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Dito popular muda ao longo dos anos
Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
04/09/2011 | 07:07
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Pouca gente sabe, mas as expressões populares que usamos com frequência já tiveram outro significado um dia. Os especialistas explicam que as transformações ocorreram devido a uma série de fatores, como a transferência do conhecimento através da oralidade.

Um dos exemplos clássicos é ditado ‘quem tem boca vai a Roma'. Segundo estudos, o original era muito parecido, mas com um significado extremamente diferente, como ‘quem tem boca vaia Roma', forma dos romanos criticarem os governantes locais.

Os brasileiros também fizeram suas adaptações, um tanto não convencionais. Uma das mais interessantes é ‘cor de burro quando foge'. É intrigante imaginar a cor de um animal e principalmente de um burro. O escritor Marcio Cotrim, autor de uma série de livros sobre expressões populares, intitulada O Pulo do Gato, revela o verdadeiro significado. "Quando o bicho desembesta, ele fica feroz. A expressão correta é ‘corra de burro quando ele foge'", informou Cotrim.

Também existem vários erros crassos, mas que foram incorporados ao nosso dia a dia, como a expressão ‘cuspido e escarrado', usada quando uma pessoa é muito parecida com outra. A frase original, no entanto, é ‘esculpido em carrara', uma alusão à perfeição das esculturas de Michelangelo, pois carrara, um mármore italiano, era um dos materiais prediletos dele. O uso popular foi modificando a frase, conforme aponta Marcelo Duarte, no livro Guia dos Curiosos - Língua Portuguesa.

Um exemplo tradicionalíssimo é o ‘conto do vigário'. Existem várias interpretações para essa anedota, que significa enganar outro sujeito. A mais interessante é a de um vigário que, em troca de dinheiro para despesas urgentes, teria confiado a um cidadão honesto, em troca de uma quantia, um embrulho, que segundo ele, continha muito dinheiro. Na verdade, tratava-se de papel sem valor. Outra versão é que dois padres da antiga cidade mineira de Vila Rica, atual Ouro Preto, queriam ficar com uma imagem espanhola de Nossa Senhora dos Passos. Eles entraram em acordo, colocaram a estátua em cima de um burro e para qual igreja o animal levasse a imagem, ali ficaria. Depois descobriram que o vigário vencedor era o dono do burrinho.

Outro provérbio popular é o nosso ‘quem não tem cão, caça com gato'. No original, dizia-se ‘quem não tem cão caça como gato', indicando a condição de alguém que deveria fazer a caça sozinho. "Essas alterações ocorreram devido à transferência oral. Isso acontece muito, principalmente nos ditados populares e traduções", explica Marcelo Duarte.

Apenas no Brasil ‘chove canivetes', mas na Inglaterra, segundo ditado deles, cai do céu cães e gatos. A frase usada por nós foi adaptada do ditado inglês, mas o significado é o mesmo: uma baita tempestade.




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