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Ex-diretor revela em livro tudo o que rolava na MTV
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
23/03/2014 | 07:00
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Reprodução


Você sabe o motivo pelo qual o acústico do Roberto Carlos nunca foi ao ar? E o babado que rolou nos bastidores da MTV quando a Daniela Cicarelli foi flagrada com o namorado em praia espanhola? Imaginava que as VJs brigavam por figurino? E que o canal se arrepende de ter explorado demais a febre Restart?

Essas e outras perguntas são respondidas, com linguagem leve e descontraída, por Zico Goes, diretor da MTV por 20 anos, no livro MTV Bota Essa P#@% Pra Funcionar! (Panda Books, 160 págs., R$ 35,90). “Já tinha esse projeto fazia um tempo e o acelerei quando soube que a MTV ia acabar de vez. Não queria deixar morrer a história de um canal que morreu”, conta. O comunicador sabe que seu livro será usado em futuras pesquisas, mas faz questão de dizer que não tem essa pretensão. “É mais um registro pessoal sobre a minha experiência como profissional e o que eu achava que era a MTV.”

Zico relembra como foi a chegada no Brasil, em 1990, de um canal que ele mesmo chama de ‘não TV’ por ser totalmente diferente dos padrões da época, cita os programas que fizeram história, como o Teleguiado, Disk MTV, Rock Gol, Barraco MTV, Fica Comigo, entre centenas de outros e conta um pouco sobre a personalidade dos VJs que passaram por lá. “O grande problema desse livro é o que não coube ou o que eu esqueci de citar, por exemplo, o 20 e Poucos Anos, primeiro reality show do Brasil. Mas, no segundo livro, não vou perder a oportunidade”, diz.

Para o diretor, a chegada da internet misturada a outros fatores como a pulverização das mídias e a concorrência foram os grandes culpados pelo fim da MTV. “O nosso era um dos únicos canais que existiam para o jovem dar a cara para bater. Hoje cada um tem a sua própria televisão. Se surgissem agora, o Cazé e o Hermes e Renato, por exemplo, fariam muito sucesso no YouTube.”

Leia entrevista completa:

D+: Você escreveu o livro resgatando da memória ou foi teve de procurar em arquivo?
Zico: Grande parte da memória mesmo. Já tinha escrito algumas coisas, mas o processo todo surgiu em entrevistas que dei para repórter da editora. O resultado é um texto oral, quase que uma conversa mesmo. É um bate-papo descontraído, como sempre foi a linguagem da MTV.

D+: Você sabe como anda a questão do material arquivado da MTV? Quem ficou com aquilo afinal?
Zico: A Abril tem todo o acervo guardado no prédio antigo. São mais de 30 mil fitas e quase nada foi digitalizado. É um tesouro guardando. Quem sabe um dia ele seja aproveitado.

D+: Como você se sentiu quando percebeu que o canal estava com os dias contatos?
Zico: No meio de 2011, senti que a coisa não ia vingar por muito mais tempo. Ouvimos boatos e ficou clara a vontade do dono se livrar daquilo logo. A notícia definitiva veio em 2013. Foi muito triste para mim e para todos que estavam no canal. Além de ter perdido o emprego, tudo aquilo que era a MTV, incluindo a experiência humana o ambiente descontraído para se trabalhar, ia acabar. Mas talvez estivesse mesmo na hora de acabar.

D+: Foi realmente tudo culpa da internet?
Zico: Também, assim como a pulverização das mídias, a concorrência. Foi um cenário que determinou que o projeto não servia mais para a Abril.

D+: Os interesses da nova geração mudaram?
Zico: Continua igual, mas o meio de comunicação com eles não é mais pela TV. Eles continuam querendo saber de música, se expressar, ousar e não se conformar.

 

Veja o piti do Caetano Veloso, que deu o nome ao livro:

 

D+: Você cita no livro que teve de apelar para a Restart para ganhar audiência. Foi isso mesmo?
Zico: Foi. Eles são banda com apelo para os bem mais jovenzinhos. Para o Ibope fazia bem, mas para MTV não. Tanto que resgatamos outros artistas nos anos finais. Vamos combinar que o Crioulo é mais legal, né.

D+: Você chegaram a fazer pesquisa e viram que o público era mesmo adolescente. No fim do canal, você não acha que valia a pena dar atenção para a galera de 30 e poucos anos que curtia muito a MTV na adolescência?
Zico: A MTV não pode fidelizar o público, ele tem sempre que se renovar, mas não ‘crescer’ junto com os telespectadores. A pessoa de 30 anos não é mais da MTV. A sensação que ela teve quando o via o canal não volta nunca mais.

D+: O que está achando da nova MTV? Teria alguma ideia pra ela?
Zico: Eu vi como está sendo feita de perto, já que ajudei a colocar no começo do ano o Batalha de Quiosques no ar (agora Zico faz parte da Conspiração Filmes). A proposta deles é bem diferente, mais pragmática, moderna, adequada ao que é a TV hoje. Não tem VJs, mas tem centenas de séries. Simplesmente, não dá para comparar à antiga MTV. Aliás, eles nunca se propuseram a tentar repetir a fórmula.

D+: O que a MTV significou para o Brasil? O que significou para você?
Zico: Para o País, mostrou que o jovem pode ousar, ter mais atitude, não precisa se conformar. Também carimbou sua missão social - com campanhas importantes, como a da Aids -, além de apresentar estética diferente e dar chance a artistas novos. Para mim, sempre combinou com meu jeito anárquico de ver as coisas. Significou a minha carreira. Sou o que sou por causa da MTV.




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