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Neymar brilha, Brasil supera a retranca e goleia o Panamá

Atacante do Barcelona assume papel de protagonista
e abre caminho para a vitória brasileira em Goiânia

Por Anderson Fattori
Enviado a Goiânia
04/06/2014 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


O Brasil experimentou ontem, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, todas as sensações que irá encontrar na Copa do Mundo. No início, enfrentou o Panamá extremamente retrancado, teve dificuldade para escapar da marcação e chegou a ouvir vaias da torcida. Depois, puxado por Neymar, goleou por 4 a 0, no penúltimo amistoso antes do Mundial – a Seleção ainda vai enfrentar a Sérvia, sexta-feira, no Morumbi, em São Paulo.

O primeiro tempo foi um teste de paciência para o torcedor. Escolhido a dedo por se posicionar como o México – segundo rival na primeira fase da Copa do Mundo –, o Panamá se retraía e formava duas linhas de quatro jogadores no meio campo, neutralizando o que o Brasil tem de melhor: a velocidade.

Nem as dimensões do gramado do Serra Dourada, que são as máximas liberadas pela Fifa – 110 metros de comprimento por 75 metros de largura – permitiam ao Brasil encontrar espaços para armar as jogadas, o que deixou o torcedor impaciente e o técnico Luiz Felipe Scolari nervoso, tanto que ele viu quase toda a etapa na linha lateral.

O panorama era exatamente o que Felipão havia dito esperar encontrar na Copa. Com o Brasil favorito, os rivais deverão se retrair e caberá aos donos da casa encontrar alternativas para superar a marcação. Ontem, em alguns lances, os panamenhos tiraram os brasileiros do sério, tanto que o juiz teve de intervir e distribuir cartões amarelos.

O treinador pentacampeão tentava de tudo. Trouxe Hulk da direita para a esquerda e centralizou Neymar, fazendo o atacante ficar mais perto de Fred. Nada funcionava.

Quando as primeiras vaias surgiam, após lançamento equivocado de David Luiz, Neymar resolveu. Aos 24, Ramires roubou a bola e passou para o atacante do Barcelona, que partiu em direção à área e foi derrubado perto da meia-lua. Falta, que ele cobrou com extrema categoria para abrir o placar.

A vantagem tirou o peso das costas da Seleção, tanto que, aos 27, Neymar pôs a bola entre as pernas do zagueiro na área, mas cruzou alto para Fred.

Quando o jogo se encaminhava para o intervalo, Daniel Alves, aos 39, ampliou. Ele recebeu a bola e, sem alternativa na área, arriscou para o gol e acertou o canto esquerdo do ataque.

Como Felipão havia adiantado, o Brasil voltou do intervalo com alterações: saíram Daniel Alves, Marcelo e Ramires para as entradas de Maicon, Maxwell e Hernanes, respectivamente.

E não foi só na escalação que o time mudou. Com um minuto deu para perceber a equipe mais incisiva. Neymar recebeu na entrada da área e tocou para Hulk marcar o terceiro gol.

A partida ficou fácil para a Seleção, já que o Panamá não suportou o ritmo e não exercia marcação tão forte como antes. O único susto para Julio Cesar ocorreu aos dez, quando Quintero cabeceou e o goleiro escorregou, mas espalmou.

O amplo domínio brasileiro projetava goleada. E foi o que aconteceu. Aos 28, Neymar lançou Hulk que, na saída do goleiro, achou Willian, que só teve o trabalho de mandar para a rede, definindo a vitória e levando o torcedor goianiense à loucura nas arquibancadas.

Atacante curte fama e pede calma

Astro do Barcelona se torna imprescindível para a Seleção e recomenda paciência aos torcedores no jogos do Mundial

Não dá para falar de Seleção Brasileira sem citar Neymar. O jogador mostrou ontem por que é imprescindível na caminhada que pode levar ao sonhado hexacampeonato, decidindo jogo que estava morno e já tirava o torcedor do sério, ontem, contra o Panamá, no Estádio Serra Dourada.

Depois da partida, o craque foi sutil ao pedir calma aos torcedores. “Preciso pedir um pouco mais de paciência para a torcida, porque chegamos a tomar vaias no início. Não estamos acostumados com esses campos. Não está de acordo com os que jogamos. Foi pegado o ritmo, depois melhorou, quando imprimimos o nosso e fizemos o placar”, comentou o atacante, que achou o gramado do Serra Dourada mais lento.

Destaque da partida, Neymar disse que não ficou satisfeito com o seu desempenho e acha que pode evoluir até a Copa do Mundo. “Ainda não estou na melhor condição, mas aproveitei bastante o jogo para ganhar ritmo. Acho que com o outro amistoso (sexta-feira, contra a Sérvia, no Morumbi) e os treinos na semana, vou chegar inteiro na Copa”, comentou.

O atacante, que com o gol marcado ontem chegou a 31 no século 21 e superou Ronaldo, revelou antes do jogo que recebeu carta inspiradora de um torcedor, denominado Guto de Deus, que afirmou ir de Brasília até Goiânia, de patins, para assistir à partida. “Garanto que seremos ‘23 Gutos’ hoje, dando tudo fisicamente”, escreveu o jogador antes de a bola rolar no Serra Dourada.

Depois da partida, Neymar, que sofreu diversas faltas, foi bastante assediado pelos jogadores panamenhos e não resistiu. “Até brinquei: ainda bem que acabou (o jogo) logo, porque eles chegam junto, mas dentro do campo isso faz parte. No decorrer da partida, tem que chegar junto. O nosso time também chega junto na jogada. Mas depois, é todo mundo amigo”, comentou o craque, que atendeu pacientemente os panamenhos ainda no gramado.

Susto

O zagueiro David Luiz, que ontem ocupou a função de capitão devida à ausência de Thiago Silva, foi substituído no segundo tempo com dores no joelho direito, mas o jogador disse que não é nada de sério e até brincou com a situação.

“Isso é coisa de velho. Já sabia que seria substituído no segundo tempo. Foi bom porque deu tempo para o Henrique entrar e pegar um pouco do ritmo de jogo”, comentou David Luiz, um dos mais aplaudidos pelos torcedores.

Jogadores culpam falta de ritmo pela atuação mediana

Apesar da goleada (4 a 0) sobre o Panamá, os jogadores da Seleção Brasileira não saíram satisfeitos do gramado do Serra Dourada. Em geral, acharam que faltou um pouco de ritmo de jogo e isso prejudicou bastante a atuação da equipe.

“Acho que tivemos um começo em que erramos muitos passes, talvez por causa de um pouco de nervosismo da nossa parte. Acho que para nós, depois de duas semanas, é sempre bom jogar, ter o ritmo de jogo, que vamos precisar, e para ter todo mundo em forma contra a Croácia”, disse o volante Luiz Gustavo.

O atacante Fred também comemorou o fato de poder disputar um amistoso, no qual ainda é permitido errar algumas jogadas. “A gente tem trabalhado muito e o que temos colocado na cabeça é que temos que evoluir mais para transformar o favoritismo que possuímos no papel, para dentro de campo”, ressaltou.

Um dos líderes do time, o goleiro Julio Cesar reclamou do gramado em lance que por pouco não falhou, conseguindo se recuperar de um escorregão e colocando a bola para escanteio. “Se tivesse tomado gol hoje (ontem) ia ser chato para mim e para todo mundo. Nesta temporada, joguei pouco no Toronto e goleiro é isso, goleiro é ritmo de jogo, tempo de bola”, disse o atleta brasileiro.

Felipão reprova início e diz que time precisa melhorar até o Mundial

Técnico não deve poupar ninguém no último teste antes da Copa, sexta, contra a Sérvia

Se depender das declarações do técnico Luiz Felipe Scolari na entrevista coletiva, os jogadores da Seleção Brasileira vão ouvir muitas broncas até encarar a Sérvia, sexta-feira, no Morumbi, em São Paulo, no duelo que encerrará a preparação do Brasil para a Copa do Mundo.

Insatisfeito, sobretudo com os primeiros 20 minutos de bola rolando, ontem, diante do Panamá, em Goiânia, o treinador disse que vai usar os treinamentos na Granja Comary, no Rio de Janeiro, para onde a delegação retornou ontem à noite, em busca de alternativas para escapar das marcações pesadas dos adversários.

“Iniciamos o jogo tentando exercer marcação sob pressão no Panamá, mas não funcionou. O time ficou lento e com ligação direta da defesa com o ataque. Depois, melhoramos, começamos a sair mais para o jogo, mais compactados e construímos o resultado. Mas não gostei nada do começo da partida e precisamos trabalhar para resolver isso, pois se acontecesse contra adversário mais qualificado, podíamos ter tido problemas”, analisou Felipão.

Felipão, porém, contemporizou quando questionado se pensava em fazer alguma alteração para o duelo com a Sérvia. “Esse time está treinando há uma semana, mas não joga há três meses (desde a goleada por 5 a 0 sobre a África do Sul, março), por isso precisamos dar um desconto”, ressaltou.

Durante a semana, o treinador receberá os reforços do zagueiro Thiago Silva e dos volantes Paulinho e Fernandinho, que ficaram no Rio de Janeiro melhorando o condicionamento físico e deverão atuar contra a Sérvia. “Se tudo ocorrer bem nos treinos, teremos os 23 jogadores à disposição na sexta-feira. Não pretendo poupar ninguém, porque quero colocar em campo o time que vai iniciar a Copa do Mundo”, comentou Felipão.

Nem mesmo o craque Neymar, destaque contra o Panamá, vai descansar. “O Neymar precisa jogar, já que estava sendo poupado no Barcelona. Por isso, mesmo com o cartão amarelo, decidi deixar ele em campo. É um jogador espetacular, com repertório incrível e precisamos dele inteiro e bem na Copa”, assumiu Felipão.

Na sua última resposta, o técnico agradeceu ao ex-árbitro Arnaldo César Coelho por ter ido a Teresópolis conversar com os jogadores e afirmou que, durante a semana, serão mais duas palestras para os atletas, mas sem revelar quais serão os palestrantes.

Torcida faz a festa em dia de caça ao craque Neymar

Famílias marcaram presença no estádio em busca de recordação do astro do Barcelona

Goiânia não será uma das sedes da Copa do Mundo, mas os goianienses tiveram ontem o privilégio de se sentir no Mundial. Sorridentes e esbanjando simpatia, fizeram a festa no Estádio Serra Dourada e mantiveram o tabu de jamais ter visto a Seleção Brasileira sair de campo derrotada – são 14 jogos, com 12 vitórias e dois empates.

Na parte de fora do estádio, a alegria era contagiante. Famílias chegavam uniformizadas para incentivar a Seleção Brasileira e tinham um objetivo claro: chegar o mais perto possível do craque Neymar.

Foi esse desejo que interrompeu as férias do torcedor Igor Gabriel Lopes, 10 anos, que convenceu o pai, Adílson Ferreira, a percorrer 170 quilômetros de Rio Quente até a Capital para ver o craque do Barcelona. “É a primeira vez que vejo ele de perto. Tomara que veja um gol”, comentou o torcedor, que deve ter vibrado com a cobrança de falta do atacante.

Uma fã mirim que estava entusiasmada antes de a bola rolar era Isabela Silva Miranda, 5 anos, que também foi ao estádio pela primeira vez. “Já vim ver a Seleção Brasileira no Serra Dourada, agora é a vez de trazer ela”, comentou o pai Jullierme Afonso, enquanto a torcedora se produzia.

Esses eram apenas dois exemplos de centenas de crianças que chegavam ao estádio ao lado dos pais. A euforia era tanta que os goianienses aplaudiram até mesmo a seleção do Panamá, quando entrou em campo para o aquecimento.

Antes de a bola rolar, craques campeões do mundo no passado, como Pepe, Edu, Mengálvio e Viola, foram homenageados no gramado e o cantor andreense Péricles foi o responsável por cantar o Hino Nacional.

Apesar de passar os primeiros minutos apreensivos com a dificuldade encontrada pela Seleção Brasileira e até esboçar vaias, os torcedores se soltaram e empurraram o time, com direito a ‘ôla’ e tudo mais.

No fim, os fãs não arredaram os pés das arquibancadas até o último atleta brasileiro deixar o gramado e foram para casa com gostinho de quero mais.




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