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Testemunha da Justiça e da Paz

Dom Romero foi assassinado enquanto celebrava missa, em 24 de março de 1980

Por Yara Ferraz
24/07/2017 | 07:07
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Finalmente foi reconhecido o martírio de D. Oscar Arnulfo Romero y Galdamez, Arcebispo de El Salvador que sofreu o martírio por ódio à fé. Não foi assassinado por motivos políticos. No âmbito do anglicanismo e luteranismo isto já havia sido feito. O capitão Álvaro R. Saravia, responsável direto pela morte de Dom Romero já havia reconhecido numa entrevista, que ele foi morto por causa de sua fé. O Papa Francisco aprovou sua beatificação para grande alegria do sofrido povo salvadorenho.

Dom Romero foi assassinado enquanto celebrava missa, em 24 de março de 1980. O país estava em meio a uma sangrenta ditadura. Os que mais sofriam eram os pobres, vítimas tanto da repressão de direita como da guerrilha de esquerda. Dom Romero posicionou-se como defensor do Evangelho da vida, erguendo sua voz em defesa do povo pobre. No dia anterior havia exortado os soldados pela rádio: “Frente à ordem de matar o irmão, deve prevalecer a lei de Deus: não matarás”.

Exerceu o magistério na defesa do Direito de Deus, o único que pode dispor da vida humana. Não matarás não é mandamento que deriva em primeiro lugar de uma ética, mas de uma fé: a fé em Deus que é fonte e Senhor da vida.
Em meio à violência que dominava o país Romero optou pelo profetismo da não violência evangélica. Ficou sozinho no seguimento das bem-aventuranças e de seu lema: “Sentire cum Ecclesia”. Colocou em prática o Concílio Vaticano II que recomendou à Igreja que fizesse suas as alegrias, esperanças, angustias e lutos das pessoas (Gaudium et Spes).

Temos que convir que a fé cristã desde o começo é fé de testemunhas mais que de discursos e textos teológicos.
Por um bom tempo a causa de sua beatificação ficou bloqueada. Na discussão entre ortodoxia e a ortopraxia, quem decide? Havia suspeita de motivos ideológicos na ação de Dom Romero. Mas um assassinato como o dele não deixa margem de suspeita, a não ser por quem tem visão ideologizada. Examinando a história dos bispos martirizados como S. Tomás Becket, p. ex., que era ministro do rei da Inglaterra com o qual teve que debater pela justiça, veremos que dificilmente as ações dos homens deixam de ter algo de político, pois não são desencarnados da realidade, e a realidade é política no sentido amplo (não partidário-ideológico) e, por isso tem que se tomar partido. S. Tomás Becket escolheu estar do lado dos direitos de Deus, Dom Romero escolheu estar do lado dos pobres. Ambos escolheram estar onde Jesus estava.

Se a compreensão e formulação correta da fé é importante, sua prática o é mais ainda; pois a fé age pela caridade (Gl 5,6) sem a qual é morta (Tg 2,17). A prática explicita a fé. A primazia é do amor-charitas! O amor é o coração da cruz, portanto é o coração da identidade cristã. Os mártires expressam melhor a fé; e por isso podem ser tidos como teólogos primordiais: exprimiram-na com a vida (cf. Mt 25,38-40). Enfim, é sabido que o “sensus fidelium” (LG 12) há muito já reconhece Dom Romero como profeta e mártir do Evangelho.

A cruz de Cristo tem duas faces: por um lado o crucificado (justiça), e por outro o ressuscitado (paz). Uma face dá sentido à outra. Dom Romero afirmou dias antes de sua morte: “se me matarem, ressuscitarei no meu povo”. Aconteceu! 




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