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Ronnie Packer
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
05/01/2006 | 08:48
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Por onde anda, Ronaldo Generoso escuta a frase: "Elvis não morreu!". Pudera. Com enormes costeletas e um ajeitado topete, o andreense de 39 anos há quase duas décadas decidiu encarnar o rei do rock nos palcos. Ele se apresenta como Ronnie Packer e vai de banda completa, com metais e backing vocals, a casas noturnas e teatros sobretudo do Grande ABC.

O Diário acompanhou uma dessas apresentações. Foi a última de 2005, um sábado à noite, em novembro, no Teatro Lauro Gomes, em São Bernardo. A casa estava lotada. Teve até fila na porta, e gente que desembolsou R$ 30 ou R$ 15 (meia entrada) para ver o cover tupiniquim de Elvis.

Os espectadores – famílias inteiras, casais e grupos de amigos – estavam entusiasmados. Pareciam até certos de que veriam o próprio Elvis em São Bernardo, afirmando: "Não, eu não morri!". E quando Ronnie entrou, com uma réplica da famosa roupa branca, delírio. Mas, às primeiras palavras ao microfone, ôpa! Cadê o vozeirão?

Levou algum tempo – metade do show, mais ou menos – até que ele mostrasse o quanto seu canto se aproxima da voz do ídolo. Enquanto isso, a platéia parecia não se importar. Ronnie interpretava sucessos, imitava todos os trejeitos do Elvis pós-70 e até arriscava conversar um pouco com a platéia com um inglês milimetricamente decorado. Quando começou a distribuir echarpes na platéia, o público ficou ouriçado. Uns gritavam, estendiam os braços, e uma moça chegou ao ponto de caminhar até Ronnie e suplicar: "Please..." Em inglês mesmo!


Foram mais de duas horas de show, numa seqüência cheia de altos e baixos e até com interrupção para agradecimentos. Além de sucessos, Ronnie apresentou uma pequena pérola: a bossa nova Almost in Love, composta por Luiz Bonfá especialmente para ele nos anos 60.

Idolatria – Para parte do público, a seqüência do repertório pode soar estranha, confusa. Ou o espetáculo pode parecer um pouco longo. Há quem só rasgue elogios, como os participantes da comunidade do cover no Orkut. Ronnie tem a explicação na ponta da língua: "Não posso cantar My Way sem antes interpretar Burnin‘ Love. Era assim que o Elvis fazia". A base para suas performances são as apresentações dos anos 70 em Los Angeles, no Madison Square Garden e no Aloha From Hawaii.

Isso significa que Ronnie persegue a semelhança nos mínimos detalhes: "Quando ele canta Can’t Help Falling in Love, erra a letra e dá risada. Eu faço o mesmo". E o repertório só não é menor porque dói o coração de Ronnie ter de limar uma ou outra canção, das 32 que costumeiramente leva ao palco. "Não dá. É paixão mesmo. Para mim, parece que são só 15 minutos".


Tudo é uma pura viagem para Ronnie que, para construir seu Elvis, sempre fez tudo sozinho, em casa. Para aprender os movimentos, assistia às fitas de vídeo dos shows e imitava o cantor, olhando-se num espelho. Além disso, fez quatro anos de teatro na escola de Emílio Fontana e até freqüentou aulas de karatê.

Os quatro figurinos que usa foram desenhados pelo próprio Ronnie. Os macacões foram confeccionados por um alfaiate de São Bernardo e as pedras, coladas pelo cantor. Os bordados ficaram sob responsabilidade da mãe, Ana. O custo de cada uma passa de R$ 1 mil. Até as echarpes distribuídas no show – em média 25 por apresentação – vêm de uma produção artesanal.


Cantar é algo bem mais antigo. Ronnie, ou melhor, Ronaldo, tinha como brincadeira preferida na infância cantar empunhando cabo de vassoura, como se fosse um pedestal. De preferência, imitava Elvis, cuja imagem nem conhecia. "Só o ouvia no rádio. Não tínhamos TV", diz.

Filho de um saxofonista e clarinetista da orquestra de Osmar Milani, o menino logo foi incentivado a dar vazão a seu dom. Assim, em 1974, venceu seu primeiro concurso de calouros infantis. O garoto passou a participar de diversas competições, inclusive na TV, no antigo concurso do programa do Raul Gil, na Record, Band, Globo e na rádio Diário do Grande ABC.

Naquela época, adotava o repertório de Roberto Carlos, Paulo Sérgio, Antonio Marcos e Odair José. "Não deixavam as crianças cantarem em inglês", justifica. Elvis mesmo, ele só foi ver pela primeira vez por meio do filme Feitiço Havaiano. Aí, não parou mais. "Ele dizia que um dia faria show do Elvis, em teatro. Eu falava:‘Está ficando maluco’", diz a mãe.

Ronaldo teve várias bandas na adolescência e até ganhou um espaço na mídia ao fazer as vozes de Charlotte Church e Agnaldo Rayol em Tormento D‘Amore, tema da novela Terra Nostra. Mas foi só em 1998, quando perdeu o emprego na CTBC que decidiu viver só de Elvis. Hoje, faz cerca de 15 eventos por mês – seja em festas, casamentos ou shows em teatros. No próximo dia 12, às 20h, ele se apresentará com a banda Extasis – sem coral e metais – na Chopperia Samambaia, em Santo André (r. Senador Fláquer, 830. Tel.: 4990-2908. Ingr.: R$ 10)

Antes de subir ao palco, certamente repetirá o ritual que antecede todas as suas apresentações: "Eu me ajoelho, rezo e ofereço a ele o show. Elvis é muito importante para mim. É como um ente querido que se foi".




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