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Climério Cordeiro morre aos 45 anos
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
19/01/2004 | 19:27
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O pintor naïf Climério Cordeiro morreu sábado, às 8h, no hospital Príncipe Humberto, em São Bernardo, cidade onde morava. O corpo foi sepultado no domingo, no cemitério da Vila Carminha, em São Bernardo.

O artista foi encontrado por policiais militares na avenida dos Flamingos, no Parque dos Pássaros, em São Bernardo, às 23h50 de sexta-feira, com ferimentos graves na cabeça e já em estado de coma. O Boletim de Ocorrência registra atropelamento e informa que não existem testemunhas.

Cordeiro tinha 45 anos e deixa uma filha adolescente, Indira, fruto da união com Neli Costa, de quem o pintor estava separado. O artista, bastante humilde, morava em uma casa simples do bairro Cooperativa e nem telefone tinha.

Climério Souza Cordeiro nasceu em Ilhéus, na Bahia, em 19 de julho de 1958. Mudou-se em 1970 para São Bernardo. Passou a viver em Campinas (SP) em 1982, de onde partiu para Aracaju (SE) em 1985, voltando dois anos depois para Ilhéus. Permaneceu em sua cidade natal até 1995, quando foi viver em Goiânia (GO). No ano seguinte retornou a Ilhéus e em 2000, a São Bernardo.

Apesar de seu talento artístico, Cordeiro sempre levou uma vida modesta. Para ajudar a família, aos 6 anos trabalhou na colheita de cacau e na criação de gado. No Grande ABC pintou paredes antes de se dedicar à arte a partir de 1974, quando começou a estudar desenho, gravura e pintura.

Vendeu telas em praças e manteve pequenos espaços nos aeroportos de Aracaju, Campinas e Ilhéus. Não expôs em Goiânia – vivia de pintar paredes –, embora nunca tivesse abandonado a arte. Em Ilhéus, já adulto, trabalhou como ajudante de carpinteiro.

Cordeiro tinha em seu portafólio exposições coletivas desde 1979 – individuais, desde 1981. Teve obras expostas nos salões de arte contemporânea de Santo André e de São Bernardo. Expôs também em São Paulo (capital e interior), no Rio e nos Estados da Bahia e de Sergipe.

“Climério era uma pessoa muito querida”, afirma o agente cultural Fábio Amsterdam, de São Bernardo. Na mesma cidade, Cordeiro freqüentava diariamente o Espaço Henfil de Cultura. “Ele era tranqüilo, não tinha maldade nem inimigos”, diz Cleudes Cordeiro, um dos sete irmãos de Climério.

“Extremamente capaz, ele estava em um processo de ascenção, não digo quanto à parte financeira, mas certamente quanto ao amadurecimento de seu trabalho e ao reconhecimento de seu talento”, afirma Amsterdam.

“Apresentei sua obra ao crítico de arte Olney Krüse. Membro da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte) e consultor do Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), Krüse ficou apaixonado”, diz Amsterdam.

O cenário rural é o principal tema de Cordeiro. Parte de seu trabalho tem inspiração religiosa, sempre com um viés popular. Para Amsterdam, a característica mais interessante do trabalho do pintor é o regionalismo.

Uma mostra individual de Cordeiro no saguão do Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo, estava prevista para ser inaugurada em março. Agora, por causa da morte repentina, o evento tem futuro incerto.




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