É preocupante o teor das declarações dadas pelo presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, durante a coletiva de imprensa em que anunciou que a produção do setor recuou 21,9% no mês passado, no que se configurou o pior agosto em 18 anos. Ele afirmou que as empresas temem que a crise hídrica possa ocasionar apagões que paralisem as linhas de montagem, prejudicando ainda mais os números do segmento. Para o Grande ABC, cuja economia ainda depende significativamente da indústria automotiva, seria o pior dos mundos.

Sob a seca mais drástica das últimas nove décadas, o Brasil, que gera em barragens o grosso da energia elétrica, vive o risco de racionamento. Para evitar a hipótese, o governo tanto apela para que os grandes consumidores, como os industriais, economizem quanto aumenta a tarifa. A espiral inflacionária despertada pela medida inquieta os empresários. “Mas o pior cenário possível é haver parada de produção por falta de energia. Isso preocupa bastante”, diz Moraes. Ele tem razão.

Tudo o que a indústria, e não apenas a automotiva, mais teme neste momento de recuperação pós-pandemia é ter de lidar com entraves estruturais. A vida das montadoras já está muito difícil por causa da falta de peças, especialmente componentes do sistema eletrônico-digital. Muito dependente do mercado externo, o setor se viu desabastecido desde que restrições logísticas, impostas pelas autoridades sanitárias no combate ao novo coronavírus, prejudicaram a importação – a queda na produção de agosto é atribuída exatamente a tal fator.

E o cenário se torna ainda mais desolador com a paralisação dos caminhoneiros em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que já causa transtornos em 12 Estados e cujas consequências não devem tardar a chegar a São Paulo e, particularmente, ao Grande ABC. Inevitável que haja consequências para a indústria. E havia quem achasse que a crise econômica estancaria com a luz surgindo no fim do túnel da pandemia. É frustrante.