Cultura & Lazer Titulo
Mergulho no autoconhecimento
Mariana Trigo
Da TV Press
28/12/2008 | 07:10
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Ricardo Trida/DGABC


A ansiedade de Jayme Matarazzo é indisfarçável. Também pudera. O filho do diretor Jayme Monjardim estréia como ator interpretando o próprio pai para recontar a história de sua avó na minissérie Maysa, que estréia no próximo dia 5, na Globo. Como não bastasse todo o envolvimento emocional em entremear o texto ficcional de Manoel Carlos com as próprias vivências familiares, o paulistano de 23 anos trabalha como assistente de direção da trama. Empolgado e falante, Jayminho, como é chamado, depois de se envolver com o personagem da produção, agora quer se aprofundar como ator e conciliar a nova função com a carreira de diretor. "Acho que supri qualquer técnica que eu não tenho como ator me doando com muita emoção para esse personagem. Eu e meu pai fizemos esse trabalho com a alma", assegura.

A idéia de você interpretar seu pai na minissérie surgiu do autor Manoel Carlos. Por que você relutou em aceitar o convite?
JAYME MATARAZZO - Meu pai também resistiu bastante. Como eu nunca havia atuado, não sabia como dar conta da responsabilidade de viver um papel que justamente trata da história do meu pai. Mas me propus a fazer um teste. Me preparei uns 15 dias e o resultado ficou bom. Daí o meu irmão André também fez teste e passou para interpretar o meu pai na infância. A partir daí, começamos um trabalho intenso de composição. Já estava envolvido porque estava trabalhando na minissérie como assistente de direção. Estava de cabeça nessa história. Chegou uma hora que eu me toquei: "Quero contar a história da minha avó e do meu pai. Quero fazer parte dela aqui."

Foi possível manter um distanciamento compondo um personagem que era seu pai?
JAYME MATARAZZO - Foi e tem sido engraçado, estranho, curioso. Agora estou sabendo como ele era quando tinha a minha idade. Somos muito parecidos, não só fisicamente. Há 23 anos, ouço isso de várias pessoas. Acho que não foi possível uma imparcialidade. Foi uma composição completamente emocional. Descobri muitas coisas sobre ele, que somos muito sensíveis. Descobri sentimentos profundos nele. Interpretei o que ele é, um cara guerreiro, que passou muitas ‘barras' na infância e, ao mesmo tempo, teve uma criação maravilhosa. Ele se tornou um cara incrível apesar de enfrentar muitos problemas, de ter uma mãe que não era certinha, vivia muitas loucuras, fiquei impressionado com ela.

Por quê? Você não conhecia a história da sua avó?
JAYME MATARAZZO - Não. Só sabia o que a maioria das pessoas conhece, que era uma cantora maluca, que tinha suas bebedeiras, era talentosíssima e que tinha morrido num acidente na Ponte Rio-Niterói. Só isso. Esse era um assunto que eu e meu pai não tocávamos. Não era um tabu para ele, mas nunca conversamos. Sempre tive curiosidade, mas ficava sem jeito de perguntar. Na pré-produção da minissérie, a gente sentou e ele abriu o baú da Maysa e falou: "Sua avó foi isso, gostava disso, disso." Me contou tudo antes que eu lesse a história que o Maneco escreveu. Foi aí que descobri Maysa. Comecei a ver muitas fotos, li os diários incríveis. Agora, mesmo nunca tendo estado com ela, sei que a conheço profundamente.

Depois de experimentar a atuação, vai largar a assistência de direção?
JAYME MATARAZZO - Vou sempre estar envolvido com cinema e TV. Gostei de atuar e pretendo continuar. Vou estudar, fazer cursos de interpretação. Mas também vou continuar a faculdade de cinema, que tranquei no 5º período. Vou mergulhar de cabeça nos dois. Tomei gosto pela profissão de ator.

Como você tem lidado com as críticas de ter estreado numa trama familiar, de certa forma protegido pela direção de seu pai?
JAYME MATARAZZO - As pessoas não sabem quantas broncas levei com meu pai como diretor. O que me interessa é fazer um trabalho com o coração, com a minha verdade. Claro que as críticas são inevitáveis. Só tive cenas complicadas, emocionantes. Não é fácil começar numa carreira interpretando meu pai. Minha cena preferida foi quando ele encontra a mãe pela última vez, antes de viajar em lua-de-mel. Tenho feito o mesmo que meu pai: abrir o coração para contar a história da minha avó com qualidade e carinho.




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