Após três meses da morte de Estefani Ferreira de Paula, 11 meses, o laudo do IML (Instituto Médico-Legal) de Diadema aponta que a criança tinha tinha câncer pulmonar, edema cerebral, fibrose no coração, hemorragia no baço e congestão no fígado. Em 5 de setembro, o bebê morreu por falta de atendimento no Pronto-Socorro Central de Diadema, anexo ao Quarteirão da Saúde.
Segundo a secretária de Saúde, Aparecida Pimenta, a criança passou por atendimento na UBS (Unidade Básica de Saúde) do Centro em maio deste ano, quando houve suspeita de algum problema no pulmão.
"A pediatra pediu o Raio X e também para que retornasse dois dias depois. O retorno foi marcado. No entanto, a mãe não compareceu com a filha para fazer o exame. A equipe da UBS discutiu o caso e um agente comunitário foi seis vezes até a residência delas, mas em nenhuma das vezes conseguiu encontrá-las. A informação que recebemos é de que estava tudo bem", explicou.
Ainda de acordo com a secretária, atendimento adequado dado à criança em setembro, provavelmente, não seria suficiente para salvar a vida de Estefani.
"Poucas coisas poderiam ser feitas pela gravidade do caso já naquele momento. O tipo de problema que ela apresentou no dia exigia atendimento oncológico em regime de internação hospitalar", afirmou Aparecida.
A enfermeira responsável pelo primeiro atendimento foi afastada da área da Saúde após a abertura de sindicância interna para apurar os acontecimentos no dia da morte da criança.
"O resultado do IML não exclui o equívoco da postura do profissional de enfermagem, que não fez a avaliação da criança. Mas pelo laudo é possível concluir que esse tipo de caso não era para ser atendido no pronto-socorro", esclareceu.
Procurada pela equipe do Diário, a mãe da criança, Cristina Oliveira de Paula, 33, estranhou o fato de que sua filha tivesse tantas complicações de saúde.
"Nunca soube de nada, nem consulta e nem o pedido de exame. A única vez que fui procurada pela UBS foi depois que minha filha morreu", rebateu.
Cristina diz que a criança veio a óbito por omissão de socorro e negligência médica. Na ocasião, Estefani apresentava sinais de inconsciência e palidez e morreu nos braços da tia, a caminho de outro hospital.
INVESTIGAÇÃO - Após o afastamento de dois meses, a enfermeira e a agente administrativa do PS acusadas pela mãe de terem negado fazer o primeiro atendimento à criança voltaram ao trabalho em meados de novembro, mas em outras funções.
Ambas foram remanejadas para exercerem tarefas administrativas na secretaria. De acordo com a Prefeitura, o processo administrativo aberto em setembro que investiga o atendimento prestado foi prorrogado e deve ser concluído até o fim do ano.
Mãe presta depoimento em sindicância
A mãe da vítima compareceu na semana passada pela primeira vez para prestar depoimento e colaborar com a sindicância que investiga as causas da morte de sua filha.
"Tentamos inúmeras vezes contato com a mãe. Estávamos quase com o processo concluído e definindo as medidas disciplinares a serem aplicadas aos envolvidos. Agora, o processo deve se estender pelo menos até o fim do mês", explicou a secretária de Saúde.
Em depoimento, a mãe de Estefani repetiu as versões apresentadas anteriormente, de que a filha foi dispensada pela enfermeira por não haver médico no pronto-socorro.
Após receber essa informação, ambas foram encaminhadas ao Hospital Artur Ribeiro de Saboya, no bairro Jabaquara, em São Paulo.
Após o incidente, a administração informou que no momento do ocorrido havia "cinco médicos no hospital, um psiquiatra e seis equipes de enfermagem."
Ainda segundo a Prefeitura, o quadro mínimo para atender casos de urgência e emergência é de quatro médicos, e a equipe do PS conta com sete médicos por período (entre adulto e pediatria). Em 2008 morreram 311 pacientes no pronto-socorro, contra 317 óbitos registrados em 2009.
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