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João Gandolfi é referência esportiva do Guapituba

Comerciante fundou dois clubes de futebol e ficou conhecido em Mauá por levar cidadania a crianças carentes

Por Vanessa de Oliveira
do Diário do Grande ABC
20/09/2014 | 07:07
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Denis Maciel/DGABC


O bar e mercearia de João Gandolfi, 63 anos, localizado na Rua Rosa Bonini Mariani, no Jardim Guapituba, em Mauá, é mais que um simples comércio. É ponto de referência por fazer parte da trajetória do bairro. Um dos motivos é o fato de estar instalado no local há 31 anos. Outra questão refere-se à tradicional queima de fogos no Réveillon, promovida desde 1991 e que, segundo o comerciante, chega a atrair até 6.000 espectadores. “É a maior fogueteira particular do Estado de São Paulo”, ressalta. Os fogos de artifício são adquiridos com a participação de 180 moradores que, mensalmente, doam R$ 10 para a realização do espetáculo pirotécnico.

Finalmente – e principalmente –, Gandolfi é conhecido por uma série de conquistas esportivas. Na prateleira onde variadas bebidas estão expostas, o comerciante reservou o topo para suas relíquias: dezenas de troféus conquistados por meio de dois times da vila, fundados por ele.

O primeiro, Esporte Clube Avenida, foi criado em 1972, quando o Jardim Guapituba ainda nem tinha esse nome. Apesar de apaixonado por futebol, a atuação era nos bastidores. “Não jogava porque era muito ruim de bola”, diverte-se ao lembrar.

Naquele tempo, a cidade promovia olimpíadas e competições que envolviam as SABs (Sociedades Amigos de Bairro). E não tinha para ninguém. “Fomos campeões das olimpíadas por três anos consecutivos e cinco vezes dos jogos das SABs”, relembra, orgulhoso.

Porém, a falta de apoio do poder público para intensificar ainda mais a atuação do clube fez com que, em 1977, o grupo encerrasse as atividades esportivas na cidade.

Em 1998, a prática voltaria ao bairro com a abertura da quadra da EE Maria Aparecida Damo Ferreira, que fica em frente ao estabelecimento de Gandolfi. Para lá ele atraiu famílias e contribuiu na retirada de crianças e jovens das ruas. Formava-se o Guapituba Futebol Clube.

Mais que esporte, a equipe praticava cidadania. “Pintávamos a escola, se quebrasse vidro, fechadura, a gente trocava”, recorda.

Com a abertura da instituição aos fins de semana, por meio do Programa Escola da Família, a quadra não pôde ser mais utilizada e, em 2003, a ação acabou. Mas uma herança foi deixada. “Falávamos para a molecada daquela época para que amasse a escola e não a destruísse nem usufruísse de maneira errada. Conseguimos educá-los e hoje, já pais, eles repassam aos filhos o que ensinamos.”

Moradores do bairro pedem mais atenção para o transporte coletivo

A fama de bairro elitizado que o Jardim Guapituba possui prejudica a oferta de transporte coletivo, segundo moradores. “Temos só uma linha. Quando levamos a reclamação à Prefeitura, dizem que aqui todo mundo tem carro e não é assim. Tem muitas pessoas que utilizam a clínica Santa Helena, na Avenida Capitão João, e precisam do transporte”, reclama o aposentado Aparecido Santana, 67 anos.

“Demora até uma hora e meia para passar ônibus”, garante Orlando da Silva, 70.

A Prefeitura de Mauá confirmou que o bairro é atendido somente por uma linha e que o intervalo programado varia de 15 a 20 minutos. A excedência disso pode ser ocasionada por problemas como trânsito e falhas mecânicas, ressalta a administração municipal.

Ainda segundo o Executivo, a demanda de usuários da Clínica Santa Helena já foi detectada e há projeto de criar um serviço de transporte para atender os deslocamentos desse público, funcionando de segunda a sexta-feira. “O transporte será feito com ônibus que seguirão direto pela Avenida Capitão João, contribuindo para desafogar a linha do Guapituba. Esse novo serviço deve ser implantado no próximo ano”, informou.

Maria Rocha dedicou a vida à Educação

Por onde passa no Jardim Guapituba, Maria Rocha Durigueto, 73 anos, ouve a pergunta: “Dona Maria, lembra de mim?”. As indagações vêm de ex-alunos da EE Maria Aparecida Damo Ferreira, localizada no mesmo bairro, onde ela trabalhou por três décadas. “Mas não lembro. Em 30 anos conheci muita gente, não tem como lembrar de todos”, fala. E foram muitas pessoas mesmo. Mais precisamente três gerações. “Na época em que trabalhava lá tinha supletivo, então, o avô estudou, depois vieram os filhos e mais adiante os netos, todos comigo.”

O ingresso na instituição se deu em 1981, quando ela assumiu, por meio de concurso público, uma vaga de servente, função exercida por cinco anos. Em seguida, passou para a inspetoria de alunos. A personalidade forte impôs respeito. “Tenho cara de brava, aliás, sou brava, então, todo mundo tinha medo de mim”, conta.

O que mais a fazia chamar a atenção dos alunos era quando fumavam nas dependências da escola. Hoje, dona Maria lamenta o cenário de várias instituições de ensino. “Agora é droga, bebida, não dá nem para comparar.”

Dona Maria atuou ainda no controle de alunos, por seis anos, e na secretaria, ficando de 1992 até 2011, quando se aposentou. “Quando fiz 70 anos, não teve jeito: tinha que me afastar pela aposentadoria compulsória, mas eu não queria me aposentar e chorava quando a diretora falava da minha saída. Por mim, estaria trabalhando até hoje”, comenta ela, completando: “Considerava a escola a minha casa e a defendia com unhas e dentes. Me sentia bem lá.”

Antes da escola, dona Maria trabalhou na roça na cidade de Caculé, na Bahia, onde nasceu. Foi também empregada doméstica e funcionária de hotel e empresas. O setor educacional contribuiu para que criasse, sozinha, os três filhos. “Meu ex-marido abandonou a família quando minha filha caçula tinha 16 dias de vida”, disse ela.

Por tantos anos, dona Maria manteve proximidade com o público que mais gosta: o infantil. Tanto que, mesmo após longo tempo de dedicação e, agora, no merecido descanso, tem um desejo. “Se ganhasse na loteria, a primeira coisa que faria seria uma creche, porque amo criança.”

Parque Ecológico é ideal para a prática de atividades

Os moradores do Jardim Guapituba têm pertinho de casa um local para se desligar da rotina e relaxar, contemplando uma paisagem natural ou fazendo alguma atividade física.

O Parque Natural Municipal Guapituba Alfredo Klinkert Júnior, localizado na Avenida Capitão João, 3.220, possui área de aproximadamente 586 mil m², na qual os frequentadores podem aproveitar o espaço do jardim de pedra, observar bromélias, araucárias, embaúbas, espécies de aves, répteis e insetos.

A estrutura conta ainda com lagos e espaço de educação ambiental, com objetos históricos da cidade, além de biblioteca. Aproximadamente 6.000 pessoas visitam o local por mês. O público que mais frequenta o parque, principalmente para caminhadas e exercícios, é composto por pessoas acima dos 30 anos. A área verde recebe visitantes para trilhas monitoradas, além de escolas municipais.

O Parque Guapituba funciona de segunda-feira a domingo, das 7h às 17h. Não é permitida a circulação de veículos automotores nem animais domésticos. Mais informações pelo telefone 4555-2931. 




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