Os presidentes dos EUA, George W. Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, anunciaram no domingo que aceitam vincular as discussões sobre o arsenal de defesa ao arsenal de ataque dos dois países. O acordo pode abrir caminho para a reformulação do Tratado Antimísseis Balísticos (TAB) para que ele permita a construção pelos EUA de um polêmico escudo antimísseis.

O acordo provê uma base para compromisso entre os dois países ao oferecer concessões para ambos, embora elas não tenham sido detalhadas.

Putin vinha criticando com veemência o escudo proposto por Bush, dizendo que ele viola o TAB, assinado pelos EUA e pela União Soviética em 1972 e um dos pilares da segurança internacional. Pelo acordo de domingo, o programa do escudo seria vinculado à redução dos arsenais de ataque dos dois países.

A Rússia vinha se recusando a discutir o plano americano e ameaçava responder a ele armando seus mísseis com ogivas nucleares múltiplas, o que daria a Moscou poder de fogo suficiente para superar a capacidade de defesa de qualquer escudo.

Washington resistia à idéia de vincular o escudo de defesa a suas armas ofensivas. Bush admitia até agora apenas cortes unilaterais de seu arsenal. Mas, no domingo, ele disse que as discussões sobre os arsenais de defesa e de ataque devem caminhar juntas.

A entrevista coletiva que Putin e Bush deram após seu encontro, no Palazzo Doria Spinola, foi notável pelo tom otimista expresso pelos dois sobre as chances de haver acordo sobre uma de suas maiores divergências.

Há apenas uma semana os russos estavam condenando com veemência o bem-sucedido teste de um foguete interceptador americano projetado para fazer parte do escudo antimísseis.

O encontro bilateral de mais de uma hora reforçou a imagem de uma boa relação pessoal entre os líderes das duas maiores potências nucleares do planeta, criada no primeiro encontro dos dois, em Liubliana (Eslovênia), em junho, quando Bush disse que olhou "na alma" de seu interlocutor russo.

As discussões mais detalhadas devem começar em breve, com a assessora de Segurança Nacional de Bush, Condoleezza Rice, viajando para Moscou ainda nesta semana para estabelecer a forma dos contatos.

Além das dúvidas sobre sua viabilidade técnica, o escudo enfrenta também bastante resistência da maioria democrata (oposição) no Senado americano.