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Pesquisa mostra que coluna de pescador sofre com o ofício

Levantamento da USCS aponta que dor na região lombar atinge 75% dos entrevistados

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
20/05/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


As dores nas costas são o principal motivo de afastamento de trabalhadores brasileiros e estudo realizado pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano) mostrou o quanto uma categoria, em especial, sofre com esse problema: os pescadores.

Em avaliação feita com 24 profissionais de ambos os sexos, com faixa de idade mais prevalente de 41 a 50 anos, da Colônia de Pescadores Z1, no Parque Represa Billings, em São Bernardo, a prevalência de lombalgia (dor na região lombar) foi de 75%. Considerada importante problema de Saúde pública e socioeconômico, por ser a principal causa de incapacidade no mundo, a doença teve maior prevalência entre aqueles mais expostos ao trabalho sentado com o tronco inclinado para frente durante o recolhimento do pescado.

O estudo, realizado ao longo de 2017, foi desenvolvido pela Liga Acadêmica de Anestesiologia e Dor da USCS. A ideia de abranger os pescadores foi sugestão da bióloga e professora da universidade Marta Ângela Marcondes. “Como estou envolvida com a Billings e com a colônia de pescadores, pensamos neles, para ver se têm dor por conta dessa atividade e quais são as regiões do corpo que sofrem maior impacto”, explicou a docente.

Com a constatação do quadro, os pesquisadores agora estão na fase de montagem de equipe para retomar o contato com os pescadores, e pontuar as formas de sanar o problema, possibilitando a melhora na qualidade de vida deles. “A nossa ideia é criar material informativo sobre como podem não sentir mais dor. Por exemplo, que equipamentos, como cintas, coletes ou materiais que possam utilizar para que não forcem tanto o ombro nem a região lombar. E verificar como esses itens podem ser trazidos para os pescadores ou como a compra deles pode ser facilitada”, ressaltou Marta. “Neste momento, realizamos uma ação de Educação e Saúde. Acho que se a gente fizer (o trabalho de orientação), em parceria com o poder público, com as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) que atendem esses pescadores e com a colônia, teremos um resultado bacana”, acrescentou.

TORMENTO

Depois de uma pesca, a presidente da Colônia de Pescadores Z1, Vanderlea Rochumback Dias, 50 anos, volta, muitas vezes, deitada no barco, tamanha a dor que sente na região lombar. Um dos atos que intensificam a dor é a armação da rede. A posição curvada durante o ato de armá-la, repetidas vezes, somada ao peso dela, também intensificam o problema. “A rede tem 40, 50 metros, e armamos em torno de 20 vezes por dia”, relatou ela, que utiliza uma cinta postural para amenizar os danos.

Pelo problema na coluna que adquiriu após oito anos como pescadora, Elisangela Roberta da Costa Hessel, 41, terá que deixar o ofício. Em dezembro, as dores que sentia constantemente pioraram e uma hérnia de disco resultou em internação de 37 dias e quatro cirurgias.
Enquanto se recupera do pós-operatório, ela se locomove com o auxílio de um andador.
“Passei a sentir dor na coluna mais intensamente quando comecei a pescar e, ao contar para o médico, ele disse que era pelo esforço que eu fazia”, lembrou. “Agora, não poderei mais pescar, porque qualquer esforço pode trazer o problema de novo. Se pudesse voltar no tempo, faria qualquer coisa que falassem que é bom para evitar chegar a essa situação”, desabafou Elisangela.


Dor no ombro e má qualidade do sono também estão entre os problemas


A pesquisa da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) com foco na saúde dos pescadores também apontou que 29% dos entrevistados sofrem com dor no ombro concomitantemente com a dor lombar.

Dores na região do ombro atingem 21% dos trabalhadores que participaram da pesquisa, sempre associadas às dores na lombar para as pessoas que fazem a limpeza dos peixes. Já a dor muscular foi queixa de apenas 4% dos pescadores.

O desconforto sentido impacta em outro ponto que afeta a qualidade de vida: o sono. A pesquisa destacou que, com as dores crônicas ocupacionais, a qualidade do sono diminui, aumentando proporcionalmente os níveis de hormônios glicocorticoides e, consequentemente, diminui o nível de produção dos pescadores. A avaliação observou que a média de sono dos participantes está em torno de quatro horas por noite.

“O estudo quer contribuir para a melhoria da qualidade de vida a partir do momento que diminua essa dor. Assim, melhora o sono e até a forma de se relacionar com as outras pessoas, porque quem sofre com dor fica irritada”, salientou a pesquisadora da USCS Marta Ângela Marcondes. 




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