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Laços maternos no palco
Por Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
09/05/2010 | 07:10
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Há quase dez anos, Zizi e Luiza Possi tiveram a primeira experiência de palco juntas. Mãe e filha entoaram Haja o Que Houver (Madredeus), faixa que integra o disco Bossa (2001), da cantora veterana. Hoje, data mais do que convidativa, Dia das Mães, as duas vozes da MPB se reencontram no Parque Ibirapuera, a partir das 12h, em show com entrada franca.

"Na época, ela era uma garotinha de 15 anos, que morava com a mãe", lembra a intérprete. A emoção de dividir as atenções do público agora é outra. "Hoje, ela é uma profissional. Tem ainda aquela relação de mãe para filha e de colega para colega", orgulha-se Zizi, que ainda precisará se policiar para não chamar Luiza de "bebê", durante a apresentação.

O repertório tem como base os DVDs Cantos & Contos 1 e 2, lançados no mês passado pela Biscoito Fino. O recente trabalho de Zizi é bastante plural, resultado da gravação de 12 shows, que receberam set lists diferentes para celebrar os 30 anos de carreira em 2008, no Tom Jazz. Entre os temas, revisita a trajetória e mergulha no universo de convidados, como Edu Lobo.

Para hoje, a intérprete é só alegria. "Não poderia existir presente mais legal do que cantar ao lado de Luiza nesta data para mães e filhos na plateia. É preciso agradecer a Deus", afirma.

CONSELHOS
Quando o assunto é carreira, Zizi toma cuidado para não interferir nos passos de Luiza. "Todo indivíduo tem o direito de acertar e errar. Digo a ela: ‘Filha, estou aqui'. Eu só opino mesmo em duas situações: se ela pedir um conselho ou se eu a vir em iminente perigo", pontua.

Para Zizi, a escolha de Luiza não foi surpresa porque demonstrava ‘alma artística' desde pequena. Questionada se recebeu a decisão como um presente, ela esclarece: "Presente é saber que a minha filha escolheu o trabalho que reflete a alma dela. Poderia ser qualquer outra profissão que eu ficaria feliz".


Herança de sangue e espírito
Filha de pais separados que moravam em Estados diferentes, a cantora Lia Cordoni, de Santo André, passou pouco tempo da infância perto da mãe Neuza Pinheiro, também intérprete. Mas esses momentos que conseguiram compartilhar já foram suficientes para aproximá-la da música.

"Lembro que, aos 4 anos, Lia compôs para as tartarugas de estimação. Era uma canção de teor infantil com muita qualidade. Tinha ritmo, melodia e pulsação impressionantes", conta Neuza. A filha também entrega recordações: "Ela tinha um gravador de fita que sempre usava para compor. Eu aproveitava para experimentar vários timbres e depois ria com as gravações".

Lia se inseriu no meio artístico de maneira independente, mas sempre recebeu o apoio de Neuza, que foi parceira de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Tanto que já subiram ao palco com projeto especial, chamado Cria, que a mãe idealizou para fortalecer a união das duas. "Cantar com ela é sempre emocionante. Queria que a gente fizesse isso mais vezes", confessa a mãe.

Ela ainda considerou maravilhosa a escolha da filha em seguir a mesma profissão. "É uma extensão nos planos biológico e espiritual. Essas heranças são um mistério para mim. Vejo como ancestral porque temos vários músicos na família", comenta.

Quanto ao seu interesse pela música, Neuza brinca: "Surgiu assim que comecei a falar". O pai, que era conhecido como J. Pinheiro, foi músico de talento e bom gosto. "Desde pequena, ouvia grandes compositores da música brasileira no rádio e temas de blues com o meu pai". Quanto à ‘voz negra', diz ser semelhante à da avó Gerucina, que cantava em coral de igreja.

Quando surge uma dúvida, Lia não deixa de consultar Neuza. "Peço alguns conselhos a ela. Respeito a experiência que tem", afirma. E logo demonstra como acontecem as conversas: "Mãe, minha voz está timbrando bem nessa música? Devo deixar a voz mais suave?". O respeito é recíproco: "Quando pede sugestões, eu me disponho com máximo cuidado e alguma sabedoria", aponta Neuza.

Comparações entre mãe e filha não costumam ser feitas porque têm estilos muito diferentes. Enquanto Lia se entrega às raízes da música brasileira, Neuza assume percepção mais universal, que experimenta da toada ao blues. No máximo, o público relaciona as fisionomias: "Nossa, a Lia é a Neuza escrita", reproduz a filha.


Enquanto a mãe prepara o lançamento do disco Profissão de Febre, composto por poemas de Paulo Leminski que passaram a ser musicados em 1985, Lia divulga o álbum Samba-Fusão. O trabalho, que reúne composições do marido Jairo Cechin, alia samba tradicional a outros ritmos. (Sara Saar)




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