentiu tanta raiva do animal.” 




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