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Zélia Gattai agora é imortal
Por Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
19/05/2002 | 17:28
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Os imortais da ABL (Academia Brasileira de Letras) recepcionam nesta terça-feira (21) sua mais nova companheira, a escritora Zélia Gattai. A viúva de Jorge Amado (1912-2001) toma posse em cerimônia com pompa e circunstância na sede da entidade carioca. Ocupará a cadeira que foi de seu marido durante 40 anos. Também nesta terça termina o prazo para escritores se candidatarem à vaga deixada pelo economista Roberto Campos, morto em outubro passado.

   A menos de dois meses de completar 86 anos, Zélia tem a agenda lotada de compromissos. Lançou seu novo livro Jorge Amado: Um Baiano Romântico e Sensual (Record) no Rio e em São Paulo, onde também participou dos encontros literários da Bienal Internacional do Livro, mas continua morando na Bahia. Por causa da posse, está no Rio desde a semana passada.

   Por enquanto, não quer nem falar quando o assunto é escrever um próximo romance. “Tenho feito muita coisa. Só espero poder descansar depois”, disse ao Diário. O livro recém-lançado – com memórias da família Amado, muitas fotos e ilustrações – foi escrito em conjunto com seus filhos João Jorge e Paloma. “Cada um conta suas experiências e, como diz o subtítulo, são três relatos de amor”, afirmou a escritora.

   Na quinta-feira passada Zélia provou o fardão, que na verdade é um vestido. Com a voz cansada, ela resumiu sua expectativa: “Representa muito para mim, tanto por entrar na Academia quanto por ocupar a cadeira que foi de Jorge”. A cadeira, de número 23, foi fundada por Machado de Assis, que escolheu como patrono José de Alencar.

   Nascida em São Paulo, Zélia publicou sua primeira obra aos 63 anos, motivada a escrever pelo marido. Anarquistas, Graças a Deus (1979) ganhou o prêmio Paulista de Revelação Literária. É acadêmica também na Bahia, nas instâncias estadual e municipal (de Ilhéus). Em sua bibliografia constam ainda Um Chapéu para Viagem (1982), Jardim de Inverno (1988), Crônica de uma Namorada (1995) e Città di Roma (2000), entre outras.

   A autora de Códigos de Família (seu último romance) ingressa na ABL nesta terça-feira e em 25 de julho já faz sua primeira participação como votante. Mas antes de assumir o posto de imortal, afirma que não pensa no assunto: “Ainda não tenho direito de ter candidato”.

  Eleição – O pleito que elegeu Zélia foi o segundo envolvendo a cadeira 21 após a morte de Roberto Campos. Em março passado, três candidatos – Hélio Jaguaribe, Paulo Coelho e Mário Gibson Barboza – dividiram os votos dos imortais e não houve vencedor. Até sexta-feira passada, nove pessoas estavam inscritas, entre eles novamente o sociólogo Jaguaribe e o mago Coelho.

   O diplomata Barboza, que não respondeu aos recados deixados pelo Diário em sua casa, teria desistido da eleição. Os demais candidatos, com poucas chances de vitória, são Felisberto da Silva, Amil Alves, Paulo Hirano, Carmine Antônio Filho, José Luiz Ferreira Brunes, Waldemar Cláudio dos Santos e Laurita Lourdes Linhares Mourão de Irrazabal.

   Paulo Coelho demonstra interesse pela ABL há tempos. Quando morreu Jorge Amado cogitou candidatar-se, mas recuou diante da inscrição de Zélia. O cientista político Hélio Jaguaribe é seu mais forte adversário.

   A próxima posse na ABL está prevista para setembro. Raimundo Faoro, 77 anos, eleito para a cadeira 6 (antes de Barbosa Lima Sobrinho), é autor do ensaio Machado de Assis, A Pirâmide e o Trapézio (1974).




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