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Nos corações, saudades e cinzas
Por Carlos Brickmann
21/03/2018 | 07:00
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Nosso panorama de hoje está descrito na esplêndida Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, de Carlos Lyra e Vinicius: “Pelas ruas o que se vê/ é uma gente que nem se vê”. Que nem se sorri, nem se beija e se abraça (...)” O País do Carnaval ficou triste, ficou chato, só gente querendo tristeza e prisões.

Lula preso ou Lula solto? O raciocínio não é político: é de vitória ou vingança. Lula preso será a alegria de parte da população, feliz de ver seus desejos atendidos; será a tristeza mortal de outra parte. E as consequências? Lula preso é um mártir pronto. Se ficar na cadeia, mártir, com reportagens de jornais internacionais todos os dias; se sair logo, mártir, e um mártir que com seu exemplo terá vencido tudo e todos. E que, por favor, nada lhe aconteça na prisão, ou o candidato dele decola.

Lula solto é a prova de que vale a pena desafiar juízes, insultá-los, tentar desmoralizá-los – e esta será a crença não apenas dos adversários, dos que só se contentariam em vê-lo atrás das grades, algemado e comendo de marmita; vale também para seus aliados, pois a tese é a de que decisão da Justiça se combate politicamente.

Lei é lei, acabou-se? O balé de juízes existe, avaliação política existe. Mas, hoje, pensar é arriscado. É só lembrar que a Marcha citada diz, com esperança, “porque são tantas coisas azuis”... Haverá quem acuse os comunistas Lyra e Vinicius de ser coxinhas tucanos hostis ao vermelho.

Tudo certo
O presidente Michel Temer, num discurso irrepreensível, disse no Fórum Mundial da Água que o crescimento sustentável está “intimamente ligado” ao acesso à água. Temer tocou no ponto mais importante de toda essa questão: sem acesso livre à água, como molhar as mãos necessárias?

O milagre brasileiro
Faz tempo que não chove em Brasília. Há uns três anos chove abaixo da média, esvaziando os reservatórios e provocando duro racionamento (ou melhor, ‘rodízio’ – em toda a área do Distrito Federal. O racionamento (ou ‘rodízio’) começou em janeiro do ano passado. Mas a ação do governo provocou um milagre: nas áreas onde se realizam as reuniões do Fórum, foi possível suspender o racionamento, veja só, evitando submeter os técnicos estrangeiros aos mesmos sofrimentos impostos aos cidadãos brasilienses. Em resumo, há racionamento a Leste, Oeste, Sul e Norte da metrópole, mas onde se reúnem as equipes do Fórum Mundial da Água, ali já não há seca.

Os de sempre
O prefeito João Doria é o grande vencedor das disputas internas do PSDB: aconteça o que acontecer, está livre da incômoda atividade de ser “gestor” de São Paulo. Vença ou não as eleições para o governo paulista, livrou-se da prefeitura e daqueles cidadãos chatos que querem ruas limpas, trânsito decente e serviços mais ou menos aceitáveis. O governador Geraldo Alckmin pensa ser o novo dono do partido, mas seu trabalho é outro: conduzir o grupo de intelectuais amigos que se odeiam uns aos outros até uma nova derrota. Alckmin já desempenhou o mesmo trabalho em 2006, quando escondeu na campanha o principal nome do PSDB, Fernando Henrique, e terminou vestindo uma estranha jaqueta com os símbolos de estatais que prometia não privatizar. Levou de Lula uma surra de criar bicho: se é para estatizar, Lula é mais confiável que Alckmin.

Cumprindo o ritual
Alckmin se coloca como pré-candidato no momento em que o seu sobrinho Othon César Ribeiro é investigado, por ordem do promotor Sílvio Marques, por suspeita de ter-se beneficiado da concessão de cinco aeroportos no Interior paulista. O pai de Othon, Adhemar Ribeiro, cunhado de Alckmin, foi acusado por delatores da Odebrecht de ter obtido R$ 2 milhões irregulares para a campanha governamental de 2014.

Os novidadeiros
O caro leitor se lembra do estojo de primeiros socorros no carro? E do extintor cheio de dispositivos? Tudo pela segurança: como seria possível guiar seu próprio carro de passeio sem ter tudo bem à mão? Todos esses produtos essenciais foram dispensados e esquecidos assim que os donos de automóveis gastaram com eles uma barbaridade de tempo e dinheiro.

A novidade de agora é a troca de placas de todos os veículos do País, obsoletas, claro, pelas essenciais chapas desenhadas para o Mercosul, mais feias e sem nenhuma nova função – a não ser custar R$ 260 por carro. As autoridades podem não se preocupar com o cidadão, mas jamais irão deixar de se preocupar com aquilo que o cidadão carrega no bolso.

Sem exceção
E não se queixe ao bispo: dom Ronaldo Ribeiro, 61, foi preso pela polícia por suspeita de corrupção na Diocese de Formosa, Goiás, a 80 quilômetros de Brasília. Até na Igreja Católica! 




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